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Dia do Vira-Lata: conheça histórias de cães que mudaram a vida de seus tutores

Dia 31 de julho é o Dia do Vira-Lata, a data tem como o intuito dar visibilidade aos cães SRD

Famílias adotantes de cãezinhos SRD relatam seu amor pelos vira-latasFamílias adotantes de cãezinhos SRD relatam seu amor pelos vira-latas - Cortesia

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Brasileiros são, algumas vezes, chamados de "vira-lata", como se a definição do termo que se refere a cães Sem Raça Definida (SRD) fosse pejorativa. Mas vamos lá: onde um termo que se refere a um cãozinho, que é resultado da mistura genética de várias raças, saudável, forte e sobrevivente de diversas situações de vulnerabilidade, pode virar xingamento? Esses animais, que costumam ser rejeitados por não apresentarem características de raças específicas, são celebrados neste 31 de julho, o Dia do Vira-Lata.  


Curiosidade
O brasileiro vira-lata, quando usado por pessoas de outros países, na maioria das vezes, é comumente um “xingamento” eugenista e até racista, associado à miscigenação do Brasil. Já o termo “complexo de vira-lata” foi popularizado em 1950 por Nelson Rodrigues ao afirmar que muitos brasileiros possuem complexo de inferioridade com relação a estrangeiros.


A data visa dar visibilidade aos cães SRD, que ainda são maioria dentre os animais abandonados para a vulnerabilidade nas ruas. 

O preconceito contra esses cãezinhos está diminuindo, principalmente levando em consideração a popularização do termo “vira-lata caramelo”, que deu visibilidade ao debate sobre o motivo da desvalorização desses cachorros. Inclusive, em 2023, foi proposto até um projeto de lei que visa tornar o “vira-lata caramelo” patrimônio cultural imaterial do Brasil. A proposta ainda não foi oficializada. 

Amar um vira-lata

Ter um animal em casa é benéfico em diversos sentidos. Ajuda na saúde, no bem-estar, na sensação de companhia. Mas a relação não é apenas um vínculo vantajoso. Ter um animal em casa, ter um animal que estaria nas ruas se não fosse pelo seu acolhimento, é uma relação de amor. 

Apolo e Nininho

Mayra Mendes, 31, viveu boa parte da sua vida ao lado de um cãozinho SRD. Acolhido de uma vizinha que estava doando uma ninhada de filhotinhos, Apolo acompanhou diversas fases da vida da gerente de marketing. 

Apolo, cãozinho de Mayra, comendo coco verde - CortesiaApolo, primeiro cãozinho de Mayra, era tratado como um membro da família, como um filho - Cortesia

“A gente ficou junto por muitos anos e ele acompanhou todas as fases da minha vida e eu quase todas as fases da minha vida e eu acompanhei todas as fases da vida dele. Ele estava comigo quando eu estava estudando para o pré-vestibular. Ele estava comigo quando eu entrei na faculdade. Ele tava comigo quando eu me formei. Ele estava comigo quando eu trabalhei. Ele cresceu comigo. Ele acompanhou tudo 100% do tempo. E ele virou estrelinha no ano passado com 13 anos de idade”, relatou. 

Outro cãozinho também foi adotado por Mayra, o Nininho. Ele foi abandonado na sua vizinhança, já adulto, com mais de seis anos. O pet está há oito anos com a família e o resgate mudou completamente a vida, tanto dele quanto de todos que convivem com o cãozinho.

Abandonado por uma família que desistiu de conviver com ele já adulto, Nininho foi salvo pela família de Mayra e hoje vive cercado de amor - Cortesia
Abandonado por uma família que desistiu de conviver com ele já adulto, Nininho foi salvo pela família de Mayra e hoje vive cercado de amor - Cortesia

“A vida da gente muda totalmente, porque nunca foi um cachorro. Lá na minha casa todo mundo é assim, nunca enxergou nem Apolo nem Nininho como cachorros, sempre foram filhos, sempre foram da família”, contou.

Segundo Mayra, a diferença entre o pet que foi criado desde pequeno com ela e o que foi resgatado do abandono na rua é gritante.

“Hoje parece que ele nem lembra que um dia ele sofreu na rua, ele nem lembra que um dia ele foi abandonado e ele nem lembra que teve outra família que fez isso com ele”. O único resquício que o cãozinho ainda carrega é o medo do abandono, por isso ele não consegue passear. Ele procura a companhia das pessoas da família o tempo todo, como se precisasse se certificar de que não está sozinho. 

Nininho, considerado um “bebê” na casa, recebe massagens matinais por questões de saúde. Logo após ao “spa”, o pet dá uma volta no quintal e faz um pequeno treinamento funcional nas escadas da casa para acordar o corpinho. Na sequência, ele faz suas refeições regradas durante o dia. 

Apolo, à esquerda, e Nininho, no colo, à direita  - Cortesia
Apolo, à esquerda, e Nininho, no colo, à direita  - Cortesia

A relação de amor com seus vira-latinhas, a “raça” favorita e mais linda, segundo Mayra, é imensurável. Ela nunca gostou da ideia de estimular o comércio de animais, visto que tem muitos animais nas ruas só querendo e precisando de uma família. 

“Olha, antes deles, a casa podia ser até mais arrumada, podia ter menos trabalho, menos responsabilidade, mas eu não trocaria nada para ficar sem eles, porque a alegria que eles trouxeram para a família inteira é indescritível. A gente conhece um amor que nem sabia que podia sentir. É, é realmente um amor de filho, não consigo nem imaginar. Eu não lembro mais como é que era a casa antes deles”, explicou. 

Lilo e Loki

Williany Dias, 30, também sempre teve um vira-lata fazendo parte da sua família, desde a infância. As relações mais recentes da personal trainer e nutricionista com cãezinhos são com Lilo e Loki. 

Lilo foi adotado adulto, com pouco mais de dois anos. Vítima de maus-tratos de um antigo tutor, o cãozinho tinha apenas três pernas quando foi resgatado por protetores da causa animal. 

Segundo Williany, o contato com o abrigo foi feito de forma remota e, quando contaram que ele tinha deficiência, ela já estava decidida. Apesar disso, ela tinha consciência de que muitos animais são rejeitados quando são deficientes.

Lilo passou de sofrer maus-tratos para uma vida de carinho graças ao amor que Williany tem por cães SRD
Lilo passou de sofrer maus-tratos para uma vida de carinho graças ao amor que Williany tem por cães SRD - Cortesia

“Eu queria ele, mesmo antes, sem saber que ele era deficiente”, contou. ”Nunca vi um problema com isso, não. Ele era muito funcional para mim. E também, assim, se eu gostasse do cachorro, eu não ia deixar de ter ele por causa da deficiência”, relatou. 

A pata do cãozinho tinha sido amputada por seu antigo tutor, que usava o animal para pedir dinheiro.

“Ele tinha tudo para ser um cachorro super traumatizado, sabe? Revoltado, tudo. E pelo contrário, Lilo foi o cachorro mais doce que eu tive na minha vida. Ele me acompanhava em tudo. Estava ao lado do meu choro, dormia comigo…Adorava estar no colo das pessoas, adorava carinho. Ele foi um cachorro muito carente, eu adoro cachorrinho carente”, contou Williany. 

Lilo era um cãozinho muito carente, segundo sua tutora - Cortesia
Lilo era um cãozinho muito carente, segundo sua tutora - Cortesia

Lilo morreu vítima de falência renal devido à leishmaniose em 2024. Mas, pouco antes da morte do cãozinho, Williany decidiu adotar outro pet para fazer companhia a Lilo. Infelizmente, Lilo e Loki, que parecem irmãos sanguíneos de tão parecidos e tão caramelos, conviveram por pouco mais de um mês apenas. 

A tutora fez todo tipo de tratamento com Lilo, mas a doença foi brutal com o cãozinho. Apesar disso, Williany garantiu que seu pet tivesse conforto e acolhimento durante toda a sua partida. Levou ele ao mar, a seus passeios favoritos, encheu o pet de amor e, quando não dava mais para manter a dignidade e bem-estar do animal com cuidados paliativos, ela optou pela eutanásia. 

“Foi uma doença bem difícil, sabe? Eu vi ele degenerar todo na minha frente, ficar só couro e ossos, sem andar, sem mexer”, contou. “Eu quis tratar ele com dignidade, sabe? Dar a dignidade que ele não teve em vida inteira antes de chegar a mim. Mesmo que ele já ia morrer cedo, quis que os últimos momentos dele fossem comigo, para ele entender e saber que ainda é possível amar diante da dor. Ele tomou uma injeção de anestesia e a última coisa que ele viu antes de falecer fui eu, ele olhava para mim enquanto ela aplicava a anestesia e ele perdia a consciência”, lembrou. 

Loki foi adotado pouco antes da morte de Lilo - Cortesia
Loki foi adotado pouco antes da morte de Lilo - Cortesia

Loki, que conviveu pouco com Lilo, é de um temperamento completamente diferente. Agitado, o cãozinho põe para jogo todo o treinamento físico de sua tutora e gosta de gastar energia. “A gente passeia, dou uma volta com ele grande, de quarteirão. É, uns 500 metros, 1 km, dependendo do passeio… Isso todos os dias”, relatou Williany sobre a rotina do pet. 

A rotina de Williany mudou, mas o amor por seus cães SRD mudou sua vida e é algo que ela carrega consigo sempre. 

"Eu tenho a questão do apego pelo cachorro sem raça, justamente por não ter o estereótipo de adotá-lo pela questão da raça, de ter um cachorro por status. Eu acho que realmente é a questão do cachorro em si, né? É o amor pelo cachorro sem ver raça", ressaltou. 

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