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PT comemora 45 anos em meio a tensões internas e desafios do terceiro Governo Lula

Para especialista, o PT ainda enfrenta um processo de reconfiguração interna

Fernandado Haddad, Lula (e Janja), Gleisi Hoffmann e o PTFernandado Haddad, Lula (e Janja), Gleisi Hoffmann e o PT - Ricardo Stuckert/PR

O Partido dos Trabalhadores (PT) comemora, neste final de semana, seus 45 anos em meio a tensões internas que refletem a complexidade interna da legenda. Em entrevista, Antônio Lucena, cientista político, analisa as tensões no PT, as dificuldades do Governo Lula e as perspectivas eleitorais para 2026.

Para Lucena, o PT, apesar de suas crises internas, continua sendo um partido que se mantém fiel à concepção clássica de uma organização política, com suas disputas e divergências.

"É natural que um partido tão grande e antigo enfrente rachaduras internas. A falta de consenso em torno de um nome para a presidência do PT expõe essa realidade", explica.

Gleisi Hoffmann

Segundo o cientista político, o fato de não haver uma candidatura única dentro da sigla revela a ausência de um acordo prévio que unifique a base partidária. As tensões entre as correntes do partido, como a disputa entre a atual presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e Edinho Silva, são apenas a ponta do iceberg de um processo mais profundo de redefinição do PT.

Lucena analisa que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido central nas movimentações internas do partido, especialmente devido à lealdade de Gleisi Hoffmann e ao desejo de um ministério para ela. "Lula sempre valorizou Gleisi pela sua fidelidade, principalmente durante o período em que estava preso, quando ela foi uma das suas fiéis escudeiras", comenta Lucena.

No entanto, a decisão de conceder um ministério a ela pode ser interpretada como parte de uma estratégia mais ampla de consolidar apoio interno e tentar dar uma "nova cara" ao governo, que, segundo Lucena, perdeu força na comunicação e enfrenta um cenário de baixa popularidade.

Digital

Um dos pontos destacados por Lucena é a necessidade de modernização do PT, especialmente em relação à comunicação digital. "O PT ainda é um partido muito analógico e não conseguiu fazer uma transição efetiva para o digital. O vídeo do (deputado federal) Nikolas Ferreira (PL), que viralizou no Instagram, é um exemplo claro de como a direita está mais bem organizada nesse sentido", observa. 

Economia

O especialista também alerta para os desafios econômicos que pesam para o governo de Lula. "Embora o governo tenha dados econômicos positivos, a inflação é um fator determinante para a opinião pública, e isso pode ameaçar até mesmo a reeleição de Lula", afirma Lucena. O cientista político acredita que o governo precisará fazer uma reforma ministerial para dar respostas concretas à população, pois muitos ministros, como a ex-ministra da Saúde Nísia Trindade, não conseguiram articular as ações de maneira política.

2026 e sucessão

A análise de Lucena sobre o cenário de 2026 é clara: o PT ainda não tem um sucessor viável para Lula. Ele aponta que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é uma opção pouco atraente para o futuro do partido, principalmente devido ao cargo na Esplanada dos Ministérios, que, segundo ele, é extremamente difícil de ocupar devido aos desafios econômicos.

"Haddad está preso ao contexto de 2018. E o fato dele ter o pior emprego do mundo, que é de Ministro da Fazenda do Brasil, termina sendo uma tarefa muito inglória, porque ele não tem muito o que mostrar", explica Lucena.

Além disso, o cientista político critica a falta de novos nomes dentro do PT. "Lula falhou em cativar um nome mais novo dentro do partido", diz, enfatizando que o ex-presidente não conseguiu fortalecer uma liderança mais jovem que pudesse representar a continuidade do projeto petista. O cientista político acredita que isso pode gerar um vácuo de poder, abrindo espaço para outras figuras políticas.

Lucena não descarta a possibilidade de novos nomes surgirem dentro e fora do PT para disputar a presidência em 2026. Ele vê João Campos como um nome que pode furar a hegemonia do PT, além de destacar o crescimento de figuras da direita, como Nicklas Ferreira, que, segundo ele, representa uma ameaça real no cenário eleitoral futuro.

"A direita está cada vez mais organizada, e figuras como Nikolas Ferreira têm mostrado que são uma ameaça crível", alerta.

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