Armando Filho: a ética e elegância de um conciliador nato
Sem deixar de lado o espírito combativo, Armando se destacou por ser um homem que conseguia dialogar com políticos de ideologias diversas
Em um momento no qual a política foi devastada por uma crise representativa e ética sem precedentes, a referência de homens públicos que marcaram positivamente a sua história, funciona como âncora à procura de um chão firme para guiar a busca de novos rumos. É, justamente, no momento em que mais precisa de suas referências, que Pernambuco e o Brasil se despedem de um de seus filhos mais combativos e fiéis, o ex-ministro Armando de Queiroz Monteiro Filho.
O perfil conciliador, sempre em busca de solução para conflitos, a vida coerente e a integridade marcaram a vida de uma liderança que, em um País dividido, conseguiu unir políticos de diferentes ideologias e projetos em um único pesar.
Em suas mais de nove décadas de existência, Armando se dividiu nas funções de pai de uma grande família, empresário renomado e o eterno espírito político. Todas exercidas com a delicadeza e elegância que viraram suas marcas registradas, mas sem deixar de lado o espírito de luta e combativo com que sempre encarou seus desafios em defesa de Pernambuco e do Brasil.
Primeiros passos
Armando de Queiroz Monteiro Filho nasceu no dia 11 de setembro de 1925, no Recife. Era o primogênito do casal Maria José Dourado Monteiro e Armando de Queiroz Monteiro, que teve outros quatro filhos: Maria de Lourdes, José Múcio, Graça Maria e Rômulo. Representante de famílias de usineiros, Armandinho (como era chamado) foi um menino de engenho que cresceu junto à natureza, em várias localidades da Zona da Mata Sul pernambucana.
Adolescente, o jovem Armando fez o ginasial e o complementar (equivalente ao ensino médio) no Colégio Oswaldo Cruz, no Recife. Foi quando conheceu uma das suas grandes paixões na vida: o futebol. Habilidoso, foi convocado para jogar no juvenil do Sport Club do Recife, seu time do coração, e, em seguida, se destacou e foi convocado para a seleção universitária. O desempenho nas quatro linhas acabou rendendo um convite do técnico do São Paulo Futebol Clube para defender as cores do Tricolor Paulista, mas o chamado não teve a aprovação familiar, encerrando a sua carreira esportiva.
A paixão pelo futebol deu espaço para as obrigações do serviço militar, quando ingressou no CPOR. Ao seguir a vida acadêmica, formou-se na Escola de Engenharia da Universidade do Recife (hoje UFPE), fez Engenharia Industrial (Mecânica) e formou-se na turma de 1948, profissão que começou a exercer nas empresas da família.
Família
Um dos grandes marcos da sua vida foi o encontro com a esposa Maria do Carmo de Godoy Magalhães, companheira de todas as horas, com a qual foi casado por 68 anos. O namoro com a filha caçula do governador Agamenon Magalhães começou na festa da posse do governador Barbosa Lima Sobrinho. Namoro e noivado aconteceram em curto espaço de tempo.
O casamento se realizou no dia 17 de setembro de 1949, no Rio de Janeiro, onde residia o pai da noiva que, à época, era deputado federal. O casal fixou residência no Recife, onde formou sua família.
Vida pública
A vocação pela política surgiu desde cedo. Universitário, em 1943, participou ativamente da política estudantil, presidiu o Diretório Acadêmico da Escola de Engenharia. Nessa trajetória da política acadêmica, foi eleito para a presidência da União dos Estudantes de Pernambuco e da União Nacional dos Estudantes (UNE), em 1946.
A passagem da carreira na política estudantil para a partidária foi marcada pela candidatura a deputado estadual pelo PSD, em 1950, e, em seguida, pela sua nomeação para a secretaria estadual de Viação e Obras Públicas, quando desenvolveu o plano de pavimentação das rodovias-tronco do Estado. Em 1954, foi eleito deputado federal pelo PSD, o mais votado de Pernambuco, e em 1958 foi reeleito.
Mas foi em 1961 que Armando atuou em uma das mais críticas encruzilhadas da história brasileira - a renúncia do presidente da República, Jânio Quadros. Foi quando uma séria crise política entre setores militares e civis se instalava, que o então deputado trabalhou pela instalação de um regime parlamentarista como saída conciliatória para garantir o mandato do vice-presidente João Goulart.
Sua atuação em busca de um acordo nacional resultou no convite para ser ministro da Agricultura da fase parlamentarista do Governo Goulart, cujo primeiro-ministro foi Tancredo Neves. Desafio encarado com apenas 36 anos pelo jovem político. O curto período de 11 meses em que ficou no cargo foi suficiente para deixar marcas importantes como: o Fundo Agropecuário, a política do trigo, o novo Código Florestal e um projeto de Reforma Agrária.
Em 1962, ele candidatou-se ao Governo do Estado pelo PSD, mas foi vencido por Miguel Arraes e João Cleofas de Oliveira. A decisão resultou da convicção que o PSD deveria ter um candidato escolhido entre os seus filiados, embora o partido tenha se dividido: o grupo liderado por Paulo Guerra apoiou Arraes, enquanto os Coelho apoiaram Cleofas. Em 1966, filiou-se ao Movimento Democrático Brasileiro e no ano seguinte se candidataria ao Senado. As dificuldades, no entanto, nunca foram obstáculo para Armando e o gosto pela política sempre prevaleceu.
Carreira empresarial
Ao terminar o segundo mandato de deputado federal, voltou aos negócios da família (Usina Cucaú, Fiação e Tecelagem Ribeirão e Capri). Fez uma grande transformação na Fiação e Tecelagem Ribeirão, trocando velhos equipamentos por novas máquinas.
Na década de 1960, começou a investir no segmento de automóveis (Sael). No período, com a participação do irmão Rômulo, fundou o Banco Mercantil de Pernambuco e várias firmas a ele ligadas. É também desta época a aquisição da Noraço S/A - Indústria e Comércio de Laminados e a Fives Lille Industrial do Nordeste S/A - Finor (AL). Na década de 80, junto com um sócio, adquiriu a Destilaria Gameleira (MT).
Nos últimos anos, presidiu a AMF-Empreendimentos e Participações S/A, foi diretor presidente da Mercantil Empreendimentos e Participações S/A, da Noraço S/A, da Fives Lille, e do Conselho de Administração da Editora Folha de Pernambuco, empresa proprietária do jornal Folha de Pernambuco, Rádio Folha FM 96,7 e PortalFolhaPE, além de Conselheiro do Instituto Cidadania.

