Sáb, 06 de Dezembro

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ELEIÇÕES 2026

Plano de Bolsonaro de eleger metade do Congresso esbarra em rachas e disputas estaduais

Ex-presidente está disposto a abrir mão de candidaturas do PL a governos

Congresso Nacional Congresso Nacional  - Foto: Foto: Arquivo Agência Brasil

Com a meta declarada de conquistar metade do Congresso com aliados em 2026, o ex-presidente Jair Bolsonaro tem enfrentado dificuldades para organizar palanques políticos nos estados. Enquanto o PL, seu partido, acumula disputas internas nos diretórios locais por candidaturas, nomes de outros partidos tentam ganhar tração mesmo sem o aval do principal líder da direita. A um ano para o início oficial das campanhas, há conflitos a serem resolvidos em ao menos seis estados — Rio, Minas, Goiás, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Ceará.

Afastado temporariamente das negociações para se recuperar de uma esofagite, Bolsonaro deve se debruçar sobre essas costuras apenas a partir de agosto. A avaliação de integrantes do PL, contudo, é que o ex-presidente só deverá tomar lado para resolver as disputas onde o partido comandado por Valdemar Costa Neto não conseguir chegar a uma solução pacífica até setembro.

Há uma preocupação especial com os arranjos regionais para a disputa ao Senado, onde dois terços das cadeiras — 54 vagas — serão trocadas. A intenção do ex-presidente é formar maioria na Casa, onde são analisadas as indicações de ministros de tribunais superiores, além dos pedidos de impeachment.

Bolsonaro já afirmou a interlocutores que prefere abrir mão de algumas candidaturas a governos estaduais para ter nomes competitivos na disputa ao Senado. Para isso, porém, será preciso frear empreitadas independentes em estados onde o bolsonarismo está dividido, como no Rio, onde o governador Cláudio Castro (PL) tenta apoio de Bolsonaro para ter a segunda vaga da chapa ao Senado ao lado de Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que buscará a reeleição.

— O PL vai tentar resolver essas questões na base do diálogo, compondo com esses quadros. Mas, caso não exista acordo, a decisão final será do Bolsonaro. É o apoio dele que todos precisam e querem, é ele quem decidirá, no final das contas, em qual palanque vai subir. Então, não adianta brigar para ser candidato pelo PL, sem alinhar isso com ele — disse o senador pelo PL e filho do ex-presidente.

Na semana passada, o próprio senador se envolveu para tentar resolver a crise instalada entre aliados. No estado que é o berço do bolsonarismo, o nome da direita para o governo, o do presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Rodrigo Bacellar (União), é alvo de resistências de correligionários. As divergências se acentuaram na semana passada, durante viagem de Castro. Ao assumir o governo interinamente, Bacellar exonerou o agora ex-secretário de Obras Washington Reis (MDB), aliado do clã, e considerado um potencial adversário na disputa pelo Palácio Guanabara.

O emedebista agora ensaia uma candidatura avulsa, caso se reverta a sua inelegibilidade, o que pode dividir a direita fluminense. Filho do ex-presidente e figura com ascendência no partido, Flávio pediu a revogação do ato de Bacellar, em nome de uma pacificação. Sem ter o pedido atendido, o clã Bolsonaro se vê agora entre duas candidaturas que se insurgem e podem dividir a direita no estado.

Diante da atitude de Bacellar, vista no PL como desrespeitosa com Castro, a escolha de Bolsonaro pelo deputado estadual passou a ser contestada no grupo.

Disputa gaúcha
Questionamentos semelhantes ocorreram no Rio Grande do Sul, onde Bolsonaro anunciou que apostará nos deputados Coronel Zucco para o governo e Sanderson para o Senado. Diante de discordâncias, o ex-ministro Onyx Lorenzoni, que foi ministro do ex-presidente, trocou o PL pelo PP.

No novo partido, o debate é se lançam uma candidatura própria ou apostam em uma composição com o atual vice-governador e pré-candidato Gabriel Souza (MDB), o que poderia dividir os votos do campo da direita gaúcha.

Zucco tenta impedir que a divisão se confirme:

— Queremos compor, é claro. Vamos conversar para tentar uma frente de direita. Bolsonaro, por ter a influência que tem, conduzirá esses diálogos. Seria ótimo ter um indicado pelo PP na nossa vice.

Vaga para Carlos
Entre os conflitos que Bolsonaro terá que apaziguar há ainda um caso que envolve um dos seus filhos: hoje vereador pelo Rio, Carlos Bolsonaro ensaia uma candidatura ao Senado por Santa Catarina. Com o objetivo de ampliar a bancada de senadores, Bolsonaro vê o estado, que é um reduto da direita, como “seguro” para que seu filho passe a bater ponto em Brasília.

A escalação de Carlos, entretanto, desagradou às deputadas Caroline de Toni e Júlia Zanatta, que disputavam a indicação. Embora dois senadores sejam eleitos em 2026, Bolsonaro tem compromisso apalavrado para apoiar a reeleição de Esperidião Amin (PP), fazendo com que o PL só fique com uma vaga.

De Toni evita criticar a escolha para que Carlos se candidate por Santa Catarina, mas ainda acredita que pode integrar a chapa:

— O governador (Jorginho Mello) me indicou, enquanto Bolsonaro escolheu o Carlos. Ainda tem como montar uma chapa puro-sangue ao Senado. Mas, para isso, o Amin teria que desistir. Ainda será conversado — diz a deputada.

Já em Minas Gerais, a ala do PL liderada pelo deputado federal Nikolas Ferreira quer emplacar o deputado estadual Cristiano Caporezzo como nome do partido ao Senado, se opondo ao deputado Domingos Sávio, que tem se colocado como pré-candidato ao posto.

Em alguns casos, Bolsonaro já se movimentou para aparar arestas, como em Goiás, onde o vereador de Goiânia e ex-deputado federal Major Vitor Hugo anunciou a desistência de disputar uma vaga ao Senado, encerrando os embates com o deputado Gustavo Gayer, com quem trocou farpas públicas. O próprio ex-presidente disse a Vitor Hugo que o mais prudente seria concorrer a deputado federal, encerrando a contenda.

Mas o partido ainda diverge quanto a uma possível candidatura do hoje senador Wilder Morais ao governo de Goiás. Embora essa possibilidade tenha o apoio de Valdemar Costa Neto, Bolsonaro ainda não se posicionou.

No Ceará, uma frente liderada pelo ex-governador Ciro Gomes (PDT) contra uma candidatura do PT tem sido considerada para reunir forças da direita contra o atual governador, o petista Elmano Freitas. Ciro já abriu diálogos com o PP, Republicanos e União Brasil, e tenta atrair o PL para uma coligação. O diretório local do partido de Bolsonaro é presidido pelo deputado federal André Fernandes, que defende candidatura própria do PL.

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