Sex, 05 de Dezembro

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INVESTIGAÇÃO

PF diz que direção da Abin montou operação para associar Lula a general venezuelano acusado de narco

Os investigadores encontraram um grupo de mensagens no WhatsApp formado por oficiais da Abin para tratar sobre o assunto

Luiz Inácio Lula da SilvaLuiz Inácio Lula da Silva - Foto: Ricardo Stuckert/PR

A Polícia Federal levantou evidências que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foi utilizada em uma operação clandestina que visava associar o então candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao ex-chefe da inteligência da Venezuela Hugo "Pollo" Carvajal, que está preso nos Estados Unidos acusado de narcotráfico. O intuito, segundo a PF, era "interferir no cenário eleitoral de 2022".

"O objetivo era produzir material que vinculasse opositores políticos, notadamente o ex-presidente Lula, ao narcotráfico, visando interferir no cenário eleitoral de 2022", diz relatório final da PF no inquérito que apura o funcionamento da chamada "Abin paralela".

Os investigadores encontraram um grupo de mensagens no WhatsApp formado por oficiais da Abin para tratar sobre o assunto. No chat, um agente de inteligência afirma que o "DG pediu um relatório pra hoje sobre isso", referindo-se ao então diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem (PL-RJ), que hoje é deputado federal.

"O esforço é sobre o tema 'ex-chefe da inteligência militar da Venezuela acusando Lula com o narcotráfico', é isso?", pergunta um dos participantes do grupo, ao que outro confirma: "Isso".

A chamada "Operação Carvajal" foi revelada pelo Globo em fevereiro de 2024. Em meados de 2022, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) chegou a pedir informalmente para Abin realizar uma missão na Espanha - país onde havia sido preso Carvajal, antes de ser extraditado aos Estados Unidos. O plano não foi adiante por risco de vazamento.

A PF também encontrou uma mensagem em que um ex-coordenador da Abin fala em enviar um "trabalho detalhado e um resumo para o PR". Segundo os investigadores, o resumo se referia a uma postagem da deputada licenciada Carla Zambelli (PL-SP) que tratava do caso Carvajal.

No post, Zambelli afirmava que o ex-chefe de inteligência da Venezuela havia falado sobre o financiamento de Lula e "outros políticos de esquerda" pelo governo venezuelano.

O assunto ainda foi trazido à tona pelo então presidente Jair Bolsonaro durante uma reunião ministerial ocorrida em 5 de julho de 2022. O encontro foi gravado.

— Temos informações do general Carvajal, lá da Venezuela que está preso na Espanha. Ele já fez a delação premiada dele lá. Por dez anos, abasteceu com dinheiro do narcotráfico Lula da Silva, Cristina Kirchner, Evo Morales e essa turma que vocês conhecem — disse Bolsonaro, nos primeiros minutos da audiência.

Considerado homem de confiança do ex-presidente da Venezuela Hugo Chávez, morto em março de 2013, Carvajal é acusado pelos Estados Unidos de se associar com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) para exportar cocaína à América do Norte. Segundo o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, o ex-chefe de inteligência seria ex-líder do "Cartel de los Soles", do qual também faria parte outros integrantes do governo venezuelano.

Em julho do ano passado, o ministro do STF Alexandre de Moraes autorizou a abertura de uma investigação contra Zambelli para apurar sua participação em uma tentativa de vincular Lula ao general venezuelano.

De acordo com a PF, Zambelli intermediou uma viagem da influenciadora Elisa Robson à Espanha, onde Carvajal estava preso.

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