Teorias de Furtado e Tarifaço no NE
Oportunidades para revisões na dinâmica do desenvolvimento regional
Indiscutivelmente, Celso Furtado foi o principal protagonista do nosso pensamento econômico, que despertou interesse pela desiguldade regional, nas suas teorias sobre desenvolvimento. Por mais que enxergue alguns equívocos instrumentais do Mestre, as linhas gerais do seu modo de entender a trajetória e alcance do desenvolvimento econômico seguem em voga, sobretudo, nestes tempos de retomada de questões como dependência e soberania.
Destaco que suass teorias enaltecem a necessidade de ser o desenvolvimento econômico algo maior que um mero crescimento. Um contexto que precisa ser planejado, com ações de justiça equitativa e, socialmente, inclusivas.
Ou seja, o plano ideal para desenvolver a economia, deve ser via políticas públicas que referenciem as particularidades dos espaços geográficos. Tanto faz que seja local, regional ou nacional. O alvo é efetivar o exercício de superação da dependência, em nome da construção de uma sociedade mais equlibrada e desenvolvida. Nesse ritmo, o subdesenvolvimento não representa um simples estágio atrasado, no esforço pelo desenvolvimento. Ele é consequência de um processo histórico de dependência estrutural, dado pela dinâmica das economias centrais.
A essência desses conceitos de Furtado está presente numa trilogia de obras clássicas. De FORMAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL (1959), passando por TEORIA E POLÍTICA DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO (1967) e chegando até O MITO DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO (1974), o que se extrai é uma evolução de pensamento, na qual o alvo do desenvolvimento não está em crecer o PIB. É preciso compromisso com a superação de um processo histórico de dependência que reduza as desigualdades e, por conseguinte, a melhoria da qualidade de vida da população. Entendo que essa visão de futuro, evoluída no intervalo dado pelo início dos anos 60 até meados da década seguinte, representa os primeiros sinais do quanto ser essencial que o desenvolvimento seja sustentável.
Na particularidade de uma economia como a nordestina, as intervenções públicas iniciadas por Furtado, não foram a fundo nas questões estruturais, até por se enxergar uma realidade diferente à época. Hoje, percebo que tais políticas não passariam pelo rigor de uma régua, capaz de medir a sustentabilidade. Certamente, que o teor do velho GTDN e seus desdobramentos, por ignorar valores transformadores, dispensou a relevância do "capital humano".
Assim, mesmo que na metade da segunda década do século XXI, não se tem em conta um outro perfil de Nordeste, menos dependente do peso das commodities nas exportações, por mais que essas expressem dimensões econômicas. Mas, de Furtado, há sempre lições importantes. Neste momento, o efeito de validar a soberania nacional, além de promover e ampliar a diversidade produtiva. Taí um contexto de revisão que seja capaz de propiciar um novo processo de desenvolvimento regional.
A "trumpetada" vista pelo tarifaço, apesar de toda influência política que gerou sua proposição absurda, expôs a forte dependência dos nossos exportáveis. Em relatório recente, publicado pelo Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Banco do Nordeste (ETENE/BNB), o registro percentual da pauta de exportações do NE para os EUA, que está impactado pelo tarifaço é da ordem de 73%. Até pela importância de ser também o segundo destino das exportações regionais, o efeito tem enorme significância.
Que essa adversidade possa mesmo inspirar uma revisão, ainda que atrasada, no modelo de desenvolvimento. Assim, ao se intensificar o foco na sustentabilidade, seja possível trazer para a alçada da economia regional, os valores da educação, cultura e inovação científico-tecnológica. Quem sabe?



