Sáb, 06 de Dezembro

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PT reage ao tarifaço de Trump e aposta na responsabilização de Bolsonaro e vídeos com IA nas redes

Sigla lança campanha que associa medida dos EUA ao bolsonarismo

Donald Trump, Luiz Inácio Lula da Silva e Jair BolsonaroDonald Trump, Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro - Foto: John Thys / AFP | Mauro Pimentel/AFP | Reprodução/TV Justiça

Diante do anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que vai impor tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros a partir de agosto, o PT decidiu reagir com uma ofensiva política e digital. A legenda mira diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados, buscando apresentar o episódio como um ataque à soberania nacional motivado por interesses ideológicos e retaliação política.

A resposta petista inclui uma nova campanha nas redes sociais, com vídeos gerados por inteligência artificial que responsabilizam o bolsonarismo pelo chamado “tarifaço”. A estratégia retoma o modelo adotado na recente ofensiva sobre a taxação dos super-ricos, que teve repercussão e engajamento online, furando bolhas e ampliando o alcance das publicações.

Segundo o secretário nacional de Comunicação do PT, Jilmar Tatto, a nova leva de conteúdos será mais ostensiva na crítica ao bolsonarismo. O foco será mostrar os impactos econômicos da medida americana em setores produtivos e no mercado de trabalho brasileiro. Frases de efeito como “Brasil soberano” e “Parem o tarifaço” devem guiar a narrativa nas redes.

Como revelou o colunista Lauro Jardim, o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Sidônio Palmeira, tem contribuído diretamente com o esforço. Um dos slogans sugeridos por ele ao partido sintetiza o tom da campanha: “Lula quer taxar os bilionários; Bolsonaro quer taxar o Brasil”.

Desde a divulgação da medida por Trump, na quarta-feira, a militância petista tem concentrado esforços em atribuir a aliados do ex-presidente brasileiro - como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) – influência direta sobre a decisão do republicano.

A leitura do PT é que Trump estaria usando a retórica comercial como forma de retribuir apoio político a Bolsonaro, que hoje é réu por tentativa de golpe de Estado e vem sendo defendido publicamente pelo americano.

Nesta manhã, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, publicou em suas redes sociais sobre Tarcísio e Bolsonaro. "Pensam apenas no proveito político que esperam tirar a chantagem do presidente dos EUA", disse.

A reação também se fez presente no Congresso. Em discursos na tribuna e publicações nas redes sociais, parlamentares petistas acusaram os bolsonaristas de “traição à pátria” por, segundo eles, colocarem seus interesses pessoais acima dos do país. O deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), vice-líder do governo na Câmara, discursou:

— Toda a justificativa para retaliar o Brasil é política, numa tese de defesa do Bolsonaro como perseguido. Os vira-latas bolsonaristas conseguiram. Bolsonaro, Eduardo e Tarcísio devem estar muito felizes em prejudicar o Brasil, nossa economia e nossos empregos.

O partido também passou a defender que o governo brasileiro adote contramedidas com base na Lei da Reciprocidade Econômica, que autoriza o país a responder a sanções comerciais com retaliações diplomáticas ou econômicas equivalentes. A hipótese não é descartada pelo Palácio do Planalto.

A sigla aponta ainda uma inconsistência na narrativa de Trump: os Estados Unidos mantêm um superávit comercial com o Brasil há mais de uma década, o que, segundo o PT, enfraquece o argumento de que o comércio bilateral seria injusto para os americanos.

No Senado, os petistas também engrossaram o tom. “Essa tarifa é contra o Brasil, não contra um governo”, disse o senador Humberto Costa (PT-PE). Já Jaques Wagner (PT-BA) afirmou que “o Brasil não será quintal de ninguém. O Brasil é dos brasileiros, não de capachos”.

A expectativa da cúpula petista é transformar o episódio em novo combustível para nacionalizar o embate com o bolsonarismo. Ao assumir o protagonismo da reação, o PT tenta emplacar a narrativa de defensor da soberania nacional, da indústria e do emprego, em contraste com seus adversários políticos.

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