Crítica: 'Te peguei' repete estrutura de comédias dos EUA
Dirigido por Jeff Tomsic, 'Te peguei' mostra grupo de amigos que mesmo depois de vários anos ainda brincam de pega-pega. Enredo é inspirado em fatos reais
A comédia norte-americana que vem de Hollywood tende a um molde específico, uma estrutura usada repetidas vezes envolvendo sexo, drogas e situações que tentam ser engraçadas pelo que apresentam de esdrúxulas.
Embora "Te peguei", que estreia nesta quinta-feira (23) no circuito pernambucano, tenha todas essas características, há também um pequeno e interessante deslocamento para os sentimentos que envolvem o amadurecimento e os dramas da idade.
O enredo do filme parece besta, mas surpreendentemente é inspirado em fatos reais: um grupo de amigos brinca de pega-pega há 30 anos. Quando eram crianças, se divertiam com as brincadeiras. Os anos foram passando e o jogo continuou: sempre no mês de maio, os amigos se reúnem, mesmo que estejam de luto, em um funeral ou no hospital, acompanhando o nascimento de um filho. Nada é desculpa para evitar a brincadeira.
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A primeira sequência do filme apresenta essa proposta de jogo com humor: mesmo sem fazer sentido aparente, Hoagie (Ed Helms), um doutor, quer ser contratado por uma empresa para limpar privadas.
O motivo se revela na cena seguinte: essa é a empresa onde Bob (Jon Hamm) trabalha, um executivo do alto escalão, e esse cargo seria uma forma de se aproximar do amigo sem levantar suspeitas. Enquanto dá uma entrevista para o Wall Street Journal, Bob é surpreendido pela presença de Hoagie, que corre em sua direção e diz "te peguei".
A vontade de Hoagie é juntar os amigos Bob, Chilli (Jake Johnson) e Kevin (Hannibal Buress) para, finalmente, "pegar" Jerry (Jeremy Renner), que mesmo depois de tantos anos permanece invicto: nunca foi "pego" pelos amigos.
A jornalista Rebecca (Annabelle Wallis), que foi até a empresa para entrevistar Bob, fica fascinada pela paixão e pelo empenho dos adultos nesse jogo de crianças e decide seguir a trupe para escrever uma história - estratégia que rende boas piadas.
Ao mesmo tempo, o filme apresenta certas insinuações dramáticas que não são aprofundadas - por preguiça de roteiro ou falta de interesse em tornar o longa um projeto mais desafiador, algo além de "mais uma comédia americana".
A certa altura, os personagens percebem que não se conhecem além da brincadeira, ignorando a existência de situações delicadas relacionadas à vida adulta: casamento, filhos, doenças - mas nada disso vai além da superfície.
É o tipo de filme que não exige muito: comédia em toda cena, piadas afiadas e de certa forma inócuas, que devem escapar da lembrança do espectador depois da sessão. Após os créditos, são exibidas gravações dos amigos que originaram a história, brincando de pega-pega, e a matéria do Wall Street Journal, publicada no jornal em janeiro de 2013.
Cotação: regular

