O movimento regenerativo: quando empresas decidem deixar o mundo melhor do que encontraram
O movimento regenerativo é uma nova etapa da responsabilidade corporativa que vai além da sustentabilidade. Enquanto a sustentabilidade tradicional se preocupa em reduzir danos, a regeneração propõe restaurar, curar e melhorar os sistemas naturais e sociais.
Patagonia, Tony’s Chocolonely e, mais recentemente, a Natura mostram que não se trata de utopia. É estratégia de negócios, cultura corporativa e, principalmente, sobrevivência diante da crise climática e social.
Patagonia: a ousadia de colocar o planeta como acionista
Nos Estados Unidos, a Patagonia se tornou referência mundial. Em 2022, o fundador Yvon Chouinard anunciou a doação da empresa inteira, avaliada em US$ 3 bilhões, para causas ambientais, segundo a BBC. Hoje, os lucros, cerca de US$ 100 milhões por ano, são destinados integralmente ao combate à mudança climática, como noticiou a Sustainable Review.
A Patagonia não só vende roupas técnicas: investe em agricultura regenerativa, em programas de reparo e reutilização de produtos e em cadeias de produção que restauram ecossistemas. O resultado, é um faturamento de US$ 1,2 bilhão por ano, mostrando que radicalismo ambiental pode ser altamente rentável.
Tony’s Chocolonely: regeneração social com gosto de chocolate
Na Holanda, a Tony’s Chocolonely nasceu de uma indignação. Em 2005, o jornalista Teun van de Keuken fundou a empresa após denunciar a exploração de trabalhadores na indústria do cacau.
De lá para cá, a marca se tornou líder no mercado europeu premium, alcançando faturamento de US$ 230 milhões em 2024. O impacto social é claro: a companhia paga preços justos a produtores, rastreia toda a cadeia e investe diretamente em comunidades da África Ocidental. Regeneração, neste caso, não é só ambiental. É social, é humana.
O Brasil no centro desse futuro
Foi nesse espírito que a Natura anunciou, em julho de 2025, durante um evento em São Paulo, a meta de se tornar 100% regenerativa até 2050. A empresa já mostra resultados concretos: para cada R$ 1 de receita, gera R$ 2,50 em impacto positivo, segundo seu relatório de sustentabilidade “Visão 2050”. Esse impacto se dá especialmente pela atuação com 44 comunidades agroextrativistas na Amazônia.
Se há um país com potencial para liderar o movimento regenerativo, é o Brasil. Temos a maior biodiversidade do planeta, segundo a Rainforest Alliance, além do conhecimento tradicional de comunidades locais e um setor agro que pode se beneficiar imensamente de práticas regenerativas. E há muito mais a explorar: segundo a Forbes Agro, a agricultura regenerativa pode movimentar US$ 1,4 trilhão anuais e criar 62 milhões de empregos se for implementada em larga escala.
O desafio da coragem
Mas não é simples. O risco do chamado “regenerative washing”, em que empresas usam o discurso sem mudar práticas, é real, alerta a SSIR Brasil. Além disso, medir impactos positivos exige métricas novas e sofisticadas.
Ainda assim, o movimento cresce. Como disse recentemente o CEO da Natura em entrevista à Forbes, assumir a palavra “regeneração” requer coragem. E, em tempos de retrocessos em compromissos ambientais globais, coragem é exatamente o que precisamos.
O futuro já chegou
Às vésperas da COP30 em Belém, o Brasil tem a chance de mostrar ao mundo que regeneração é mais que discurso: é política pública, inovação empresarial e valor de mercado.
O movimento regenerativo não é uma moda passageira. É a evolução natural do capitalismo em resposta aos desafios do século XXI. O sucesso dependerá de quantas empresas estarão dispostas a ousar. A Patagonia, a Tony’s e a Natura já mostraram que é possível. Agora, cabe ao Brasil e às nossas empresas decidir se seremos protagonistas dessa transformação ou apenas espectadores.



