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Óleo de coco: comer ou não, eis a questão!

Com tantas idas e vindas sobre os benefícios de alguns alimentos, a única certeza é que unanimidade passa longe da cozinha. Óleo de coco, margarina e ovo são só alguns dos ingredientes do dia a dia mais visados pela ciência atualmente

Segundo pesquisa, o óleo de coco tem índice de gordura  saturada prejudicial à saúde  Segundo pesquisa, o óleo de coco tem índice de gordura saturada prejudicial à saúde  - Foto: Alfeu Tavares

 

A polêmica foi lançada e ela habita a cozinha, esse espaço tão favorável aos mitos e verdades conservados em geladeiras e dispensas. Sobre a mais recente questão, saiba que se lhe perguntarem qual é o óleo vegetal capaz de melhorar os níveis de colesterol, ajudar no emagrecimento e até proteger os cabelos, você não estará certo ou errado em responder óleo de coco. Confuso? Pois muita gente ficou ao saber que um estudo publicado pela Associação Americana do Coração alerta sobre o produto ter o mesmo efeito na saúde que a carne bovina ou mesmo a banha de porco, graças à presença de 82% de gordura saturada, que pode aumentar o nível de colesterol ruim no sangue (LDL) e dobrar as chances de adquirir doenças cardíacas e derrames.

O relatório caiu feito uma bomba no colo de consumidores de todo o mundo ao pedir mais prudência. O tema, aliás, também chamou a atenção da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), que, em seu posicionamento oficial, disse não haver estudos clínicos garantindo benefícios ao público que também faz uso dentro de uma dieta preventiva para doenças crônicas e até no tratamento da obesidade. O mais adequado, segundo a instituição, é substituir por óleos mono ou poliinsaturados, como o de girassol, soja e milho. Surge um novo vilão no mercado?

Segundo a nutricionista Débora Wagner, o caminho não é bem esse. A avaliação de consumo deve ser feita dentro das necessidades individuais já que, infelizmente, existe um consumo exagerado com doses fora da recomendação. “O indivíduo, ao invés de ter uma dosagem diária recomendada, digamos, de 20ml de gordura saturada, tem um consumo muito superior e, ainda, com o excesso na ingestão de outras gorduras. Isso, sim, é prejudicial”, define. Para ela, houve a viralização de um assunto que merece olhar mais crítico. “A mídia não disse que existe um estudo maior e mais antigo, de 2014, que revisou muitas outras fontes alimentares profundamente, dizendo que não existe um prejuízo no consumo da gordura saturada em detrimento das gorduras mono e poliisaturadas, pois a prescrição acertada é que determina se um tipo de gordura vai ou não trazer prejuízos”, diz ela.

Logo, você pode até se perguntar porque o óleo de coco vem sendo tão recomendado para o processo de emagrecimento. A razão, segundo a nutricionista Joyce Moraes, está no fato de sua gordura saturada ser de cadeia média. “Ao chegar no intestino, ele vai direto para o fígado, estimulando um processo chamado beta-oxidação, que provoca o aumento do metabolismo. Mas o que eu quero chamar atenção é para os excessos, pois não é algo proporcional como ‘quanto mais eu consumo, mais rápido será meu metabolismo’. Não é assim, porque sabemos que até as coisas boas, em excesso, fazem mal”, detalha.

Altos e baixos
Mas antes que divulguem as cenas dos próximos capítulos...ou estudos, vale lembrar que acompanhar uma pesquisa alimentar nunca foi tarefa tão simples assim. Com o avanço dos recursos tecnológicos, tendências de consumo da população e até mesmo interesses da indústria, os pesquisadores se apressam em entender mais sobre o produto disposto nas prateleiras.

Não é à toa que uma simples procura no Google pela palavra ‘emagrecer’ lista mais de 19 milhões de resultados envolvendo dicas e segredos com dietas naturais ou não. Entre tantas possibilidades, pouco consenso. “E por que os estudos sobre esse tema são controversos? Porque a gente sabe que eles são feitos com poucas pessoas”, rebate a nutricionista Joyce Moraes ao defender que é difícil atribuir a perda de peso a um fator só.

Ainda segundo a especialista, a melhor forma de lidar com um relatório científico é fazer sua leitura na íntegra, atento na metodologia, e não apenas na parte de conclusões. Que o diga as polêmicas em torno do famigerado ovo e a dúvida que sempre pairou sobre os reais benefícios à saúde. “O estudo que popularizou o ovo como vilão pegou um grupo de pessoas que, além da dieta normal, pediu pra ele comer 25 ovos por dia, e então, comprovou-se o aumento do colesterol. Mas não é preciso ser um pesquisador para observar que, se você ingerir essa quantidade diariamente, além da dieta normal, todas as suas taxas aumentarão”, afirma.

Recentemente, outro alvo de interrogações vem sendo o adoçante e a manchete de que ele causa a obesidade. A explicação mais detalhada diz que, ao inserir o adoçante na bebida, há um estímulo na parte da língua responsável pela sensação de doce, fazendo o indivíduo querer sentir mais esse gosto doce na boca ao longo do dia, o que aumenta as suas chances de engordar. Mas, lembre-se que nada pode ser analisado por um ângulo só. Prova disso também está na recente pesquisa do Ministério da Saúde, com dados do Vigitel, afirmando que a obesidade cresceu 60% nos últimos dez anos, mesmo com a população modifican­do seu estilo de vida, com inclusão de exercícios na rotina e melhoras na alimentação. Você arriscaria em dizer o que as pessoas andam errando ou acertando nesse prato?

 

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