Especialistas avaliam embate entre presidente Donald Trump e Brics
Donald Trump ameaçou taxar países que se alinharem às políticas do bloco econômico
As declarações recentes do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brics e em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu por tentativa de golpe no Brasil, repercutiram no cenário político. Durante a 17ª Reunião de Cúpula do Brics, que começou no domingo e terminou ontem, no Rio de Janeiro, Trump afirmou, pelas redes sociais, que qualquer país que se alinhasse às políticas do bloco seria alvo de uma tarifa adicional de 10%.
Em resposta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) classificou a fala como irresponsável e criticou o comportamento de Trump. Para o cientista político Isaac Luna, a declaração de Trump não foi aleatória. “Ela está inserida em um contexto claro, marcado por dois eventos importantes”, explicou.
O primeiro é o encontro promovido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, em Portugal, onde foi debatida a regulação das redes sociais e os limites à liberdade de expressão, tema sensível às big techs americanas, tradicionalmente contrárias a qualquer forma de regulação.
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Alternativas
O segundo fator é a realização da cúpula do Brics no Brasil, que reuniu países em desenvolvimento para discutir alternativas econômicas e comerciais fora da influência direta dos Estados Unidos. “Trump falou no exato momento em que o Brasil sediava a cúpula, com Lula como anfitrião, e quando crescem nos EUA pressões da extrema-direita para que o governo aplique sanções contra o ministro do STF, Alexandre de Moraes em razão da sua atuação sobre as redes sociais”, contextualiza Luna.
Segundo ele, o apoio de Trump a Bolsonaro, que responde a processos no STF, não apenas mira o presidente Lula e o governo brasileiro, mas atinge o próprio Judiciário. “É uma bravata no estilo Trump, que sempre agiu com frases de efeito e discursos que alimentam sua base política. A resposta do governo brasileiro, por outro lado, foi serena, reafirmando a soberania nacional e deixando claro que o país não se curva a interesses externos”, disse.
O cientista político Hely Ferreira, explica que a retórica de Trump tende a agravar ainda mais a relação entre Brasil e EUA, que, segundo ele, já não é das melhores desde a vitória do Partido Republicano.
Comportamento
Ainda assim, o professor acredita que a situação fortalece o Brasil. “Trump se comporta como se o mundo não tivesse mudado. Mas esse episódio mostra que o Brasil é um país soberano, que não está de joelhos diante dos EUA”, afirmou. Ferreira também analisou a tentativa de Trump de transformar o Brics em um novo “inimigo político”, o que, para ele, é parte de uma estratégia tradicional da política externa americana.
“Os EUA sempre se alimentaram da ideia de guerra. Quando não têm uma guerra para patrocinar, criam um vilão, porque querem continuar sendo o ‘xerife da humanidade’. Agora, esse papel está sendo projetado sobre o Brics.”
Por fim, o cientista político acredita que uma eventual retaliação econômica dos EUA ao Brasil e aos países do Brics seria uma ação desesperada. “Não atinge apenas o Brasil. É uma tentativa de não se sentir isolado.
Os EUA enfrentam um processo de isolamento internacional, e Trump talvez entenda, acredite que o método coercitivo seja muito mais importante do que o método persuasivo. O que é lamentável”, afirmou.



