Rumo à COP30: da Emergência à Resiliência
O papel das coalizões na adaptação climática
No último dia 5 de novembro, participei do Summit Agenda SP + Verde, evento pré-COP30 que reuniu mais de 10 mil pessoas no Parque Villa-Lobos, em São Paulo. O encontro foi uma preparação simbólica para a conferência que acontecerá em Belém em 2025, colocando o Brasil novamente no centro das discussões globais sobre justiça climática e desenvolvimento sustentável.
No painel “O Impacto Territorial das Emergências Climáticas: Migrações, Deslocamentos e Vulnerabilidade”, debatemos como a crise climática já está redesenhando o território brasileiro e aprofundando desigualdades históricas. Como destacou a chefe do ACNUR no Brasil, Maria Beatriz Nogueira, as projeções indicam que até 2050 mais de 17 milhões de pessoas na América Latina poderão ser deslocadas internamente por eventos climáticos extremos. Esses números não são abstrações: refletem uma realidade que já se manifesta em comunidades atingidas por enchentes, secas e deslizamentos.
No Brasil, vimos em 2024 o quanto os desastres climáticos no Rio Grande do Sul escancararam a vulnerabilidade de milhares de famílias. Quando uma tragédia atinge os mesmos territórios e pessoas que já enfrentam pobreza, desigualdade ou deslocamento prévio, como o caso de refugiados e migrantes, a crise ambiental se torna também uma crise social e humana.
Durante o painel, compartilhei a experiência do Movimento União BR, que há anos atua em emergências humanitárias e reconstrução de comunidades afetadas. Essa trajetória evidencia algo fundamental: não basta reagir às tragédias, é preciso construir capacidade local para preveni-las e enfrentá-las com autonomia. Essa visão passa pela criação de coalizões territoriais, que integram governos, empresas, sociedade civil e comunidades em torno de um mesmo propósito.
Essas coalizões são a base de uma nova governança climática, permanente e não apenas reativa. Como ressaltou Eduardo Trani, assessor da Subsecretaria de Desenvolvimento Urbano de São Paulo, é nos municípios que a adaptação realmente acontece. São eles que conhecem o território, os riscos e as pessoas mais vulneráveis e, por isso, precisam de apoio técnico, institucional e financeiro para agir antes que os desastres ocorram.
A justiça climática foi o eixo central de nossa conversa. As populações mais pobres, mulheres, povos tradicionais e migrantes são os que menos contribuem para a emissão de gases de efeito estufa e, paradoxalmente, os que mais sofrem com seus efeitos. Por isso, a adaptação climática deve ser encarada não apenas como uma pauta ambiental, mas como uma política de proteção social.
Às vésperas da COP30, o Brasil tem a oportunidade de liderar pelo exemplo, mostrando que as soluções mais transformadoras nascem dos territórios e das alianças entre quem vive e constrói esses espaços. Transformar emergência em resiliência é possível, desde que haja continuidade, cooperação e compromisso com as pessoas que mais precisam.



