Sex, 05 de Dezembro

Logo Folha de Pernambuco
Um Ponto de vista do Marco Zero

O segredo de Polichinelo

São os Estados Unidos. Um sonho. Nascidos de treze colônias

São os Estados Unidos. Um sonho. Nascidos de treze colôniasSão os Estados Unidos. Um sonho. Nascidos de treze colônias - CHARLY TRIBALLEAU / AFP

Eles são feitos de imigrantes. Ingleses, irlandeses, italianos, espanhóis, eslovenos, húngaros, japoneses, indianos, mexicanos, brasileiros, salvadorenhos, cubanos, colombianos. São os Estados Unidos. Um sonho. Nascidos de treze colônias. Contratadas na convenção da Filadélfia. Com fiança política dos founding fathers. Madison, Hamilton e Jay.

Tomar chá só com pouco imposto. Por isso, expulsaram os ingleses em 1776. E, em 1865, costuraram a união. Evitando secessão braba. Pela brava inspiração de Lincoln. Que aboliu a escravidão. Pensando na unidade entre Nortista progressista e Sulista escravista. Lapidados por incontornável pragmatismo. Ignoram o fraseado ocioso.

Na música, contam com um mágico da melodia. Noite e dia. Night and day. Cole Porter. Qualquer canção dele é digna de ser ouvida. Caiu do cavalo. E sofreu muito estirado na cama. Adorado pelos brancos. Depois, veio o negro. Louis Armstrong. O Satchmo. De New Orleans. Trompetista, cornetista, saxofonista. Produziu junção virtuosa entre instrumento e canto. Voz e som. Em solos improváveis. What a wonderful world. E Cabaret.    

No cinema, foram seduzidos por uma tragédia loura. E encantados por um tri-campeão de Oscars. Marilyn Monroe. Que cantou Happy Birthday para um presidente americano. No Madson Square Garden. Vestindo um colant, brilhante, inebriante, aplicado ao corpo, na hora do show. E Jack Nicholson. Que atuava como se estivesse, relaxadamente, tomando scotch na Rodeo Drive. Foram três Oscars: Um Estranho no Ninho, Melhor Impossível e Laços de Ternura.         

Na política, ah, a política. Quem já foi a Arkansas? Ninguém. Mas, foi lá que nasceu Bill, o do saxofone. Que tocou no Salão Oval. E, até hoje, exibe um ar blasé de quem sai flanando pela orla de San Francisco. Depois, chegou o Ronald. Vindo de Hollywood. Ninguém acreditava no ator. Ele deu seu show. Fiel ao script. Sucedendo a uma aristocracia Bostoniana. Dos Kennedy. Fundada pelo patriarca, embaixador. Joseph. Pai de John, fuzilado no Texas. E de Robert, baleado num corredor da polícia. Uma tragédia Shakespereana.

Não faltou lugar para os encanadores. Watergate. Uma presidência que tocou os dois limites. Do sucesso e do fracasso. O nexo causal. O Nixon casual. Capaz de ouvir o gênio alemão: Kissinger. E de praticar a insensatez da espionagem reles e provinciana. Terminou impedido.

Sim, em seguida, um negro. Sestroso. Parecendo um diretor da Mangueira, na elegância. No porte, poderoso e leve. Vindo da rosa dos ventos de Chicago. O Barack. Obama. Com Michele. Tirou a certidão da democracia, passada no cartório ético e étnico das urnas manuais.

E, afinal, mas não finalmente, o Donald. Não, não o Pato. O da tower. Que faz do grito, tática para negociar. Que conhece interesse público e sacada privada. Que corre para aplaudir Putin. E espera sentado para passar carão, como anfitrião. Um raio. Que deflagra tempestade. Desata o inusitado. Proclama o provisório. E oculta o definitivo. Pretende estabelecer eixo da extrema direita. Atravessando o equador. Começando por Brasília. Numa manobra espetacular. Vestindo o propósito político com descombinada fantasia comercial.

E como o Adágio (não o de Albinoni) precede o Andante Majestoso, poderoso, é bom usar régua e compasso. Para se fazer respeitar. Sem retrucar. Apenas, medir. A época da resiliência. E o compasso de paciente espera. Para colher, no tempo certo, como jardineiro, rosas e girassóis. Carregados nas asas de aurora concertada.    

Veja também

Newsletter