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RIO DE JANEIRO

Escritora Roseana Murray usa prótese biônica e comemora: "Consegui segurar uma xícara"

Poetisa perdeu braço direito em ataque de cães da raça pitbull

Escritora Roseana MurrayEscritora Roseana Murray - Foto: Instagram/reprodução

Matéria atualizada às 17h15

Roseana Murray ainda estranha a carga extra de 2,2kg que carrega do lado direito do corpo.

Esse é o peso da prótese biônica que a escritora e poetisa de 73 anos começou a usar desde a última sexta-feira (24) após perder o braço direito em um ataque de três pitbulls em abril do ano passado em Saquarema, na Região dos Lagos do Rio.

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Roseana encara um período de adaptação que define como "muito difícil".

- Na fantasia é fácil, né? Mas na realidade é muito difícil. Ela é fixa e aperta muito porque os sensores têm que ficar em contato com a pele. Ela é muito pesada. É como se levantasse tudo no ombro. O primeiro dia foi uma emoção tão intensa que não sabia nem o nome. A prótese é linda, azul como eu queria. Fiquei uma figura curiosa, meio máquina.

O recurso chegou nove meses após o ataque dos cachorros. Foi a Justiça do Rio de Janeiro que determinou que a Prefeitura de Saquarema e o governo do estado do Rio fornecessem a prótese, de ombro e mão, que pode devolver à escritora movimentos fundamentais para o seu dia.

O equipamento, na época da decisão da Justiça, estava avaliado em R$ 894 mil.

Roseana se preparou durante meses em sessões de fisioterapia para começar a usar a prótese.

- Fiz muitos exercícios para aprender a mexer os músculos necessários, fortalecer a musculatura. Tem que treinar muito. Achava que não ia ser tão difícil, mas foi. Teve que diminuir, porque o braço ficou muito comprido. No primeiro dia, não consegui fazer nenhum movimento para mover nada. Consegui abrir, fechar e girar. Ainda não faço nada prático com ela.

Os médicos deram à poetisa uma previsão de três meses para que consiga usar bem o recurso no cotidiano.

- Por exemplo, para pegar guarda-chuva, abro a prótese, coloco no cabo e fecho. Mas ainda estou treinando abrir, fechar a girar a mão. Acho que vou ter que movimentar o cotovelo, abrir a mão e o braço.

Ao mesmo tempo em que se adapta, Roseana toca uma pequena obra em seu novo lar.

Ela deixou a casa onde morava em Saquarema, e se mudou para Visconde de Mauá, região do município de Resende, no Rio, onde mantém uma casa há mais de 20 anos.

Recentemente, Roseana perdeu o marido, o jornalista Juan Arias Martínez, morto em novembro de 2024, e resolveu ficar perto da família, que mora em Mauá.

- Já trouxe meus gatos e estou arrumando a casa. Resolvi fazer tudo de uma vez, porque quando acabar, também acaba tudo junto, sabe?

A casa da escritora em Saquarema está à venda.

Ela conta que é provável que a prefeitura da cidade compre o imóvel e faça ali um centro cultural, com sala de leitura e biblioteca, aproveitando o amplo jardim como espaço de leitura.

O projeto está sendo desenvolvido pela secretaria de cultura da cidade.

Já em Mauá, Roseana pretende realizar um clube de leitura de dramaturgia no teatro mantido por Pedro Gracindo e Julia Mayer.

O ataque
Roseana foi atacada em 5 de abril de 2024, quando caminhava na orla. Os ferimentos feitos pelo cães foram gravíssimos. Ela ficou internada por 13 dias no Hospital estadual Alberto Torres, em São Gonçalo, na Região Metropolitana.

Após ter alta, a poetisa usou o braço esquerdo para autografar exemplares do livro "Jardins", pelo qual ela ganhou o "Prêmio Academia Brasileira de Letras" em 2002.

Na época do ataque, três pessoas prestaram depoimento e uma delas foi presa.

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