Filme 'O Rei do Show' é um espetáculo para os olhos
Musical, em cartaz nos cinemas, trilha na corda bamba entre crítica social e melodrama
"O Rei do Show" é um musical biográfico sobre P.T. Barnum (1810-1891), produtor que no século 19 revolucionou a ideia de entretenimento e show business. É também uma crítica social que conecta o filme ao tempo atual, pela forma que acolhe e ressalta a força daqueles que costumam ser excluídos e marginalizados pela sociedade. É ainda melodrama de excessos que investe fortemente na lágrima, nas traições de corações apaixonados, nos delicados exageros que reforçam a identidade desse gênero.
Barnum (Hugh Jackman) é a peça central do filme: um homem de origem pobre que se fez grande pela força de vontade e pela inteligência, uma mente criativa do empreendedorismo que enxergou futuro e dinheiro na ideia de juntar talentos que eram ignorados na sociedade por serem diferentes de um certo padrão. Ele é casado com Charity (Michelle Williams) e eles têm duas filhas. Depois de investir tudo que possuía, além de se endividar com o banco, Barnum compra um velho museu de coisas excêntricas, o que rende apenas mais dívidas.
Até que Barnum decide colocar nesse museu pessoas com raro talento mas que são diferentes: uma mulher barbada com belíssima voz, o "homem mais alto do mundo", o "homem mais gordo do mundo", o "homem mais baixo do mundo", um casal de trapezistas que por serem negros não tinham seus talentos reconhecidos, um homem com o corpo coberto por tatuagens. São cativantes as cenas em que Barnum convoca cada um desses personagens, através de discursos sobre encontrar força e valor no que os tornam únicos, algo que ressoa no século 21.
Este é o primeiro longa-metragem de Michael Gracey, que vem do departamento de arte e efeitos visuais. É possível notar um interesse extra pela reconstituição de época, das roupas ao cenário, e esse desejo por verdade histórica às vezes parece maior do que a proposta humanista do enredo.
O ponto negativo do filme é que esses personagens nunca realmente ganham a profundidade que merecem. Começam presos em seus rótulos e não avançam muito enquanto seres individuais, não possuem espaço no roteiro para demonstrar o que os tornam humanos e complexos. São essencialmente acessórios para Barnum demonstrar seu faro para arte e negócios, além de certa medida de humanidade, já que ele mesmo vem de origem humilde. É de certa forma um desperdício, por abrir um caminho que acaba não sendo percorrido.
Leia também:
Novo livro de John Green também vai virar filme
Filme 'Extraordinário' mostra que pode ser libertador ir além das aparências
Filme "Perfeita é a mãe! 2" brinca com as tradições familiares no Natal
Às vezes, as músicas (dos mesmos criadores da trilha do filme "La La Land") parecem importantes movimentos dramáticos dos personagens, em outros parecem apenas reforçar o óbvio, um espetáculo visual que flerta fortemente com o brega, uma oscilação que de certa forma faz parte de todo o filme: a história é às vezes empolgante e desafiadora, em outras cenas é monótona e pouco criativa. Parece ser o tipo de filme que se abre para muitas ideias instigantes, mas que boa parte delas acabam não sendo devidamente utilizadas.
Cotação: regular

