Sex, 05 de Dezembro

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Nem 8, nem 80

Fatos econômicos e uma nova realidade

Lições demográficas, descentralização do deficit fiscal e crise na engenharia

Alfredo BertiniAlfredo Bertini - Anderson Stevens/Arquivo Folha

Uma das boas frases de Luiz Fernando Veríssimo diz que "quando a gente acha que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas perguntas". De fato, o inesperado e imprevisível, enquanto situações para adaptação, estão na ordem do dia. Não poderia ser diferente na economia. 

Nas minhas análises, costumo dar relevância à iminência de um plano de desenvolvimento sustentável, mas não deixo de registrar os ajustes apropriadas ao modelo. Nesse sentido, considero importantes mudanças, que sirvam para atualizar e revisar as análises. É como imaginar uma função qualquer, que precisa ser mostrada pelas suas variáveis mais explicativas e determinísticas. Com esse nexo causal, o ritmo dado pela economia brasileira parece ser influenciada agora por três novas situações: a) o chamado bônus demográfico; b) a descentralização fiscal derivada de outro alinhamento dos gastos públicos; e, c) a inquietante perda de profissionais de engenharia.

De frente, logo relevo o estágio de transição demográfica que o Brasil atravessa, visto pelo envelhecimento da população. Esse perfil, tratado como bônus demográfico, gera mudanças nos valores. Afinal, aspectos positivos e negativos passam a ser notados, de modo que isso só aumenta o desafio do planejamento. 

Se, por um lado, essa transição traz enormes preocupações com a previdência e saúde, por outro, mostra o impacto de uma revisão sobre o que a educação pode proporcionar, enquanto tema vital para a sociedade. Neste ponto, com base num plano bem construído, pela real possibilidade de fazer a educação acontecer de modo firme. Com menos jovens para educar e mais rigor na formação, pode-se alcançar uma melhor qualificação da mão de obra e se conquistar ganhos de produtividade.

A questão da descentralização do deficit fiscal é um fenômeno novo. Pesquisa recente da FGV revelou um crescimento de 37% dos gastos nas esferas estadual e municipal, no período 2021/24.  Em larga medida, um avanço motivado através receitas nutridas por transferências, negociações de dívidas com a União, empréstimos, emendas parlamentares e uma livre melhora nas arrecadações dos impostos. Assim, tão importante quanto mirar para essa descentralização, passa a ser agora imaginá-la noutra ordem de grandeza. Assim, todo rigor da política monetária do Banco Central, parece-me estar ameaçado, diante de uma nova e diferente realidade fiscal. Tem-se agora esse indicador dos gastos, que precisa ser assimilado. Uma mudança instigante, dado o ano eleitoral que se projeta para 2026.

Por fim, causa perplexidade um descompasso profissional que advém hoje da limitação na carreira de engenheiros. Isso diante da urgência de se retomar os investimentos, num quadro de debilidade na infraestrutura. Do fracasso numa educação que não corrige a falha estrutural com os estudos da matemática e da física, até a consagração da queda de matriculados e da evasão, percebida nos cursos de engenharia, o que parece ser pontual e simples, transforma-se em mais um duro desafio econômico. 

Pelo visto, fatos realistas de um mundo em mudanças brutais, fazem a urgência de uma melhor calibragem nos planos de desenvolvimento. Novas perguntas são desafios constantes, para que se atente às respostas que a sociedade espera.

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