'Gota d’água [a seco]' confere novo olhar à peça de Chico Buarque
Protagonizado por Laila Garin, "Gota d’água [a seco]" parte do embate entre um casal para tratar das relações tumultuadas do poder
Muito do sucesso de "Gota d'água" deve-se ao talento de Bibi Ferreira, que em 1975 viveu a protagonista da peça escrita por Chico Buarque e Paulo Pontes. Ainda adolescente, Laila Garin foi impactada por essa interpretação, através de uma gravação de trechos da obra, que ouvia no toca-fitas da mãe. A atriz baiana - que ganhou projeção nacional ao estrelar "Elis - A musical" - só não poderia imaginar que, quase três décadas depois, ela estaria declamando nos palcos o mesmo texto que a encantou.
Laila assumiu a responsabilidade de dar vida a Joana em uma adaptação inédita do espetáculo, batizada de "Gota d’água [a seco]", cuja estreia ocorreu em 2016. Com direção de cena de Rafael Gomes e direção musical de Pedro Luís, a montagem entra em cartaz em Pernambuco, no Teatro Guararapes, com duas sessões: neste sábado (27), às 21h, e no domingo (28), às 19h. Na pele de Jasão, o ator Alejandro Claveaux completa o elenco desta nova versão de um clássico moderno do teatro brasileiro.
A direção de Rafael Gomes buscou atingir a essência da trama, concentrando a história no embate entre o casal protagonista. A peça transpõe a tragédia grega Medeia, de Eurípedes, para o contexto de um conjunto habitacional do subúrbio carioca. Neste ambiente, o público acompanha o drama de Joana, abandonada com os dois filhos pelo esposo, Jasão, que resolve se casar com a filha de um milionário.
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"Originalmente, a peça tem 18 personagens. Diminuir para apenas dois exigiu da gente um comprometimento muito grande com a história toda. Precisamos ter intenções muito claras em cena. Há um cenário lindo, mas que não é realista. Então, o jogo do ator tem que dar conta também de criar os ambientes", comenta Laila.
"É um texto que foi todo construído em versos, tudo em métrica e rima, mas ao mesmo tempo tão coloquial que você não percebe isso. Mesmo nossa versão sendo tão diferente, não mudamos nada das palavras de Chico", garante.
Conteúdo sociopolítico
Ao tratar de temas como desigualdade social e exploração, em plena ditadura militar, a primeira versão de "Gota d'água" ficou marcada por seu forte conteúdo sociopolítico. Na montagem atual, esse viés é retirado do foco, mas não some totalmente.
"Cada um lê o espetáculo com as camadas que tem no próprio olhar. Fundamentalmente, falamos de uma história de amor, de um homem que abandona e uma mulher abandonada. Mas existe um opressor e uma oprimida, então, isso acaba sendo político. E como estamos vivendo um contexto político muito extremo, acaba que essa parte política fica evidenciada. Não era essa a intenção, mas tudo está sendo político nesse momento", pontua.
Outra inovação do espetáculo é a inserção de outras músicas de Chico Buarque que não estavam no original. "O critério não foi a beleza, porque todas as músicas de Chico são lindas. Pensamos em canções que acrescentassem algo à dramaturgia. Colocamos ‘Caçada’, por exemplo, para representar um momento em flashback de quando Joana e Jasão eram felizes. Também incluímos 'Cálice', que é usada quando Jasão expulsa Joana de casa e ela tem que engolir isso. Também está presente 'Pedaço de mim', 'Você vai me seguir' e outras. São 10 músicas cantadas e mais três instrumentais", explica.
Serviço:
Espetáculo "Gota d’água [a seco]"
Sábado (27), às 21h, e domingo (28), às 19h
No Teatro Guararapes (Centro de Convenções de Pernambuco - av. Prof. Andrade Bezerra, s/n, Salgadinho, Olinda)
R$ 25 e R$ 12,50 (meia-entrada)
Informações: (81) 3182-8020

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