Covid-19 não é neutro ao gênero
Numa cultura machista e patriarcal, as mulheres encontram a realidade de que o COVID não é neutro ao gênero. Além de sermos a maioria na linha de frente na luta contra a doença, estamos mais presentes nas atividades não remuneradas. Conversamos com a economista e técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), Cristina Vieceli, sobre os temas ao redor dessa realidade e ela compartilhou dados e informações bastante interessantes.
Elas
De acordo com o Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), em 2018, trabalhavam como médicas(os), enfermeiros(as), técnicos e auxiliares de enfermagem 1.488.153 pessoas; destas, 78% eram mulheres e 22% eram homens. A exemplo do que acontece na totalidade do mercado de trabalho, a remuneração das mulheres é inferior à masculina em todas as categorias. No geral, a renda média feminina foi de 3,83 salários mínimos, enquanto a masculina permaneceu em 6,44 salários mínimos, ou seja, uma diferença de 68,13%.
Não remunerado
Além disso, somos as que mais realizam trabalho de forma não remunerada, o que reforça a cultura enraizada. O trabalho não remunerado é aquele realizado e que a pessoa não recebe remuneração. São os serviços voluntários, os cuidados com as crianças, os doentes e os idosos, com a cozinha e a limpeza, em casa.
Empregadas domésticas
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra a Domicílios (PNAD – C), em 2018, as(os) brasileiras(os) despenderam semanalmente em média 16,8 horas para essas atividades; dessas, 10,9 horas foram dedicadas pelos homens e 21,3 horas pelas mulheres. Para completar, as mulheres são maioria absoluta entre as empregadas domésticas e cuidadoras, – aproximadamente 97% da categoria é composta por mulheres, em especial negras.
Gênero
Segundo a economista Cristina Vieceli, as questões de gênero são questões estruturais, difíceis de mudar se não tiver a participação da sociedade e políticas públicas focadas em transformar esse cenário. “Os homens precisam entrar nas áreas da casa na família, mas isso não vai acontecer de forma natural”, explica a lajeadense, Cristina, Doutora em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Diálogo
Para a economista, o primeiro passo é a sociedade dialogar e trazer essas informações à luz. “Precisamos de incentivo de cotas nos cargos de diretorias das empresas e nos espaços públicos. A licença parental também já é realidade em muitos países, tudo isso para incentivar que os homens colaborem em casa”, pontua Cristina.
Mercado de trabalho
Outro ponto citado é o papel das empresas privadas em flexibilizar a jornada de trabalho e em ser uma empresa amiga. No âmbito do Poder Público, ela cita a necessidade de ter uma maior oferta de creches e escolas infantis, afinal quanto mais espaço para as crianças, mais a mulher vai para o mercado de trabalho.
Meninos
Particularmente, acreditamos que essa semente de uma nova cultura de equidade deve começar desde cedo ao implantar essas “novas” ideias nas crianças, em casa e nas escolas. Cabe também às mães de filhos meninos mudarem o olhar retrógrado e arcaico. “O trabalho não remunerado não é um trabalho natural da mulher. Deveriam ser atividades compartilhadas”, destaca a economista.


