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Bilinguismo na infância: como aprender inglês impulsiona o desenvolvimento cognitivo

Comprovações científicas apontam:educação bilíngue favorece o desenvolvimento das funções executivas

Professora Pérola Silva, docente de Língua Inglesa da Blue School RecifeProfessora Pérola Silva, docente de Língua Inglesa da Blue School Recife - Divulgação

Comprovações científicas apontam que a educação bilíngue favorece o desenvolvimento das funções executivas, como foco, controle inibitório, memória de trabalho e tomada de decisões, ao mesmo tempo em que incentiva criatividade, autonomia e abertura cultural

Quando uma criança aprende inglês desde cedo, não está apenas acumulando vocabulário e estruturas gramaticais. De acordo com pesquisas de neurociência, ela está literalmente modificando conexões neurais. Estudos mostram que crianças bilíngues apresentam maior plasticidade cerebral, melhor controle inibitório e maior capacidade de alternar entre tarefas, um conjunto de habilidades diretamente relacionado à aprendizagem ao longo da vida.

Um relatório recente da American Academy of Pediatrics aponta que crianças expostas regularmente a mais de um idioma desenvolvem maior densidade de massa cinzenta em áreas do cérebro associadas à memória e à tomada de decisão. Já pesquisadores da Universidade de Cambridge identificaram que o bilinguismo precoce se correlaciona com avanços expressivos em resolução de problemas, criatividade e pensamento divergente. O acúmulo dessas evidências científicas ajuda a explicar o crescimento da educação bilíngue no Brasil, impulsionado pela percepção das famílias de que o inglês deixou de ser apenas um componente curricular para se tornar uma ferramenta cognitiva e cultural.

Para a professora Pérola Silva, docente de Língua Inglesa da Blue School Recife, o impacto do bilinguismo ultrapassa a fluência. “O bilinguismo reorganiza caminhos no cérebro. Quando a criança alterna entre línguas, ela ativa funções cognitivas de alto nível, como foco, memória e tomada de decisão. Isso fortalece habilidades que ela transfere para todas as áreas da vida escolar”, afirma. Segundo a educadora, a infância é um período em que a plasticidade cerebral opera no ápice, facilitando aquisição de pronúncia, memorização e integração do idioma ao cotidiano. “Quanto mais cedo o contato, mais natural é o processo. A criança não decora; ela vivencia. E, quando aprende vivenciando, ativa áreas cerebrais relacionadas à criatividade e ao pensamento crítico.”

A relação entre bilinguismo e cognição também aparece em estudos da Harvard Graduate School of Education. Pesquisadores identificaram que estudantes bilíngues apresentam desempenho superior em tarefas que exigem flexibilidade cognitiva, memória de trabalho e adaptação a novos cenários. A explicação está na alternância constante entre idiomas, que obriga o cérebro a trocar rapidamente de estratégia, aprimorando processos decisórios e o controle de atenção. Pérola reforça a análise: “Quando o aluno precisa decidir mentalmente qual idioma usar, ele treina exatamente o tipo de flexibilidade que depois aplica para resolver um problema matemático ou interpretar um texto.”

Os efeitos, contudo, não se restringem ao campo cognitivo. Pesquisas do Center for Early Childhood Education mostram que crianças bilíngues tendem a demonstrar maior sensibilidade cultural e níveis mais profundos de empatia, resultado da exposição a diferentes repertórios simbólicos. Na Blue School Recife, essa abordagem aparece integrada ao currículo. “Quando ensinamos inglês, ensinamos também outras formas de ver o mundo. Os alunos têm contato com hábitos, histórias, sabores e músicas de diversas culturas. Isso amplia repertórios e ajuda a consolidar a identidade”, explica a professora.

Enquanto o país avança na expansão da educação bilíngue, especialistas destacam que os impactos desse processo são duradouros. Estudos do MIT Language Acquisition Lab indicam que crianças bilíngues mantêm, na vida adulta, maior capacidade de aprendizagem e melhor desempenho em tarefas que exigem raciocínio complexo. Para Pérola, o benefício transcende o ambiente escolar. “O bilinguismo é uma porta aberta. A criança ganha não só um idioma, mas um cérebro mais preparado para aprender, criar e se adaptar. Isso faz diferença agora e fará daqui a 20 anos.”

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