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Derrubada do IOF indica antecipação de 2026 e Congresso sem compromisso com o Governo Federal

De acordo com especialista, aliança do Congresso com setor financeiro dita as decisões dos parlamentares

Plenário da Câmara dos Deputados durante sessão do CongressoPlenário da Câmara dos Deputados durante sessão do Congresso - Saulo Cruz/Agência Senado

Uma rápida mobilização no Congresso Nacional garantiu a derrubada do decreto presidencial que aumentou a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nesta quarta-feira (25). O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), anunciou que colocaria a revogação na pauta ainda na noite da última terça-feira (24), pegando o Governo Federal de surpresa.

Aliado a isso, o presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre (UB-AP), mobilizou os líderes para votar o Projeto de Decreto Legislativo no mesmo dia. O que se viu a seguir foi uma larga derrota imposta ao governo até mesmo por parlamentares de partidos aliados e que ocupam cargos-chave na gestão do presidente Lula. 

Diante da falha na articulação do governo e do tamanho do revés para a equipe econômica do governo, liderada pelo ministro Fernando Haddad (PT), o cientista político Isaac Luna avalia que o movimento político realizado pelos presidentes das duas casas legislativas tem como pano de fundo a disputa pela sucessão do presidente Lula em 2026.

Uma outra variável apontada pelo especialista é a disputa de narrativas entre a bancada governista e a oposição na Câmara sobre qual grupo social iria pagar a conta de uma alíquota do IOF mais alta. De acordo com ele, a ligação entre os deputados e o sistema financeiro garantiu que a classe de maior poder aquisitivo não arcasse com a conta.

“É um imposto pago por uma camada, que está na prateleira de cima da sociedade. A guerra fiscal de quem deve pagar a conta do ajuste, se é o trabalhador, se são os programas sociais, os mais privilegiados da sociedade economicamente, me parece que ela foi hoje definida quem vai pagar, quem tende a pagar a conta do ajuste fiscal com essa medida é a população que mais precisa do investimento público, já que agora o governo vai, em se mantendo esse cenário, ser obrigado a cortar os gastos primários, que é investimento em saúde, educação, assistência”, explicou Luna. 

Diante da possibilidade de judicialização do caso, ventilada pela Governo Federal após a movimentação política de hoje, Isaac Luna ressalta que precisam ser ponderados os riscos de agravamento da fragilização no relacionamento entre Executivo e Legislativo. Ele lembra também que até os parlamentares ligados ao governo não têm um compromisso com a agenda defendida por ele. 

“Não vale a pena fazer essa briga judicial com o Congresso, ampliar a crise de relacionamento entre os poderes e correr o risco de ver outros projetos de interesse do governo também derrotados. Nesse xadrez da política e nesse cenário que o Brasil vivencia hoje, não há vida fácil para o governo, diante desse Congresso que foi eleito. Que tem as pautas do interesse do mercado financeiro. A aliança é meramente pragmática para a ocupação de espaços com o governo, mas sem nenhum caráter programático”, pontuou.

O cientista também indica uma falha na articulação do governo para negociar com o Congresso Nacional as pautas que lhe são importantes. Isaac Luna enxerga não restarem mais recursos para oferecer aos parlamentares em troca de aprovação da política econômica defendida pelo presidente Lula.

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