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Padre da causa animal promove acolhimento e adoção de cães no interior de Pernambuco

Padre João Paulo estrelou um episódio da série “Apenas Cães”, da Netflix 

O Padre João Paulo promove campanhas de adoção e participa ativamente de causas pela proteção animalO Padre João Paulo promove campanhas de adoção e participa ativamente de causas pela proteção animal - Cortesia/Padre João Paulo

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São Francisco de Assis, protetor dos animais reconhecido pela Igreja Católica, pregava que todas as criações são filhas de Deus e, por isso, os animais merecem tanto respeito e cuidado quanto um irmão.

A dedicação do Santo aos animais inspira protetores de todo o mundo até hoje. Em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, o padre João Paulo toma por sua missão pregar o cuidado, respeito e amor aos animais. 

“Vou intermediando. Eu sou uma ponte entre aqueles que sofrem e quem pode oferecer uma ajuda”, relatou o religioso sobre a ação de apresentar os animais disponíveis para adoção aos adotantes. 

O Padre João Paulo (@pe_joao_paulo), que também é docente na Universidade Católica, compartilha nas redes sociais histórias de cãezinhos precisando de ajuda e disponíveis para adoção e até permite que protetores animais apresentem os pets durante as missas. 

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Uma publicação compartilhada por Padre João Paulo (@pe_joao_paulo)

Na igreja do Padre João Paulo, a bênção dos animais, dada geralmente no Dia de São Francisco de Assis, acontece em todo fim de missa. Basta levar o animalzinho para lá. 

Como começou
Seu trabalho com os animais se iniciou em 2013, no município de Gravatá, também no Agreste pernambucano, na Igreja Matriz de Santana, de uma forma inusitada - ele não procurou a causa, mas a missão chegou até ele em seu local de trabalho, na igreja. 

“Quando eu era padre em Gravatá, um grupo de senhoras chegou vendendo biscoito. Aí, eu disse: ‘Para que é que vocês estão vendendo biscoito?’ Aí elas disseram: ‘Olha, porque nós temos um abrigo em Gravatá e a gente tava precisando de ajuda’. Na hora eu disse para elas: ‘Olha, por que vocês não aproveitam para vender depois das missas?’ Toda missa, eu dou o aviso, vocês vendem”, relatou o sacerdote sobre o início do seu trabalho como protetor animal. 

A partir dali, o Padre João Paulo se aproximou da ação que visava a cuidar e garantir lares para cães que viviam em superlotação no abrigo. Os mais de 100 cães foram disponibilizados para as famílias através de eventos de adoção que aconteciam no fim das missas, em uma praça em frente à igreja. 

Ao fim de cada sermão, o padre avisava: “Olha, hoje no final da missa tem ali a feira de animais ou de adoção, vocês participem”. 

O envolvimento do sacerdote influenciou diversas pessoas, e a comunidade católica da igreja começou a se compadecer pelos pets também. 

“A gente começou a ver essa realidade dos animais abandonados. Então, colocamos comedores do lado de fora da igreja, onde os animais sempre tinham água e ração o dia todo. Apareceram alguns animais que começaram a frequentar a igreja, né? E até participar das missas”, contou. 

Junto ao movimento de proteção animal, foram ofertadas castrações gratuitas em parceria com a Universidade Federal Rural de Pernambuco e até campanhas de vermifugação e vacinação dos pets. 

O Padre João Paulo tem mais de 10 anos de envolvimento com a causa animalO Padre João Paulo tem mais de 10 anos de envolvimento com a causa animal - Cortesia/Padre João Paulo

Os poucos animais do abrigo que não conseguiram adoção foram distribuídos entre os protetores animais, incluindo o padre, que estavam encabeçando o projeto que daria fim ao local que só servia mesmo para acumular pets. 

"Como o grupo tinha em torno de umas 10 pessoas, a gente fazia reuniões mensais, tudo mais, é um pessoal muito dedicado à causa animal, aí a gente distribuiu entre nós, os que os que sobraram. Então eu peguei três, o outro pegou quatro, o outro pegou e aí a gente fechou o abrigo. O abrigo foi fechado, todos os animais foram adotados e não se usou mais aquele abrigo, aquele espaço", contou. 

Netflix
Em alguns casos mais difíceis, os pets eram apresentados dentro da igreja. Nesse ponto, o padre foi descoberto por uma equipe que estava produzindo uma série para a Netflix sobre o amor por cães. 

O reconhecimento por ações em prol da causa animal resultou em um episódio da série “Apenas Cães”, da Netflix. 

A série tem como mote apresentar aos espectadores a relação de cães com seus tutores, protetores e cuidadores. Na época da gravação o Padre João Paulo era responsável pela igreja localizada no Centro de Gravatá. 

Alguns tutores levam seus animais para acompanhar a missa
Alguns tutores levam seus animais para acompanhar a missa - Cortesia/Padre João Paulo

Foram três anos acompanhando boa parte do trabalho do sacerdote com a causa animal para a produção do episódio 4 da segunda temporada da série. 

Novo ambiente
Atualmente em Caruaru, na capela Hospital São Sebastião, o religioso também apoia ações em prol da causa animal. Por ser em um bairro mais afastado, a comunidade católica é menor, e o sacerdote atua dando apoio para protetores animais da região. 

Comumente o Padre João Paulo concede bênçãos aos animais que são levados para a igrejaComumente o Padre João Paulo concede bênçãos aos animais que são levados para a igreja - Cortesia/Padre João Paulo 

“Estando nessa igreja, eu mudei a estratégia. Por exemplo, eu comecei a ver que não é necessário, como eu faço em Gravatá, às vezes, pegar e levar pra minha casa. Eu posso dar apoio a quem já cuida de animais”, contou. 

O padre vive com apenas duas cadelinhas no momento, pois não conseguia mais dar conta de resgatar pessoalmente pets.

"Dos animais que eu resgatei pessoalmente que não foram adotados e que estão comigo, eu já cheguei a ter até 7 animais dentro de casa, hoje eu tenho só duas. Uma paraplégica e uma alérgica a Cecília e a mel", contou. 

Nem só de coisas boas
Há, porém, pessoas que não gostam de animais. Essas, por sua vez, encontram no distanciamento das redes sociais uma forma de atacar quem faz parte da causa animal. O Padre João Paulo conta que, comumente, recebe ameaças e comentários nas redes sociais por realizar ações relacionadas a animais e não a pessoas. 

“‘A igreja do padre fede a cachorro’, ‘eu não vou naquela igreja porque aquela igreja tem cachorro’... Isso eu já escutei demais. Até na internet, semana passada tava homem dizendo que queria dar uma pisa em mim, uma surra, dar um murro em mim. Toda semana tem isso, ameaça. Comentam ‘você não é um padre verdadeiro, você é um padre herege’, ‘como é que você leva cachorro para missa’, isso semanalmente”, afimou. 

Apesar de não se sentir abalado pelas ameaças, existem outras questões nos comentários das redes sociais que abalam o pároco. Em alguns posts, as pessoas comentam que ele faz ações para animais e não participa de projetos voltados para o cuidado com pessoas pobres ou crianças. 

“A igreja tem inúmeras atividades sociais. Agora eu tô numa pequena capela em Caruaru, então é mais reduzido, mas, por exemplo, em Gravatá, nós temos 16 obras sociais, inclusive abrigo para moradores de rua. E um dos trabalhos era com os cachorros”, explicou. 

Na capela do Hospital São Sebastião, em Caruaru, o padre faz visitas semanais aos pacientes e encabeçou um projeto para climatizar o hospital, que é público.

“As enfermarias eram com ventiladores, nós climatizamos todas, fazendo campanha de doações na igreja. Aí, porque você publicou uma coisa com o cachorro, você cuida mais dos cachorros do que das pessoas?”, perguntou o sacerdote. 

Mesmo com os julgamentos, o padre faz questão de reforçar que há mais pessoas bem intencionadas e mensagens positivas sobre o trabalho que realiza com os bichinhos. 

 

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