Tempo de Natal
O Natal começou a ser celebrado bem antes do nascimento de Jesus. Quando os romanos faziam suas festas (saturnais) para agradecer as colheitas generosas, reverenciando Saturno – deus da fartura, que um dia foi expulso do céu por seu filho Júpiter (o Zeus grego). Depois essas festas se transformaram em grandes orgias, homenageando menos Saturno e mais Baco, o deus do vinho (daí, bacanais). No século III, por decreto do imperador Aureliano, passaram a comemorar o Dies Natalis Solis Invicti (dia do nascimento do sol não vencido) em volta de fogueiras, com jogos, danças, troca de presentes e canto. Em 25 de dezembro. Ainda não havia Natal, por esse tempo. Cem anos depois, o cristianismo tornou-se religião oficial do Império Romano. Mas a única festa cristã, então, era a Páscoa – que celebrava só a morte e a ressurreição de Jesus. Os mártires da Igreja, todos eles (com a única exceção de João Batista), acabavam lembrados apenas pelo dia de suas mortes. Datas de nascimento nunca tiveram grande importância, nas religiões. Talvez por isso jamais se soube, exatamente, quando Jesus nasceu. Nem o dia, nem o mês, nem o ano. De certo apenas que ocorreu durante o reinado de Otaviano César Augusto (imperador de Roma), de Herodes (da Judeia) e de Quirino (da Síria). As datas variavam, dependendo do lugar – 6 de dezembro. 20 de março, 28 de março. Até que o papa Júlio I (em 350) sagrou 25 de dezembro como data oficial em que se deveria comemorar seu nascimento. Em latim, nascimento é natalis – Natal. E o fez por prudência, escolhendo a mesma data daquele Solis invicti. Para que não fossem perseguidos, esses cristãos, dado estarem os pagãos mais ocupados com sua própria festa.
Cada povo tem seu jeito de celebrar o Natal. Mas sempre em volta da mesa. Na ceia (em latim, caena) – a última, a maior e a mais importante refeição do dia. Inspirados na Bíblia, faziam isso com pão e vinho, que, na Eucaristia, simbolizam o corpo e o sangue do Salvador. Na Santa Ceia, “Jesus tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e deu a seus discípulos, dizendo: ‘Tomai e comei, isto é o Meu corpo’. Tomou depois o cálice, rendeu graças e deu a eles, dizendo: ‘Bebei dele todos, porque isto é o Meu sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados’” (Mateus, 26, 26-28). Dos alimentos do povo de Deus o mais importante, sem dúvida, foi mesmo o pão. Belém (Bet’lehem), cidade palestina em que nasceu Jesus, significa precisamente casa do pão. Um pão preparado com cevada, centeio, espelta ou trigo. Fermento não, que que a novidade só foi descoberta mais tarde, pelos egípcios. E, ao lado do pão, o vinho que “alegra a vida” (Eclesiastes 10, 19).
Nosso Natal é, desde que chegaram aqui os portugueses, sobretudo uma grande ceia. Aos poucos, fomos adaptando receitas portuguesas e criando as nossas próprias. Receitas tradicionais, passadas de mãe pra filha, com sabores guardados na memória desde o tempo da infância. Celebrando a própria epifania da vida. E sem esquecer o belo exemplo de Jesus, pregando a união e a inclusão de todos em volta da mesa.



