Vida saudável
Sopa não é janta?...
Sairei em defesa da sopa, sim. Chega a ser digna de constituir, sozinha, o cardápio equilibrado de uma janta
Para a coluna de hoje inspirei-me no diálogo de uma piada na rede social, vista há poucos dias:
“ - Sopa não é janta!
- menina, quando você mora sozinha, até pipoca vira jantar!”
E eu, tão fã (sobretudo nestes dias friorentos de julho), sairei em defesa da sopa, sim. A depender dos ingredientes e da quantidade, chega a ser digna de constituir, sozinha, o cardápio equilibrado de uma janta, ou jantar ou ceia; fiquem à vontade para batizar a refeição como achar melhor...
A refeição principal da noite, em nossa cultura, vem sofrendo influência de outros lugares em que se usam comidas de rápido preparo, à moda de lanches com sanduíches, por exemplo. Mas não é dessa refeição com cara de preguiça de cozinhar ou da falta de tempo que impera hoje em dia, que estamos falando. Uma janta nordestina, de respeito, contempla um prato de sopa acompanhado de torradas (ou pão francês, macaxeira, inhame & Cia), café com leite, ovo frito ou carne, ou uma talhada de queijo coalho. Este modelo de refeição tem como concorrente o chamado jantar, que é, praticamente, a repetição do almoço sem o feijão - importado, até onde sei, das bandas do Sudeste e do Sul.
Do ponto de vista técnico, as sopas são preparadas a partir do caldo básico de algum tipo de carne, acrescido de vegetais, arroz, massinha ou macarrão. Os cortes magros das carnes bovinas como músculo, acém, paleta e costela se prestam a sopas deliciosas, bem como asas, pescoço e dorso de frango dão uma boa canja. Sopa de cabeça de peixe tem muita sustância, mas não aparece tanto quanto as outras na preferência popular.
Parece que aqui pelo Nordeste a sopa de feijão é quase campeã de audiência, sobretudo pela facilidade na confecção a partir da sobra do almoço, o que já é meio caminho andado para os “cozinheiros de plantão”. De maneira similar, quem há de resistir a fazer uma sopa com aproveitamento das sobras daquele belo cozido de domingo?
As sopas feitas exclusivamente com verduras vão ganhando espaço no gosto de muitos, tanto pela variedade que propiciam, como pelo tempo mais rápido no preparo (lembram-se do mote da piada, em relação a quem mora sozinho?). E por não levarem carnes na preparação, fazem a festa dos aficionados por alternativas menos calóricas. E ainda resta um recurso: as sopas com vegetais podem ser acrescidas de leite, opção razoável de enriquecimento nutritivo com proteína de elevado valor biológico.
Mas é do ponto de vista afetivo que as sopas me cativam, pois têm a cara de conforto, de aconchego, de mãe, de família que cuida, de visita carinhosa a gente doente. Por falar nisso, na prática profissional vi, muitas vezes, pessoas rejeitarem as sopas porque as viam ou sentiam como “comida de hospital”. Com empatia, eu tentava conquistá-las explicando os benefícios nutritivos, variando as preparações dentro do que era possível, ou convidando-as a experimentarem uma associação positiva com a recuperação de uma doença ou o cuidado afetuoso de um familiar dedicado...
Aprendi muito na profissão, mas foi no exercício de mãe que melhor cultivei o gosto por fazer sopas variadas: até hoje, quando recebo minha filha que mora longe daqui, é numa panelada de sopa creme de jerimum com leite que dissolvo e faço transbordar todo o amor!
* Solange Carvalho Paraíso é nutricionista e atua no Tribunal de Justiça de Pernambuco no Núcleo do Programa Saúde Legal. Contato: 98654.1611
