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TRAMA GOLPISTA

STM terá relator diferente para cada processo envolvendo militares condenados na trama golpista

Maria Elizabeth Rocha, presidente da Corte, espera que representações cheguem ainda no início de 2026

Superior Tribunal MilitarSuperior Tribunal Militar - Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

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O Superior Tribunal Militar (STM) vai distribuir os processos sobre a possível perda de patente de militares condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na trama golpista para ministros diferentes, sem um relator único para todos os casos. A presidente da Corte, Maria Elizabeth Rocha, afirmou que a expectativa é que os julgamentos comecem em 2026, após o envio das representações pelo Ministério Público Militar, previsto para fevereiro.

Segundo Maria Elizabeth, os processos envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro, o ex-ministro do GSI general Augusto Heleno, o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira, o ex-chefe da Marinha almirante Almir Garnier e o ex-ministro da Casa Civil general Braga Netto serão distribuídos livremente entre os integrantes do tribunal, exceto ela, por ocupar a presidência.

— Ninguém vai avaliar o crime que já foi julgado pelo STF. Vamos analisar se os militares são dignos ou não para continuar no oficialato — explicou Elizabeth em um café com jornalistas nesta segunda-feira.

A ministra destacou que o momento da distribuição será acompanhado pela imprensa e reconheceu que os julgamentos podem ter placares apertados, com possibilidade de alguns condenados não perderem a patente.

— Sendo representação individualizada por parte do Ministério Público, cada caso pode ir para um ministro diferente — disse. 

Ainda segundo Elizabeth, a função do STM é analisar, depois do trânsito em julgado pelo Supremo, se o militar, da ativa ou reformado, tem "condições de continuar pertencendo à força que ele escolheu, ou não".

Dos 15 ministros que deverão participar do julgamento, cinco foram indicados por Bolsonaro. Além disso, alguns deles foram contemporâneos e trabalharam com alguns dos oficiais que agora deverão julgar. O ministro general Lourival Silva, por exemplo, foi colega no Alto Comando do Exército de Paulo Sérgio e Braga Netto. Já os ministros almirantes Leonardo Puntel, Celso Nazareth e Cláudio Viveiros compuseram o Almirantado — cúpula da Marinha — na mesma época de Garnier.

A presidente do STM também defendeu a criação de um código de conduta para os ministros de tribunais superiores e disse que a medida não é um "moralismo barato", mas sim um "dever cívico". A proposta está sendo estudada pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, e gerou repercussões nos bastidores do Judiciário na semana passada — em meio à polêmica envolvendo uma viagem do ministro Dias Toffoli. 

Maria Elizabeth foi uma das presidentes de tribunal superior consultadas por Fachin sobre a ideia, que tem inspiração no tribunal constitucional da Alemanha, o equivalente do Supremo do país europeu. Segundo a presidente do STM, a iniciativa tem o respaldo de todos os outros presidentes das demais Cortes e não tem como objetivo punir os integrantes da magistratura. 

— É importante que tenha um código ético, que deixe bem claro qual é a conduta que se deve adotar para o exercício da profissão. Honramos a toga que a gente veste, não é um moralismo barato, mas um dever cívico —disse.

A ministra afirma que é preciso que "haja clareza" sobre o funcionamento do Judiciário e sobre a conduta de seus integrantes que, segundo ela, "não podem falhar". Maria Elizabeth afirma ainda que essas regras devem atingir, por exemplo, a participação de ministros em eventos privados, palestras e a análise de causas em que há a atuação de parentes. 

— O código é fundamental para que a magistratura saiba se portar inclusive em casos dúbios. O juiz não poderia julgar processos em que seus aparentados e afins advogam. Se trata de regramentos republicanos — afirmou.

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