A crise no século XXI. Para onde vamos? As mudanças (1)
A formação de blocos econômicos, como o Brics, enseja o realinhamento de acordos comerciais
Duas mudanças importantes ocorrem no cenário internacional. Substituição das superpotências da guerra fria por blocos econômicos: União Europeia, Brics e Mercosul. E o surgimento de liderança nacional-populista nos Estados Unidos, Donald Trump.
A substituição de duas superpotências (Estados Unidos e Rússia) por blocos econômicos altera a relação de forças de duas maneiras: primeiro, amplia a distribuição de poder global, antes concentrado em duas superpotências. E estabelece um guarda-chuva de proteção econômica e militar para um número maior de países. Como já ocorre na União Europeia. E tende a acontecer com o Brics.
A formação desses blocos econômicos enseja o realinhamento de acordos comerciais. Podendo diminuir (ou não) o grau de dependência de alguns países. Porque aumenta o número de interlocutores nacionais no âmbito de cada bloco. Por exemplo: a participação da Arábia Saudita no Brics gera chance de mais negócios com Brasil e África do Sul. Do que acontecia antes.
Por outro lado, acertos internos, na esfera cada bloco, podem facilitar a formação de maior consenso em impasses pendentes na ONU. Ou não. Mas surge a oportunidade de se tentar abrir áreas de entendimento. Porque vontades consensuais vão se constituindo no espaço de cada bloco.
Poderá ocorrer uma dificuldade. De natureza ideológica. A tendência de um dos blocos seguir historicamente um tom mais político. A vez da China. Potência econômica e tecnológica forte, especialista em inteligência artificial, e dona das maiores reservas mundiais de minerais em terras raras. Com capacidade de construir assimetrias.
De qualquer modo, no âmbito de grupos com mais de uma dezena de nações, será possível obter vias mais largas de negociação. Com alternativas de compensação econômica e composição de interesses. Sob a forma de negócios, investimentos ou associação de projetos empresariais e tecnológicos.
A segunda mudança importante no cenário internacional é o surgimento de liderança nacional-populista: Donald Trump. O segundo mandato de Trump acentuou modelo político fortemente nacionalista e popular. Internamente, com medidas contrárias aos princípios federativos: envio de tropas federais aos estados, intervenção no Federal Rerserv e suspensão de verbas visando maior controle sobre universidades.
Externamente, o nacional-populismo de Trump opôs-se ao multilateralismo. Com ausência norte-americana em organismos e programas de ajuda internacionais. Principalmente nas áreas de comércio, meio-ambiente e saúde. Esse tipo de nacionalismo revive uma política ultrapassada dos séculos XIX e XX. Que resultou em duas Guerras Mundiais. E no aparecimento do nazismo.
O dano mais extenso e profundo no nacional-populismo de Trump é na democracia. Porque o regime democrático norte-americano sempre se mostrou referência mundial. Em função de sua institucionalidade. Apoiada nos papers dos founding fathers. E também porque a democracia ao Norte exibia fortaleza incontrastável. Não confirmada no episódio do Capitólio. Viu-se a incapacidade institucional dos norte-americanos de processar e julgar o ex-presidente. Aqui, o Estado brasileiro foi capaz de fazê-lo.



