Alvo da PF em operação sobre emendas, Júnior Mano informou ao TSE ter tido redução de patrimônio
Diminuição de valores de bens declarados teria acontecido entre primeiro e segundo mandato na Câmara
O deputado federal Júnior Mano (PSB-CE), alvo de uma operação da Polícia Federal (PF) deflagrada ontem, registrou uma redução de seu patrimônio em quatro anos, segundo valores declarados por ele à Justiça Eleitoral.
A diferença se deu entre os anos de 2018, quando concorreu ao Legislativo Federal pela primeira vez, e 2022, ao se candidatar para o segundo mandato. A informação foi divulgada pelo jornalista Guilherme Amado, do portal PlatôBr, e confirmada pelo GLOBO a partir de dados da plataforma Divulgacand.
Ao disputar por uma cadeira na Câmara em 2018, pelo Patriota, ele declarou mais R$ 2,1 milhões em bens, sendo R$ 400 mil correspondentes ao valor pago por um apartamento, R$ 65 mil por três por outros terrenos, R$ 65,9 mil por um consórcio não contemplado e R$ 200 mil por um veículo. A maior parte do patrimônio, por sua vez, dizia respeito a gastos com investimentos, como R$ 1,4 milhão com quotas empresariais e R$ 17 mil direcionados a "outras aplicações".
Já em 2022, quando disputou pelo PL, Júnior Mano informou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que possuía R$ 371 mil em bens, correspondendo R$ 20 mil a uma quota de dinheiro em espécie, R$ 40 mil por participação na empresa GJM Distribuidora Ltda., voltada para o comércio atacadista de produtos alimentícios, além de R$ 311 mil por um carro do modelo Hillux do ano de 2019.
Emendas parlamentares encaminhadas por ele no ano passado entraram na mira da PF, que realizou mandados de busca e apreensão em endereços ligados a ele em Brasília e em Fortaleza, além de outras quatro cidades no Ceará nesta terça-feira.
O Supremo Tribunal Federal (STF) também determinou o bloqueio de R$ 54,6 milhões em contas bancárias de investigados, entre pessoas físicas e jurídicas. O caso está sob a relatoria do ministro Gilmar Mendes e tem apoio da Controladoria-Geral da União (CGU).
Em nota, a assessoria do deputado negou qualquer irregularidade e afirmou que, no fim da investigação, a "sua correção de conduta" será "reconhecida". O comunicado ainda diz que o parlamentar não tem qualquer ingerência em atos administrativos relacionados a prefeituras do Ceará.
"[Ele] não tem qualquer participação em processos licitatórios, ordenação de despesas ou fiscalização de contratos administrativos. Como parlamentar, o deputado não exerce qualquer função executiva ou administrativa em prefeituras, não participa de comissões de licitação, ordenação de despesas ou fiscalização de contratos administrativos", diz o texto, acrescentando que Mano "reitera seu compromisso com a legalidade, a transparência e o exercício probo da função pública". Ele foi o segundo deputado mais votado do Ceará no último pleito.
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Entenda a investigação contra o deputado Júnior Mano
Segundo um relatório encaminhado pelos investigadores à Justiça, Júnior Mano desempenhava "papel central" em um suposto esquema de "manipulação de pleitos eleitorais, tanto por meio da compra de votos, quanto pelo direcionamento de recursos públicos desviados de empresas controladas pelo grupo criminoso".
A investigação teve início a partir de uma denúncia de uma ex-prefeita de Canindé (CE), feita durante a campanha eleitoral do ano passado. Em depoimento ao Ministério Público, ela afirmou que havia um esquema de compra de votos na cidade.
O grupo responsável por aliciar eleitores, segundo ela, era comandado por Carlos Alberto Queiroz, conhecido como Bebeto do Choró, que era candidato à reeleição na cidade de Choró (CE), distante 73 quilômetros do seu município. Bebeto foi reeleito, mas não chegou a assumir o cargo e está foragido.
A então prefeita tentava fazer o sucessor em Canindé, enquanto o grupo denunciado buscava emplacar outro candidato, que foi eleito de fato. Em depoimento, a ex-prefeita disse que os recursos para financiar a campanha do grupo adversário tinham como origem licitações e emendas parlamentares. Ela também relatou que o grupo trabalhava junto com o deputado Júnior Mano. Segundo a ex-prefeita, o grupo desviava recursos de contratos públicos formalizados por meio de empresas de fachada e laranjas.
Em setembro de 2024, a polícia apreendeu quase R$ 600 mil com um policial militar que supostamente integrava o grupo. As declarações da ex-prefeita de Canindé constam no inquérito policial que tramita na Justiça Eleitoral do Ceará e deram sustentação a duas operação da PF ocorridas em outubro e dezembro do ano passado.
Na primeira operação, a PF apontou que as investigações evidenciaram "a existência de um esquema estruturado e hierarquizado, liderado Bebeto, com o propósito de influenciar de forma ilícita o processo eleitoral em diversas localidades, sobretudo nos municípios de Canindé e Choró".

