Sex, 05 de Dezembro

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Nem 8, nem 80

Quando a intenção costuma ser frustrada pela realidade

Chegou o momento de segurar o crescimento da taxa de juros e o BC ajustar a política monetária

Banco Central do BrasilBanco Central do Brasil - Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Embora as intenções econômicas sejam aspectos que costumam mover as expectativas da sociedade e, em particular, dos mercados, a força decisória de quem faz a política acontecer valida a situação. Não é à toa que, no lado de quem opere com o controle da moeda, há quem trate o ofício do Banco Central como de uma real Autoridade Monetária. E ninguém duvida disso. Até parece que quem senta numa das cadeiras do BC, assimila a "cultura institucional" de não abrir brechas da missão de guardião da moeda e, por extensão, de ser fiscal do nível geral dos preços. 

De fato, com tamanha identidade institucional, pouco se escuta o clamor de quem está do outro lado. O danado é que, por mais que eu também tenha minhas preocupações com os controles das políticas monetária e fiscal, há momentos que o gestor precisa relaxar, embora que, de um modo preventivo, se assim puder me expressar. Para isso acontecer, penso que a iniciativa é como de um "médico cauteloso", que tira a temperatura, faz uso de exames prévios e daí toma uma decisão mais embasada, sem perder
de vista o controle.

Faço esse paralelo, porque percebo que as condições ambientais que a economia brasileira tem operado, podem não ser definidas como ideias, mas estão num patamar de controle tal, que alguns indicadores dão sinais de estabilidade. Não há sintomas conjunturais que levem a um estado de preocupação, suficiente para perder o combate à meta inflacionária. Nessas horas, a obsessão técnica não precisa depender dos seus rigores, nem muito menos das pressões que vêm das ideologias e dos políticos. 

Diante dessa circunstância, agreguei minhas expectativas ao que projetava os setores mais flexíveis, com relação ao ritmo que vem sendo ditado pela alta das taxas de juros. A decisão do COPOM por mantê-la no degrau dos 15% foi mesmo frustrante. A perda pela sinalização de um corte de meio ponto percentual (14,5%) não causaria mudanças tão profundas, mas teria um efeito psicológico de abraçar as boas expectativas, numa aposta clara de que a estabilidade macroeconômica é fato e pode ser melhorada.

E então? Não houve de quem opera na Faria Lima até aqueles que militam no PL, uma total incredulidade com relação ao exercício da presidência de Gabriel Galípolo? Claro que duvidar da independência dele já era um "erro de avaliação", já na partida do processo, justo pelo falho entendimento de que o viés ideológico falaria mais alto. Pelo contrário, percebo que o presidente já está sob "contaminação da identidade cultural do BC", uma vez que, nem para flexibilizar a política monetária, ele se mostra tão maleável assim.

A realidade se impõe acima das intenções, quando se está do "portão para dentro" do território do BC.

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