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Uma Série de Coisas

“Mentirosos”, série teen ambientada em universo de riqueza, culpa e segredos

Adaptação da obra de E. Lockhart foca em conflitos entre jovens herdeiros

Adaptação de "Mentirosos" tem uma temporada disponível na Prime VideoAdaptação de "Mentirosos" tem uma temporada disponível na Prime Video - Divulgação/Prime Video

A adaptação de “Mentirosos”, da Prime Video, não tenta disfarçar o que é: uma série adolescente sobre gente rica, com reviravoltas, ressentimentos familiares e romances que escondem mais do que mostram. Mas, dentro do universo saturado das produções teens, ela se destaca ao entender que, para prender o público, não basta empilhar segredos, é preciso saber como usá-los.

Nesse ponto, a série acerta ao estruturar seu mistério e apresentar seus personagens como figuras danificadas, mas cientes da própria pose.

Ambientada na ilha fictícia de Beechwood, a trama se desenrola entre festas à beira-mar, brigas entre herdeiros e segredos. Mas sob essa superfície de cartão-postal, o que está em jogo é uma disputa por poder e afeto dentro de uma família que trata amor como herança e culpa como moeda de troca. 

Com uma direção que aposta em cenas esteticamente marcadas e uma trilha que pontua bem os momentos de tensão, “Mentirosos” entrega um bom drama. Julie Plec e Carina Adly MacKenzie, veteranas da escola CW de contação de histórias, aplicam o que sabem fazer de melhor, dar estofo emocional a personagens jovens em ambientes de tensão familiar, social e romântica. 

A ilha de Beechwood, com seus gramados imensos, pedras à beira-mar e casarões fotogênicos, é o cenário perfeito para o que “Mentirosos” quer entregar, problemas emocionais de jovens herdeiros tentando entender quem são em meio aos destroços emocionais que os pais deixaram como herança. 

Candice King (The Vampire Diaries) rouba as cenas em que aparece, dando vida a uma Bess histérica na medida certa, enquanto Caitlin Fitzgerald (Perdido na Montanha) e Mamie Gummer (Emily Owens m.d) seguram bem suas versões mais contidas de desilusão e rancor. Mas é nos jovens que a série aposta.

Joseph Zada, como Johnny, é pura energia adolescente canalizada em carisma, e Esther McGregor traz uma Mirren mais firme e interessante do que no material original. O quarteto que dá nome à série, os tais Mentirosos, funciona melhor aqui do que em qualquer página do livro. Há química, conflito e, mais importante, um senso de propósito claro, esses adolescentes não são heróis trágicos nem vítimas da elite. São peças conscientes de um jogo que desejam derrubar.

A série também faz escolhas narrativas acertadas ao evitar justificar demais o comportamento dos Sinclair. Ninguém aqui está pedindo redenção para milionário. O roteiro prefere mostrar as rachaduras, os vícios e a podridão com uma certa ironia e algum gosto por escândalo. E por isso mesmo, funciona. Porque não pede nossa empatia, só nossa atenção.

No fim das contas, “Mentirosos”, como série, entende o que o livro parecia ignorar. Histórias como essa não precisam provar profundidade. Elas precisam saber onde mirar. E o tiro aqui é certeiro, na atenção de quem gosta de uma boa trama de segredos, aparências e famílias que desabam por dentro enquanto posam para fotos no deque.

*Fernando Martins é jornalista e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.

*A Folha de Pernambuco não se responsabiliza pelo conteúdo das colunas.

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