Um mês para a COP30: vamos começar a falar sobre ela?
A um mês da COP 30, que acontecerá em Belém entre 10 e 21 de novembro de 2025, é fundamental entendermos a magnitude e importância deste evento que colocará a Amazônia brasileira no centro das atenções mundiais. Pela primeira vez na história, uma cidade amazônica sediará a maior conferência climática do planeta, trazendo uma oportunidade única de discutir soluções para a crise climática diretamente no coração da maior floresta tropical do mundo.
O que é uma COP?
A sigla COP significa Conferência das Partes (Conference of the Parties), o encontro anual mais importante sobre mudanças climáticas no mundo. Trata-se da reunião do órgão supremo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), que reúne representantes de todos os países signatários da convenção, atualmente 193 países e territórios.
Criada como resultado da histórica Rio-92, realizada no Rio de Janeiro, a primeira COP aconteceu em 1995 em Berlim, na Alemanha. Desde então, estas conferências têm sido o principal fórum global para negociações climáticas, definindo metas, acordos e estratégias para enfrentar o aquecimento global e suas consequências.
O funcionamento da COP divide-se em duas áreas principais: a Zona Azul, reservada para negociações oficiais entre delegados governamentais e ONGs credenciadas, onde ocorrem as discussões formais e assinatura de acordos; e a Zona Verde, espaço aberto para eventos paralelos, workshops e exposições promovidas por organizações da sociedade civil, empresas e instituições acadêmicas.
Grandes Conquistas Históricas das COPs
Ao longo de três décadas, as COPs registraram marcos fundamentais na luta contra as mudanças climáticas:
Protocolo de Kyoto (1997)
Na COP 3, realizada no Japão, nasceu o primeiro acordo global com metas obrigatórias de redução de emissões de gases de efeito estufa. O protocolo estabeleceu que países desenvolvidos reduziriam suas emissões em média 5,2% em relação aos níveis de 1990, entre 2008 e 2012. Embora tenha enfrentado resistências, os Estados Unidos não ratificaram o acordo, o Protocolo de Kyoto representou o primeiro passo concreto para responsabilizar os países historicamente mais poluidores.
Acordo de Paris (2015)
A COP 21 marcou um divisor de águas ao aprovar o primeiro acordo climático verdadeiramente universal. Diferentemente de Kyoto, que se concentrava apenas nos países desenvolvidos, o Acordo de Paris engajou tanto nações ricas quanto em desenvolvimento em um esforço comum. O objetivo central é manter o aquecimento global "bem abaixo" dos 2°C em relação aos níveis pré-industriais, com esforços para limitá-lo a 1,5°C.
Pacto Climático de Glasgow (2021)
A COP 26 trouxe o primeiro documento oficial a mencionar explicitamente a "transição para longe dos combustíveis fósseis", estabelecendo diretrizes políticas para manter vivos os esforços de limitar o aquecimento a 1,5°C.
Compromisso com Perdas e Danos (2022)
Na COP 27, os países acordaram pela primeira vez a criação de um fundo específico para compensar países vulneráveis pelas perdas e danos causados por mudanças climáticas.
Transição Energética (2023)
A COP 28 em Dubai alcançou um acordo histórico ao fazer um apelo explícito para "abandonar os combustíveis fósseis" e estabeleceu a meta de triplicar a capacidade de energia renovável até 2030.
A Importância da COP 30
A COP 30 representa um momento crucial na agenda climática mundial por várias razões. Primeiro, marca o 10º aniversário do Acordo de Paris, momento em que os países devem apresentar novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) mais ambiciosas, alinhadas ao objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5°C.
O evento também integra a "Missão 1,5°C", iniciativa conjunta das presidências das COPs 28, 29 e 30 (Emirados Árabes Unidos, Azerbaijão e Brasil) para acelerar a implementação de ações climáticas e garantir que as metas dos próximos dez anos sejam cumpridas.
Mas o que torna a COP 30 verdadeiramente especial é sua localização. Pela primeira vez, líderes mundiais discutirão o futuro da maior floresta tropical do mundo estando fisicamente dentro dela. Como destacou o presidente Lula, "uma coisa é discutir a Amazônia no Egito; outra coisa é discutir a Amazônia em Berlim; outra coisa é discutir a Amazônia em Paris. Agora, não. Agora nós vamos discutir a importância da Amazônia dentro da Amazônia".
A Amazônia no Centro do Debate Global
A escolha de Belém como sede não é apenas simbólica, é estratégica. A Amazônia desempenha papel fundamental no equilíbrio climático global, funcionando como um dos maiores reservatórios de carbono do planeta. Estima-se que a floresta armazene cerca de 100 bilhões de toneladas de carbono, ajudando a regular a concentração de CO na atmosfera.
Além disso, a Amazônia influencia o clima muito além de suas fronteiras. Através do processo de evapotranspiração, a floresta cria os chamados "rios voadores", massas de vapor d'água que se deslocam pelo ar, levando umidade para o Centro-Oeste, Sul e Sudeste brasileiro, e até mesmo para países vizinhos como Paraguai, Uruguai e norte da Argentina.
O bioma também funciona como um "ar condicionado mundial", ajudando a estabilizar temperaturas globais e padrões climáticos. Cientistas estimam que, sem a floresta amazônica, a temperatura global poderia subir ainda mais drasticamente.
Desafios Climáticos Atuais
A COP 30 acontece em um momento crítico. A última década (2011-2020) foi a mais quente já registrada, e as concentrações de gases de efeito estufa estão em seus níveis mais altos em 2 milhões de anos. As consequências já são visíveis: secas intensas, ondas de calor recordes, tempestades mais severas, aumento do nível do mar, derretimento de calotas polares e declínio acelerado da biodiversidade.
O desafio é imenso: para manter o aquecimento abaixo de 1,5°C, as emissões globais precisam ser reduzidas em cerca de 50% até 2030 e chegar à neutralidade até 2050. Isso exige uma transformação sem precedentes em setores como energia, transportes, agricultura e indústria.
O Papel de Liderança do Brasil
O Brasil assume a presidência da COP 30 com credenciais importantes. O país é referência mundial em biocombustíveis e possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, quase 90% da eletricidade vem de fontes renováveis, comparado à média global de apenas 40%.
Recentemente, o país apresentou uma ambiciosa NDC, comprometendo-se a reduzir entre 59% e 67% das emissões de gases de efeito estufa até 2035, além de ter mostrado redução significativa no desmatamento da Amazônia e do Cerrado.
Como anfitrião, o Brasil tem a responsabilidade de mediar diferentes posições e facilitar acordos que acelerem a implementação de soluções climáticas. O país também lançou a inovadora Plataforma Brasil de Investimentos Climáticos e Transformação Ecológica (BIP), reunindo investidores, financiadores e projetos prioritários para a transição econômica.
Um Momento Decisivo
A COP 30 não será apenas mais uma conferência climática. Será o momento de transformar décadas de discussões e compromissos em ações concretas e urgentes. Com mais de 40 mil participantes esperados em Belém, incluindo chefes de Estado, cientistas, ativistas e representantes da sociedade civil, a conferência oferece uma oportunidade única de acelerar soluções que já existem e desenvolver novas estratégias para enfrentar a crise climática.
O sucesso da COP 30 dependerá da capacidade dos países de superarem diferenças geopolíticas e priorizarem o interesse comum da humanidade. Em um mundo marcado por conflitos e divisões, a conferência em Belém pode demonstrar que ainda é possível a cooperação internacional quando o futuro do planeta está em jogo.
Mais do que um evento diplomático, a COP 30 representa uma chance de reconectar as discussões climáticas globais com a realidade local das comunidades que mais sofrem com as mudanças climáticas. Na Amazônia, onde vivem 34 milhões de pessoas e mais de 385 grupos indígenas, as soluções não são apenas técnicas, são também sociais, culturais e éticas.
A conferência de Belém promete mostrar ao mundo que a luta contra as mudanças climáticas não se dissocia da luta pela justiça social, pelos direitos humanos e pela preservação da maior diversidade biológica e cultural do planeta. Este é o verdadeiro significado da COP 30: uma oportunidade de construir um futuro mais sustentável e justo, com a sabedoria milenar da floresta e de seus povos iluminando o caminho para todo o mundo.



