'Dente por dente' é suspense com pitadas de horror e um pé na realidade
O ator Juliano Cazarré fala à Folha de Pernambuco sobre a preparação para viver o protagonista do thriller policial
Uma das estreias nas salas de cinema, nesta quinta-feira (28), é o thriller brasileiro “Dente por dente”. Dirigido por Júlio Taubkin e Pedro Arantes, o filme aborda questões comuns às metrópoles brasileiras, como especulação imobiliária e violência, a partir de uma investigação criminal.
Quem protagoniza o longa-metragem é o ator Juliano Cazarré, que interpreta Ademar, um dos donos de uma empresa de segurança particular que presta serviço para uma construtora de São Paulo. Ao investigar o desaparecimento de Teixeira (Paulo Tiefenthaler), seu sócio e amigo, ele acaba descobrindo um esquema criminoso.
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Paolla Oliveira, Renata Sorrah e Aderbal Freire Filho são alguns dos nomes que completam o elenco do filme, que traz pitadas de suspense e terror. Em entrevista à Folha de Pernambuco, Juliano Cazarré falou sobre a preparação para o personagem e as temáticas que envolvem a trama.
Confira a entrevista com Juliano Cazarré:
Como ocorreu o processo de construção do Ademar, um personagem que está praticamente em todas as cenas e carrega um certo mistério sobre sua origem e história?
A gente teve uma preparação muito boa com a preparadora de elenco Nina Kopko, que me ajudou muito. Imaginamos como era o Ademar, como foi a infância dele, como ele foi parar em São Paulo. Isso me ajudou muito a deixar bem claro quem era ele. Nos preparamos muito para fazer o filme, para que os personagens parecessem de carne e osso, com várias camadas.
Houve uma preparação física específica, pensando nas cenas de ação que o filme traz?
Ensaiamos bastante as cenas de luta. O Halder Gomes (diretor de ‘Cine Holliudy’) foi dublê em Hollywood durante alguns anos atrás e nos ajudou com essa preparação. Inclusive, ajudou os diretores a pensarem como deveria ser filmada a cena, como era o soco, como era o golpe, onde você cai. Foi tudo muito bem pensado.
O que te atraiu nesse projeto e como ele chegou até você?
Eu recebi através da minha antiga empresária já como convite. Li o roteiro e gostei muito da história. Achei que a maneira como se resolvia era muito boa. O mistério vai crescendo e tem reviravoltas. Eu achei o roteiro muito bem construído de princípio e tive vontade de trabalhar com esse gênero que não é muito comum no Brasil e que eu não tinha feito até então.
Paolla Oliveira também está no elenco do filme (Foto: Divulgação)O cinema brasileiro vem se abrindo cada vez mais para o horror e o suspense. Qual lugar “Dente por dente” ocupa entre esses gêneros?
Eu acho um bom representante desses gêneros. Um filme que foi feito com muita honestidade da parte de todo mundo para contar uma boa história e prender as pessoas. Inclusive, levá-las a refletir um pouco sobre a questão da moradia que o filme aborda. Essa urbanização louca, com prédios cada vez mais gigantescos e as pessoas sendo jogadas cada vez mais para a periferia. Neste gênero, ele é mais um bom representante e prova de que o cinema brasileiro tá crescendo e tem muito mais a crescer.
Para além da investigação criminal, o filme traz críticas sociais contundentes. O que esse olhar para a realidade acrescenta à trama?
A questão social que está por trás do filme traz a realidade que “Dente por Dente” precisa, porque ele também trata um pouco de sonho, da fantasia e do fantasmagórico. E essa questão aterra o filme, é o pé na realidade. Poderia estar acontecendo em qualquer lugar, mas está acontecendo em 2020, em São Paulo, Brasil. Ela é um plano de fundo que enraíza o filme na realidade.
Qual é o sentimento de ver o filme estrear em um momento tão singular, sabendo que muitas salas de cinema no Brasil ainda seguem fechadas?
Eu fico com um pouco de pena de todo mundo que trabalhou no filme. Um filme é algo muito difícil de acontecer, leva muito tempo para ficar pronto. Não é apenas dinheiro, é esforço, sacrifício pessoal de todo mundo, principalmente dos diretores e produtores que, às vezes, estão há 4 ou 5 anos nesse projeto. E aí, na hora de estrear, o mundo infelizmente está passando por essa pandemia. Claro que o drama do filme estrear em menos salas, com as pessoas com medo de sair de casa, não é nada perto do drama das pessoas que perderam parentes, mas de qualquer forma deixa a gente com pena. A gente faz cinema e quer que o cinema chegue ao público. Eu na minha vida tenho muito isso. Mesmo que eu faça um cinema de arte, eu quero que meu trabalho se comunique com as pessoas do meu país, da minha época. Eu não sou aquele tipo de artista que faz as coisas para mim e não estou nem aí para o público. Gosto de me comunicar com ele. Eu gostaria que esse filme pudesse encontrar o máximo de pessoas possíveis e vamos ver se ele faz um bom público nos cinemas, mas se não depois ele vai pros streamings. Acho que quem assistir vai gostar e se surpreender.

