Imprensa internacional repercute prisão de Carla Zambelli: "Uma das musas do bolsonarismo"
Deputada é condenada por falsidade ideológica e invasão de dispositivo informático ao invadir o sistema do CNJ
A prisão da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), nesta terça-feira, ganhou repercussão na imprensa internacional. A parlamentar está na Itália, foragida há dois meses, e havia sido incluída na lista vermelha da Interpol — o que a tornou procurada em 196 países.
Ela foi condenada a uma pena de dez anos de reclusão por falsidade ideológica e invasão do sistema eletrônico do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Veículos estrangeiros definiram Zambelli como um símbolo do bolsonarismo, destacando que ela chegou a ser "uma das estrelas brilhantes da ala mais radical" dos conservadores.
O jornal El País, da Espanha, destacou que Zambelli contratou um hacker para invadir os sistemas do CNJ e emitir um mandado de prisão falso contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). "O juiz é o inimigo número um da extrema direita brasileira", definiu.
"O documento (mandado de prisão) parecia uma piada de adolescente: trazia a assinatura do juiz e frases debochadas como 'sem me explicar, porque sou como um deus do Olimpo'. O mandado de prisão parecia a birra final de uma trama muito mais séria e frustrada", ressaltou o veículo.
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Ainda conforme o El País, as chances da parlamentar permanecer na Itália "são mínimas", já que ela não tem "vínculos pessoais ou profissionais" no país. "Zambelli atravessa um dos momentos mais delicados de sua vida pessoal e política, mas, até recentemente, era uma das estrelas brilhantes da ala mais radical do conservadorismo brasileiro".
O jornal lembrou a acusação de porte ilegal de arma após a deputada perseguir um esquerdista armada em São Paulo, na véspera do segundo turno das eleições de 2022. Além disso, também destacou os ataques às urnas eletrônicas, que têm sido usadas no Brasil "desde a década de 1990, sem problemas".
"Apesar de ser uma das musas mais reconhecidas do bolsonarismo, o próprio Bolsonaro a desmentiu publicamente há alguns meses", afirmou o El País. "Zambelli, desolada e em lágrimas, respondeu logo depois que as palavras de seu líder a entristeceram e que eram 'um fardo pesado demais' para uma pessoa só".
Na Argentina, o La Nación também destacou a prisão da parlamentar e repercutiu as informações da Ansa, a principal agência de notícias da Itália. O veículo lembrou que Zambelli deixou o Brasil com o marido no dia 25 de maio, saindo justamente pelo território argentino, na fronteira com a cidade paranense de Foz do Iguaçu.
O jornal Corriere della Sera, que possui a maior circulação da Itália, definiu que o objetivo da brasileira era "continuar sua carreira política em nosso país". O veículo também lembrou os pedidos de Zambelli para que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) viabilizasse encontros com a primeira-ministra Giogia Meloni, ou com o vice-primeiro-ministro Matteo Salvinia.
A EuroNews, rede de informações pan-europeia, lembrou que, embora o pedido de extradição tenha sido fundamentado por Moraes, a decisão final "caberá ao Judiciário italiano, que deverá verificar a conformidade do pedido com os tratados internacionais e as garantias prestadas pelo Brasil".
Entenda a prisão
A Primeira Turma do STF condenou Carla Zambelli à pena de 10 anos de prisão em regime fechado, além de multa de cerca de R$2 milhões por danos morais coletivos e perda domandato. A acusação é que ela foi a mentora intelectual da invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) com o auxílio do hacker Walter Delgatti Neto.
O objetivo da invasão, que foi realizada em janeiro de 2023, era inserir um mandado de prisão falso em nome do ministro Alexandre de Moraes e manipular os bancos de dados do Judiciário. Delgatti foi sentenciado a oito anos e três meses de prisão, também em regime fechado.
Inicialmente, a justificativa de Zambelli para deixar o país foi de que ela teria ido para a Europa para um tratamento de saúde. Posteriormente, em entrevista à CNN Brasil, a parlamentar afirmou que foi para a Itália por ter cidadania italiana e que lá ela seria “intocável” e que Moraes não poderia extraditá-la. No dia seguinte, Moraes determinou a prisão preventiva da deputada.
Após a fuga de Zambelli, Moraes decretou, em 4 de junho a prisão preventiva da deputada, "uma vez que a ré se evadiu do distrito da culpa com o objetivo de se furtar à aplicação da lei penal, em razão da proximidade do julgamento dos embargos de declaração (recursos)". Dois dias depois, o plenário do STF rejeitou os recursos da deputada.
Veja a linha do tempo dos acontecimentos
- 16 de maio - A Primeira Turma do STF decide, por unanimidade, condenar Zambelli e o hacker Walter Delgatti a dez anos de prisão por invasão aos sistemas do CNJ;
- 3 de junho - Zambelli afirma que está nos Estados Unidos;
- 4 de junho - O ministro Alexandre de Moraes, do STF, decreta a prisão preventiva da deputada;
- 5 de junho - Zambelli usa seu passaporte italiano para desembarcar em Roma sem ser incomodada na alfândega. Após o desembarque, ela foi incluída na lista vermelha de procurados da Interpol;
- 6 de junho - Por unanimidade, a Primeira Turma do STF nega recurso de Zambelli;
- 11 de junho - Moraes envia ao Ministério da Justiça o pedido formal de extradição;
- 12 de junho - O embaixador do Brasil em Roma, Renato Mosca, entrega ao Ministério das Relações Exteriores da Itália o pedido de extradição;
- 13 de junho - Depois de procurar na região do Vêneto por Zambelli, a polícia italiana concentra as buscas na região metropolitana de Roma;
- 2 de julho - Deputada pede à CCJ da Câmara uma acareação entre com o hacker Walter Delgatti Neto, por videoconferência, no processo que pode levar à cassação de seu mandato;
- 15 de julho - Defesa da deputada devolve à Câmara o imóvel funcional ocupado pela família da parlamentar;
- 26 de julho - Zambelli publica um vídeo dizendo que vive como "exilada política" na Itália e faz um agradecimento ao senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que pediu nesta semana para que autoridades do país a recebessem.

