Dom, 07 de Dezembro

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VETADOS

Secretário de Trump retira 380 livros de biblioteca com temas como Holocausto, racismo e feminismo

Remoção faz parte de esforço mais amplo do governo para banir conteúdos sobre diversidade, equidade e inclusão de agências federais

Secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete HegsethSecretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth - Foto: WOJTEK RADWANSKI / AFP

O governo do presidente americano Donald Trump retirou 381 livros da biblioteca da Academia Naval dos Estados Unidos como parte da sua ofensiva contra conteúdos relacionados à diversidade, equidade e inclusão (DEI, na sigla em inglês).

A ordem partiu do gabinete do secretário de Defesa, Pete Hegseth, um dos principais nomes por trás da política de “limpeza ideológica” nas Forças Armadas americanas.

Entre os livros vetados estão "Meio americano" (sobre afro-americanos na Segunda Guerra Mundial), "Uma mulher respeitável" (sobre o papel público das mulheres negras no século XIX), e "Perseguindo Trayvon Martin", que discute o assassinato do jovem negro em 2012 e debate o racismo estrutural nos EUA.

Também foi removida da biblioteca a autobiografia "Eu sei por que o pássaro canta na gaiola", da escritora e ativista Maya Angelou. Angelou, que morreu em 2014, é uma das autoras mais importantes da literatura afro-americana e referência na luta pelos direitos civis nos Estados Unidos.

A lista de livros foi divulgada pela Marinha na sexta-feira e faz parte de uma iniciativa mais ampla do governo Trump para eliminar conteúdos considerados “ideológicos” de instituições federais.

Isso inclui escolas, sites oficiais, programas educacionais e agora, também, bibliotecas militares. A filtragem foi feita por meio de buscas por palavras-chave no catálogo da biblioteca Nimitz. A triagem inicial identificou cerca de 900 obras, das quais quase 400 foram removidas.

Embora o decreto assinada por Trump em janeiro tenha vetado conteúdos sobre diversidade apenas em escolas públicas do ensino básico, o Pentágono decidiu aplicar as diretrizes também nas academias militares. A remoção dos livros aconteceu dias antes da visita do próprio Hegseth à instituição, embora o governo afirme que as duas ações não estariam diretamente conectadas.

Um oficial do governo, sob condição de anonimato, revelou à agência americana Associated Press que a academia foi orientada “no fim da semana passada” a conduzir a revisão.

— Não está claro se a ordem partiu diretamente de Hegseth ou de sua equipe — afirmou à AP.

Os livros vetados incluem temas historicamente perseguidos por governos autoritários, como identidade de gênero, sexualidade, papel das mulheres e violência racial. Há ainda obras sobre o movimento feminista, a Ku Klux Klan, o tratamento de mulheres em países islâmicos e a representação de gênero e raça na arte.

A medida vem recebendo críticas de parlamentares e defensores da liberdade acadêmica, que denunciam censura e perseguição ideológica dentro das instituições públicas dos Estados Unidos.

Nos bastidores, servidores do Departamento de Defesa relataram incômodo com o rigor da campanha. Uma das críticas mais comuns, segundo relatos ouvidos pela AP, é que a exclusão de conteúdos históricos pode distorcer a formação dos cadetes.

Ainda assim, o Pentágono vem executando a diretriz com firmeza. O Departamento de Defesa afirmou que as academias militares estão "comprometidas em executar e implementar os decretos do presidente".

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