Em visita a Bolsonaro na PF, Flávio diz que pai aceitou dosimetria restrita a réus do 8/1
Partido do ex-presidente negocia redução de pena de ex-presidente
O senador e pré-candidato à Presidência Flávio Bolsonaro (PL-SP) visitou o pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, na manhã desta terça-feira, na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília, dentro da janela de visitas autorizada entre 9h e 11h. O encontro durou cerca de 30 minutos e ocorreu antes da chegada da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que esteve no local mais tarde, sem sobreposição entre os dois.
Na saída, Flávio falou com a imprensa e usou a visita para reforçar o papel de porta-voz político do pai. Segundo ele, Jair Bolsonaro teria acompanhado de perto a discussão sobre a dosimetria e orientado aliados a aceitarem uma versão mais restrita do projeto, limitada aos réus dos atos de 8 de janeiro.
— Independentemente da redação, se colocar pessoas como a Débora do Batom em casa, próximas da família, ainda que numa semiliberdade, ele já se sentiria menos triste aqui dentro. Isso já ajudaria ele a aguentar o tranco por mais um tempo — afirmou.
Apesar da declaração do senador em prol da restrição, o PL tenta negociar a inclusão de Bolsonaro na redução. Flávio relatou ter levado ao pai a repercussão do projeto no Congresso e disse que a reação foi positiva.
— Ele mostrou mais uma vez que coloca o interesse do Brasil e de outras pessoas inocentes à frente do próprio interesse político — disse. — Mesmo preso, ele continua pensando no país e em quem sofreu injustiça — completou.
O senador também descreveu o estado emocional do ex-presidente e fez questão de afastar qualquer imagem de abatimento.
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— Estava bem hoje, graças a Deus. Sem soluços, mais animado, bem-humorado. O Jair Bolsonaro que eu conheço, que passa tranquilidade e segurança, está sendo um gigante aqui dentro.
Boa parte das declarações, no entanto, foi dedicada à situação de saúde de Jair Bolsonaro. Flávio afirmou que exames recentes identificaram duas hérnias e acusou o Judiciário de retardar, de forma injustificada, a autorização para uma cirurgia.
— O médico pediu a cirurgia e, por incrível que pareça, há uma desconfiança até da palavra do médico. Pediram perícia, fizeram exame de imagem e descobriram outra hérnia — relatou. — É uma emergência real, para evitar uma cirurgia muito mais agressiva depois — disse.
Em tom mais duro, o senador atacou o relator do processo, o ministro Alexandre de Moraes:
— O que parece é que querem matar o Bolsonaro aqui onde ele está. É um risco de saúde real, grave — afirmou. — Eu peço que volte o bom senso, que se pare de menosprezar a necessidade de cuidar da saúde dele — completou.
A visita ocorre em meio a uma disputa interna no bolsonarismo. O lançamento antecipado da pré-candidatura de Flávio acirrou resistências no entorno da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, cujo nome vinha sendo estimulado por dirigentes do PL, lideranças evangélicas e setores do Centrão como alternativa eleitoral para 2026. Nos bastidores, aliados relatam que o fato de Flávio e Michelle terem visitado Bolsonaro em horários distintos reforça a percepção de distanciamento político entre os dois campos.
Entre dirigentes do Centrão, a leitura predominante é a de que a pré-candidatura de Flávio funciona, por ora, como um instrumento de pressão e negociação. A expectativa majoritária é de que o senador permaneça em cena enquanto for útil para manter o bolsonarismo coeso e elevar o valor político do espólio de Jair Bolsonaro, hoje o principal ativo simbólico do grupo.
Jair Bolsonaro cumpre pena de 27 anos e três meses de prisão na sede da Polícia Federal, em Brasília, após condenação no processo que apurou a trama golpista. A defesa do ex-presidente tenta viabilizar uma cirurgia ainda nesta semana, depois de exames apontarem a presença de duas hérnias na região abdominal, condição que, segundo os advogados, decorre das complicações da facada sofrida durante a campanha eleitoral de 2018.

