Caso Marielle: ex-titular da Delegacia de Homicídios, Giniton Lages é alvo de busca e apreensão
Três foram presos na manhã deste domingo, entre eles irmãos Brazão e ex-chefe de Polícia Civil do Rio
O delegado Giniton Lages, que ficou à frente do caso Marielle na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) logo no início das investigações, é um dos alvos de mandados de busca e apreensão na manhã deste domingo. A ação é da Polícia Federal, com apoio do Ministério Público do Rio, por meio da Força-Tarefa do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado para o caso Marielle Franco e Anderson Gomes (GAECO/FTMA), e a Procuradoria-Geral da República.
Foram presos nesta manhã Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Chiquinho Brazão, deputado federal do Rio de Janeiro, e Rivaldo Barbosa, ex-chefe de Polícia Civil do Rio, suspeitos de serem os mandantes do crime, que ainda culminou na morte do motorista da parlamentar, Anderson Gomes. Equipes cumprem mandados de prisão contra os três alvos. A Polícia Federal cumpre ainda 12 mandados de busca e apreensão contra os supostos mandantes dos homicídios. Investigadores estão nas sedes da Polícia Civil do Rio, do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e da Câmara dos Deputados, em Brasília.
Os nomes dos suspeitos de serem os mandantes foram apontados na delação do ex-PM Ronnie Lessa, apontado como autor dos disparos. O fato de um deles ter mandato de deputado federal teria tornado necessário que a delação fosse enviada para o Supremo Tribunal Federal, onde foi homologada na última terça-feira.
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Marielle foi executada em 14 de março de 2018, aos 38 anos, ao ser atingida por quatro disparos no rosto. Ao deixar a Casa das Pretas, na Rua dos Inválidos, no Centro do Rio. Ao passar pelo bairro Estácio, na região central da cidade, o carro em que estava foi alvo de tiros disparados por um veículo que emparelhou. A vereadora e o motorista Anderson morreram ao serem atingidos. A assessora da parlamentar, Fernanda Chaves, é a única sobrevivente.
O deputado federal Chiquinho Brazão (União Brasil), irmão do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Domingos Brazão, exerceu o cargo de secretário municipal de Ação Comunitária da prefeitura do Rio até fevereiro deste ano, quando pediu exoneração após surgirem os primeiros rumores sobre sua possível participação no crime.
Chiquinho ficou apenas quatro meses à frente da pasta antes de reassumir seu mandato na Câmara dos Deputados, em Brasília. O fato de ele ter o mandato de deputado federal seria a motivação para que a delação de Lessa tenha sido enviada para o Supremo Tribunal Federal, onde foi homologada na última terça-feira.
Domingos Brazão foi citado no curso das investigações anos antes de aparecer nas delações de Élcio de Queiroz e de Ronnie Lessa, a mais recente. Em 2019, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) acesso à investigação do assassinato da vereadora e de seu motorista para apurar se havia "indícios de autoria intelectual" por parte de Domingos. O pedido foi para apurar se ele teria usado a estrutura de seu cargo público para obstruir as investigações do caso. À época, ele classificou de "absurda" a acusação.
Os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão convivem há tempos com polêmicas e denúncias em torno de suas atividades político-empresariais no Rio. Ao longo de seus 25 anos de vida pública, Domingos coleciona envolvimento em suspeitas de corrupção, fraude, improbidade administrativa, compra de votos e até homicídio.
O ex-chefe da polícia Rivaldo Barbosa também foi preso na operação deste domingo, como alvo da operação deflagrada pela PF em busca dos supostos mandantes. Barbosa tomou posse como chefe da Polícia Civil do estado em março de 2018. Ele foi escolhido para o cargo pelo general Richard Nunes, na época secretário de Segurança Pública e o interventor federal general Walter Souza Braga Netro. No período, o Rio estava sob intervenção federal.
Foi Rivaldo quem levou ao delegado da DH a informação de que os delegados da Polícia Federal teriam conseguido achar uma suposta testemunha do caso, o então policial militar Rodrigo Ferreira, o Ferreirinha. Mas a versão era falsa, como ficou confirmado, 10 meses depois, numa apuração paralela da Polícia federal, que ficou conhecida como "investigação da investigação".

