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Reorganização

O novo desenho da corrida às urnas sem Jair Bolsonaro

Na véspera do ano eleitoral, o cenário da disputa pela presidência da República segue indefinido. A direita passa por um processo de reestruturação, enquanto a esquerda espera um novo adversário

Foto: FOTO: Alfredo ESTRELLA / AFP

Na véspera do ano eleitoral, o cenário para a disputa presidencial segue indefinido. No campo da direita, a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), executada após o trânsito em julgado das condenações no processo da trama golpista, acelerou a reestruturação na direita brasileira. Já no âmbito da esquerda, o presidente Lula (PT) deve ser candidato à reeleição, mas sem a referência de seu possível adversário e sem uma base de apoio de partidos aliados sólida.

Com a liderança que dominou o campo conservador desde 2018 longe das urnas, analistas afirmam que a disputa na direita se tornou mais aberta e menos centralizada na figura de Jair Bolsonaro. Ao mesmo tempo,  mais dependente da capacidade das lideranças partidárias e regionais de construir alianças duradouras. 

Reorganização
A fala pública do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de que a direita pretende se organizar até março de 2026, foi um dos primeiros movimentos após a prisão. No entanto, segundo especialistas, o que realmente define o cenário é o espaço político que se abre com a retirada compulsória do ex-presidente.

O professor, colunista da Folha de Pernambuco e ex-presidente da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Luiz Otávio Cavalcanti, ressalta que Bolsonaro, mesmo inelegível, preservava uma capacidade de interferência nas articulações do campo conservador. “Ficou muito mais fácil resolver. Com Bolsonaro fora da prisão, ele tinha um certo espaço de participação política. E ele não consegue agir em conjunto. Agora, com ele na prisão, as coisas estão mais fáceis porque ele está completamente limitado em atuar, falar, agir e se movimentar”, afirmou. 

Cavalcanti acrescenta que essa limitação cria uma condição inédita para o bloco. “Os candidatos da direita têm agora mais facilidade de se livrar da tutela política de Bolsonaro e para fazer acordos naturais.”

Esse rearranjo abre espaço para governadores como Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Ratinho Júnior (PSD-PR) e Romeu Zema (Novo-MG), além do próprio Tarcísio. A movimentação, porém, ainda está em estágio inicial e depende, segundo Cavalcanti, de fatores que só se tornarão claros no primeiro semestre de 2026.

Reconfiguração
O cientista político Arthur Leandro avalia que a prisão encerra um ciclo político sustentado pelo personalismo carismático do ex-presidente. Para ele, a capacidade de mobilização de Bolsonaro funcionava como uma força centrípeta, obrigando todos os atores da direita a se posicionarem em relação a ele. A detenção rompe essa lógica.

“Três caminhos se mostram mais prováveis. Um deles é a constituição de uma direita radicalizada, porém minoritária. Outro é a dispersão pragmática em busca de nova identidade, à direita do que foi a oposição tucana, mas dentro das regras do jogo democrático. Uma terceira é a moderação estratégica que tenta manter o eleitor que rejeita o PT e a esquerda, mas sem repetir a lógica confrontacional do bolsonarismo”, afirmou.

No entanto, o analista acredita que nenhuma liderança tenha conseguido, 
até aqui, se consolidar como líder do campo. Ele também afirma que os filhos de Bolsonaro deverão buscar manter influência por meio das redes e de nichos de opinião, mas com “potencial eleitoral insuficiente para voos solo nacionais”, o que limita seu alcance na reorganização do bloco.

O cientista político Augusto Teixeira afirma que o efeito mais imediato da prisão é a redistribuição do poder de decisão dentro dos partidos que compõem o núcleo conservador. Segundo ele, a ausência do ex-presidente reduz o peso do bolsonarismo radical nas discussões internas e amplia a força de dirigentes como Valdemar Costa Neto, no PL, e Ciro Nogueira, no PP.

Esquerda
Essa indefinição em relação ao protagonismo da direita em 2026 pode facilitar o caminho de Lula na busca pela reeleição, segundo a cientista política Priscila Lapa. “Isso acontece porque gera uma dispersão do eleitorado. Perde-se a referência de liderança e até mesmo da agenda”, destaca.

Já Arthur Leandro avalia que “a direita é maior do que Bolsonaro, mas que a esquerda é menos do que Lula”. No entanto, ele não acredita em um caminho facilitado para o petista. “Até porque, quando existe uma relação entre desafiante e incumbente, uma boa estratégia para os desafiantes é justamente lançar várias candidaturas, porque essas candidaturas dividem — ou melhor, personalizam — o perfil do eleitor”, argumenta.

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