Dom, 07 de Dezembro

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EUA

Trump elogia Musk e busca afastar rumores de conflito em coletiva de saída do bilionário do governo

Aparição pública conjunta ocorre após semanas de tensões

Elon Musk e Donald Trump apertam as mãos durante entrevista coletiva de imprensa na Casa BrancaElon Musk e Donald Trump apertam as mãos durante entrevista coletiva de imprensa na Casa Branca - Foto: Kevin Dietsch/Getty Images North America/AFP

Seis meses após Donald Trump anunciar o nome de Elon Musk como escolhido para chefiar o inédito Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla original em inglês), o bilionário encerra nesta sexta-feira seu curto — porém turbulento — período no cargo. Em entrevista coletiva marcada para oficializar a saída de Musk do governo, Trump elogiou seu maior financiador de campanha e buscou afastar qualquer ideia de rompimento conturbado, após rumores de tensão e a recente revelação da suposta relação do empresário com drogas durante a corrida presidencial.

— Elon na verdade não está saindo — disse Trump, acrescentando que Musk deverá voltar ao governo. — Vamos nos lembrar de você.

A declaração já havia sido feita pelo presidente na noite de quinta-feira, quando ele escreveu nas redes sociais: “Esse será seu último dia, mas não de verdade, porque ele sempre estará conosco, ajudando em tudo. Elon é sensacional!”.

A aparição pública conjunta ocorre após semanas de tensões entre os dois. Musk, o maior doador da campanha de reeleição de Trump, anunciou que não fará mais contribuições políticas e criticou a principal proposta fiscal do governo, chamada pelo republicano de “grande e belo projeto de lei”, que prevê cortes de impostos e gastos. Em entrevista à emissora americana CBS, a ser exibida no fim de semana, o sul-africano disse estar “decepcionado” com a medida e ironizou a proposta:

— Acho que um projeto pode ser grande ou pode ser belo, mas não sei se pode ser os dois ao mesmo tempo — afirmou, acrescentando: — Não é como se eu concordasse com tudo o que o governo faz, há coisas com as quais não concordo inteiramente. É difícil para mim abordar isso em uma entrevista porque isso cria um ponto de atrito. Estou preso em um dilema: não quero me manifestar contra o governo, mas também não quero assumir responsabilidade por tudo o que o governo está fazendo.

Musk, CEO da Tesla e da SpaceX, pareceu ecoar as preocupações de alguns republicanos da Câmara e do Senado que acreditam que o projeto é caro demais e exigem mais cortes de gastos. Para o bilionário, a proposta enfraquece o trabalho do Doge, iniciativa que foi confiada a ele pelo próprio Trump. No início do mês, o sul-africano já havia admitido que não conseguiu alcançar suas metas originais para o órgão.

Ao todo, o Doge tinha como meta cortar US$ 2 trilhões em gastos públicos. Até agora, porém, só US$ 175 bilhões em supostas economias foram anunciados — dos quais apenas 42% estão documentados. Apesar disso, o programa teve efeitos concretos: algumas agências federais foram extintas e dezenas de milhares de servidores foram demitidos ou incentivados a aderir a planos de desligamento voluntário. O Congresso deve decidir, nas próximas semanas, se os cortes serão mantidos.

O bilionário se aproximou do núcleo duro de Trump após investir centenas de milhões de dólares para ajudar a eleger o presidente. Em troca, ganhou ampla autonomia para cortar programas do governo à frente do Doge. Tornou-se presença constante ao lado de Trump: viajava com ele no Air Force One, participava de reuniões com líderes estrangeiros e até concedia entrevistas conjuntas.

Mas Musk também acumulou relações conturbadas com membros do Gabinete presidencial e assessores seniores da Casa Branca. Entrou em confronto com ministros sobre gastos e nomeações, e espalhou temor em Washington com sua disposição de usar o X para atacar críticos. Irritou autoridades — inclusive o próprio presidente — ao tentar obter um briefing sigiloso sobre a China no Pentágono, o que Trump só descobriu ao ler uma reportagem do New York Times.

Musk ocupava o posto como funcionário especial do governo, o que permitia até 130 dias de trabalho sem a exigência de se desfazer de seus negócios privados. Nesta sexta, o limite se completa. O empresário de 53 anos, porém, já havia sinalizado que se afastaria da função para dedicar mais tempo à Tesla, que enfrenta queda nas vendas e no valor das ações desde dezembro. Em abril, após Musk avisar que sua dedicação ao Doge “cairia significativamente”, suas ações começaram a se recuperar.

A saída ocorre num momento crítico para os negócios do bilionário. A Tesla planeja lançar carros totalmente autônomos e um serviço de robotáxis em junho. Já a SpaceX, outra empresa de Musk, enfrentou mais um revés nesta semana, com um foguete que perdeu o controle e se desintegrou na atmosfera. A xAI, sua companhia de inteligência artificial recém-fundida com o X, também enfrenta forte concorrência no setor.

O principal braço-direito de Musk no Doge, Steve Davis, também deixou o cargo na quinta-feira. Davis é o diretor-executivo da Boring Co., a empresa de túneis de Musk.

 

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