Sex, 05 de Dezembro

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Um Ponto de vista do Marco Zero

O novo velho colonialismo. E o custo do parlamentar

Após a época das superpotências, o multilateralismo aperfeiçoou as chances do comércio mundial

Não cabe a mandatário estrangeiro se imiscuir em assuntos que são do domínio exclusivo da decisão do Estado brasileiroNão cabe a mandatário estrangeiro se imiscuir em assuntos que são do domínio exclusivo da decisão do Estado brasileiro - Andrew Harnik / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP

 “Governo autoriza crédito de R$ 30 bilhões para enfrentar crise”

   Folha de Pernambuco

Tempo é memória. Numa era de dependência. Países desenvolvidos vendem manufaturas aos países sub. Países sub vendem bens primários aos países desenvolvidos. E, assim, é perpetuado o ciclo da dependência. Entre ricos e pobres. Que lembra o processo de avanços e recuos do crescimento. A revolução industrial, na Inglaterra, no século XIX. A evolução tecnológica, no Japão, no século XX. A consolidação global do ciclo eletrônico, no século XXI.

Após a época das superpotências, o multilateralismo aperfeiçoou as chances do comércio mundial. Estimulando a competição. E cobrando produtividade. Que é filha da escolaridade. Multilateralismo significa concerto. Descentralização de poder. Democratização de decisões. Antes na exclusividade russo-americana. Agora, nas mãos desconcentradas da União Europeia, do BRICS e do Mercosul.

Daí, o inconformismo de Trump. Seu tarifaço é um autoengano. Ausência de imaginação criadora. Na amarga ilusão de oligarquia plutocrática. E digital. Que já lhe custou a distância do número um, deles. É apenas o começo. Vem, aí, inflação doméstica. Via custo fiscal. Vem também desaceleração do crescimento. Via ambiente de incerteza. Acalentado no berço autoritário de atos executivos. Erráticos. E isolamento. Pois só se constrói parceria sustentável em clima de confiança.          

Na verdade, no caso brasileiro, sanção tarifária é apenas um véu. Que encobre pacto político. Menor. De um lado, Trump, no propósito de fragilizar um Estado soberano. Que não se curvou à sua majestade anti-republicana. De outro lado, um parlamentar brasileiro. Herdeiro de votos. De vocação temerária. Que propôs reles troca. Desleal ao seu país. E infiel ao eleitor. Trata-se de episódio singular. Em cenário maior: disputa geopolítica. Por meio de blocos econômicos. Que exibe disputa comercial. E luta ideológica. Ao aparecer protagonista, sem limites, surge a sanção.

Um novo planeta, geopolítico, está sendo costurado. Mais aberto, no comércio. Mais dialogal, politicamente. O Brasil é partícipe. De modo crescente. Mas, precisa baixar as tarifas que cobra sobre os bens importados. Elevadas, para tender a pressão política da FIESP. Incrementando, assim, a produtividade da indústria nacional. A segunda providência é equilibrar a distribuição das exportações nos diversos mercados.

O presidente Trump fez duas novas declarações. Primeira: que “o Brasil é parceiro comercial horrível”. Isto não corresponde aos fatos. O Brasil é deficitário na balança comercial com os EUA. Segunda declaração: que “a Justiça brasileira realiza a execução judicial do ex-presidente Bolsonaro”. Ora, o ex-presidente está sendo processado, cumpridos todos os requisitos do devido processo legal. E não cabe a mandatário estrangeiro se imiscuir em assuntos que são do domínio exclusivo da decisão do Estado brasileiro.  

O presidente Trump encerrou suas palavras mencionando que “vai ser assim”. Significa dizer que o Brasil está diante de velho novo colonialismo. Que não cabe na geopolítica do século XXI. O mundo mudou. Só Narciso não viu.

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