Dom, 28 de Dezembro

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Política

Fux apresenta divergências durante julgamento e critica delação de Mauro Cid

Defesa de Jair Bolsonaro disse que vê 'luz no fim do túnel' com posições de magistrado

Ministro Luiz Fux em julgamento Ministro Luiz Fux em julgamento  - Foto: Fellipe Sampaio /STF

O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal ( STF), divergiu em pelo menos três ocasiões dos demais integrantes da Primeira Turma durante o julgamento que pode tornar réus o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete acusados de envolvimento na trama golpista.

Durante a sessão, o magistrado também criticou a delação do colaborador Mauro Cid, o que foi visto como uma "luz no fim do túnel" por advogados de Bolsonaro.

Fux concordou, por exemplo, com o pedido de defesas para que o caso fosse julgado por instâncias inferiores ou, caso fosse mantido na Corte, analisado pelos onze ministros do Supremo, e não pela Primeira Turma. Nesse tema, porém, foi voto vencido. Além de Fux, fazem parte da Primeira Turma os ministros Alexandre de Moraes, relator do caso; Cármen Lúcia; Cristiano Zanin; e Flávio Dino.

— Ou nós estamos julgando pessoas que não exercem função pública, e não têm prerrogativa de foro no Supremo, ou estamos julgando pessoas que têm essa prerrogativa, e (nesse caso) o local correto seria efetivamente o plenário do Supremo Tribunal Federal — afirmou Fux durante seu voto.

O ministro discordou ainda do argumento de colegas de que a Primeira Turma deveria julgar Bolsonaro e ex-integrantes do alto escalão de seu governo porque foi o colegiado que condenou mais de 400 demais envolvidos na trama golpista do 8 de Janeiro.

— O fato de que há inúmeras ações que já foram julgadas assim decorre do fato de que o número de partes envolvidas nesse processo é multitudinário. (...) A questão do número de ações que já foram julgadas não impede que amanhã ou depois se reflita sobre essa questão — disse Fux.

Embora tenha votado com os demais ministros contra o pedido para anular da delação de Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Fux criticou o fato de o militar ter feito nove depoimentos em sua delação.

— Nove delações representam nenhuma delação (...). Não tenho a menor dúvida de que houve omissão (de Cid). Tanto houve omissão que houve nove delações — afirmou Fux.

O ministro entendeu que não há razão, ainda, para decretar a nulidade da delação neste momento do processo. Mas ressaltou que Cid será ouvido ao longo de eventual ação penal sobre a coerência das informações prestadas.

— Vejo com muita reserva nove delações de um mesmo colaborador, cada hora acrescentando uma novidade. Em se tratando deste momento, eu me reservo o direito de avaliar, no momento próprio, a legalidade e a eficácia dessas delações sucessivas, mas acompanho (o voto do relator) no sentido de que não é o momento de se decretar a nulidade — salientou Fux.

A defesa de Bolsonaro teve todos os requerimentos negados pela Primeira Turma do STF nesta terça-feira. Mas a fala de Fux de que houve omissão na delação do tenente-coronel Mauro Cid foi comemorada.

— É uma luz no fim do túnel. Ficou claro que teve omissões. Nove depoimentos — afirmou o advogado Daniel Tesser, que integra a equipe jurídica de Bolsonado comandada por Celso Vilardi.

Ao sair do Supremo, Vilardi afirmou que os ministros da Corte “inovaram” em não dar acesso à integralidade das provas.

— Em 34 anos (de exercício da advocacia), eu nunca tinha visto não ter oportunidade de verificar as mídias — disse o criminalista.

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