Afastada das telas, Ana Paula Arósio chega aos 50 anos como fenômeno no TikTok com "Hilda Furacão"
Personagens da minissérie de 1998, exibida pela Globoplay, viraram referência de beleza, estilo e comportamento entre os mais jovens
Afastada da televisão desde 2010, Ana Paula Arósio está longe de ter sido esquecida. Pelo contrário, a atriz, que completa 50 anos nesta quarta-feira (16), é fenômeno entre o público mais jovem. O motivo: um trabalho que fez há 27 anos.
No TikTok, "Hilda Furacão" é referência de beleza, estilo e comportamento. Jovens que sequer eram nascidos em 1998, quando a minissérie escrita por Gloria Perez foi ao ar pela primeira vez, seguem encantados com a caracterização vintage da personagem-título, interpretada por Ana Paula Arósio.
Hilda é uma prostituta que vive uma estranha história de amor com o religioso Malthus ( Rodrigo Santoro), cujo jeito inocente e cabelo tigelinha também viraram fontes de fascínio entre as novas gerações. A trama se passa nos anos 1950, com direção de arte e figurinos cuidadosamente reproduzidos, o que torna o choque de gerações ainda mais curioso.
No catálogo da Globoplay desde 2021, a produção ganhou nova vida depois que cortes curtos de cenas e diálogos passaram a ser compartilhados na rede social chinesa, a segunda mais acessada pelos zennials (como são conhecidos os nascidos entre 1997 e 2012).
As primeiras sugestões de buscas vão de "Hilda Furacão Edits" a "Hilda Furacão Hoje em dia", passando por "Malthus comendo geleia". E não se surpreenda se encontrar os personagens no próximo carnaval. A hashtag "Hilda Furacão Fantasia", com tutoriais para imitar o look, também aparece entre as mais buscadas.
A tiktoker Ana Queiroz (@caislunaar), de 25 anos, viralizou no ano passado com um vídeo em que ensina a reproduzir o corte de cabelo todo em camadas de Hilda, herdado dos anos 40 por atrizes como Verônica Lake e Rita Hayworth, entre outras beldades. Desde então, o vídeo já conta com quase 1 milhão de visualizações.
— Gravei o tutorial porque vi muitas pessoas que queriam se vestir como ela e saber como ela fazia o cabelo — diz Queiroz, que decidiu ver a minissérie no Globoplay depois dela viralizar no Tiktok. — De tempos em tempos, o Tiktok resgata um personagem que volta a tona e todos ficam obcecados. Acho que em parte é por que nós adoramos a estética vintage, pelo menos eu sou fascinada por isso.
A tiktoker define o estilo de Hilda como "incrível", mas a admiração não se limita à estética da personagem.
— Ela é uma mulher que luta pra viver sua vida como deseja sem se importar com a opinião alheia —explica Queiroz.
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Figura empoderada
De fato, a intempestiva Hilda faz juz ao apelido Furacão. E esse jeitinho incontido e empoderado já virou até meta de comportamento em memes compartilhados nas redes nesta transição de ano.
Um "fan edit" reúne alguns dos momentos mais altivos da diva. Os comentários no post trazem uma explicação para o fascínio. "Ela é uma pessoa impulsiva, faz o que der na telha sem pensar no que dirão inteligente e estratégica muito sensível ela é maravilhosa", escreveu uma usuária do TikTok.
A personagem nasceu em 1991, no romance homônimo do escritor mineiro Roberto Drummond (1993-2002). Na tradição da sátira e da crônica de costumes, a minissérie enfatiza o aspecto cômico e extravagante da história - e são justamente essas cenas mais escrachadas que costumam viralizar nas redes.
Hilda Muller é uma jovem rica que decide trabalhar em um prostíbulo de Belo Horizonte após a revelação de uma cartomante. Sonhando virar santo, frei Malthus decide exorcizá-la.
Um movimento organizado da cidade contra os prostíbulos leva os dois personagens a intensificar sua rivalidade. Mas, como diz a canção de Tunai, o "amor e o ódio se irmanam na fogueira das paixões".
Sucesso internacional
No X, a relação de Malthus e Hilda também encantou os usuários, que a comparam com outra produção queridinha da rede, a britânica "Fleabag".
Talvez por isso se explique o hype da minissérie ter chegado nos internautas de outros países, que compartilham cortes nas redes em um misto de curiosidade e estranhamento. Os brasileiros fazem humor com a internacionalização de Hilda, chamando a série de "nosso soft power".
O impacto de Hilda lá fora se deve muito ao jovem artista americano Yura (@yuranoia), um dos primeiros a compartilhar artes inspiradas na série.
Um desenho de Hilda com uma flor já teve mais de 2 mil compartilhamentos. Outro de Malthus passou dos 5 mil. Yura se diz "obcecado" pela "tolice" graciosa do personagem.
— Gosto de desenhar os personagens porque seus estilos são diversos e únicos — diz o artista de 22 anos. — Por exemplo, Hilda é muito espirituosa e colorida, o que se reflete em suas mudanças nas roupas e nas joias ao longo da minissérie. Em contrapartida, sendo Malthus um santo, seu olhar é bastante consistente, em meio à turbulência interna.
Estilo vintage
Especialista em Educação Estética/UNIRIO e professora do Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil, Rosanna Naccarato atribui o culto em torno do personagem de Hilda a um retorno maciço do uso de maquiagem e do estilo vintage.
— Na época não existiam tantos maquiadores e cabeleireiros nos estúdios fotográficos, sendo as próprias modelos que criavam sua make e arrumavam o cabelo — diz Naccarato. — Daí pode ser também a aproximação do efeito “Hilda Furacão” nas jovens que assistiram a série, porque hoje chovem tutorais do “faça você mesmo”, e estilos que reproduzem o que já foi usado na moda, como a volta da franja em evidência no corte em camadas.
Para ela, a "palidez impecável" de Ana Paula Arósio reproduz a imagem da mulher bibelô dos anos 50, às custas de bobes e laquê (chamados de fixadores ou finalizadores).
— As cenas com lingerie são um caso a parte, lindas, muito próxima das tendências atuais de “porta-seios” como as usadas pela atriz, modelo e artista burlesca norte-americana Dita Von Teese — complementa a estudiosa. — Os acessórios e detalhes de vestidos de noite com decote coração e rabo-de-peixe, penhoar e camisolas rendadas e longas fazem do guarda-roupas dos anos 50 uma composição muito atraente para as jovens que desejam experimentar peças diferentes além do minimalismo, também em moda.

