Sex, 05 de Dezembro

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Nem 8, nem 80

Enfim, a crença numa ciência renovada

O Nobel de economia realça a inovação, mesmo sem uma visão ampla de plano sustentável

Alfredo BertiniAlfredo Bertini - Rafael Melo/Folha de Pernambuco

Em tempos de velhas assombrações obscurantistas tão onipresentes, quando até descrente na ciência se autopromove como merecedor de um prêmio Nobel, é interessante constatar um reforço redobrado no valor científico-tecnológico. A indicação desta semana, dirigida aos três premiados dedicados às pesquisas na ciência econômica, é um bom retrato do que pode representar o real valor dos que fazem a ciência e a tecnologia acontecerem.

Cabe dizer que essa constatação não é apenas pelo compromisso acadêmico natural de se manter a Economia na alçada científica. É também pelo entendimento que pode ser extraído da justificativa da premiação em si. Afinal, Joel Mokyr, Phillippe Aghion e Peter Howitt foram laureados porque reconheceram nas suas análises a importância da inovação para explicar o crescimento econômico. Mesmo que a construção das ideias de cada um, não priorize a inserção dos valores educacionais e ambientais como variáveis de um plano sustentável de crescimento. Acima de tudo, vale mesmo enaltecer os laureados pela valorização reservada à inovação, através do que pode ser agregado, seja pela ciência como pela tecnologia. Mensuradas ou não pelas análises qualitativas e quantitativas, penso que algum meio de formação educacional e de preservacionismo ambiental pode estar inserido, sutilmente, nos modelos analíticos. Até mesmo pela simples intenção de mirar e fortalecer o que precisa ser, verdadeiro e rigorosamente, sustentável.

De fato, os trabalhos do trio mantêm essa forte conexão pelo sentido de considerar a inovação como fator de produção essencial à dinâmica econômica, mesmo que o tema tenha sido estudado por linhas diferentes. Num primeiro plano, Mokyr foi que se encarregou de explicar, por meio de sólidos argumentos históricos e institucionais, o quanto a base científica que respalda a inovação é capaz de contribuir para o crescimento contínuo da economia. E fez isso, numa contemplação que observou desde a revolução industrial. Num outro plano, Aghion e Howitt desenvolveram seus modelos, nos quais esse tal crescimento econômico, foi visto numa perspectiva de longo prazo. Nesse contexto, as inferências não são dadas apenas pela acumulação de capital convencional. O fundamental foi alcançar um vetor resultante de crescimento, que fosse provocado por uma dinâmica contínua de inovação científica e tecnológica. 

Num tempo hoje comprometido pelos brutais avanços, que têm transformado o mundo, da urgência da transição energética à revolução digital já afetada pela inteligência artificial, nada mais consistente que o mérito de se reconhecer o real valor da inovação.

Na essência, a premiação deste ano, dirigida ao segmento da economia, funcionou como uma reconsideração do papel da ciência e da tecnologia, num mundo que ainda carece de fortalecer os pressupostos de um crescimento sustentável. Também serviu para que os descrentes com esses compromissos, compreendam as limitações de uma sociedade por eles projetada, que ainda vive sob a égide da insegurança provocada pelo obscurantismo. O conhecimento adquirido por testes ou provas tem mesmo outra pegada.

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