Livro traz novo olhar sobre o cangaço de Lampião
'Lampião & Maria Bonita: uma história de amor e balas' foi escrito pelo jornalista Wagner G. Barreira. O livro mostra a complexa realidade política e econômica da época
Lampião é uma obra de ficção coletiva, que permanece em construção há oito décadas, moldando-se às convicções e interesses de quem conta a história. Morto no dia 28 de julho de 1938, após passar 21 anos percorrendo o interior do Nordeste, o cangaceiro e gênio militar (para alguns, herói contestador; para outros, sanguinário fora da lei) transformou-se, junto com sua companheira Maria Bonita, em um dos símbolos mais emblemáticos da História do Brasil.
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Pelos cálculos do jornalista Wagner G. Barreira, existem mais de 1.500 livros escritos sobre a realidade do cangaço, sob diferentes óticas. Em vez de desanimar, esse volume gigantesco só reforçou sua decisão de dispender um ano e meio entre pesquisas, entrevistas, viagens por vários estados nordestinos e elaboração de textos, gerando "Lampião & Maria Bonita: uma história de amor e balas", que acaba de ser lançado pela editora Planeta. No próximo dia 29, o autor estará em Olinda, no Centro Luiz Freire, participando de uma tarde de conversa e autógrafos.
Jornalista profissional, Wagner emprestou leveza e ritmo à narrativa, que atrai por permitir vislumbrar os diversos matizes dessas personalidades tão fascinantes. Como pano de fundo, mostra a complexa realidade política e econômica da época, e a imensa capacidade que Virgulino Ferreira tinha de compor sua própria imagem.
Segundo o autor, a construção do mito começou quando este ainda era vivo, passando pelas roupas, atitudes e falas de Lampião. "Ele chegou a dar entrevistas para falar sobre si mesmo e a permitir registros fotográficos e em filme, em uma época em que isso não era tão comum no interior do Nordeste", destaca.
A principal entrevista concedida por Lampião foi realizada pelo médico Octacílio Macedo, em março de 1926, mais de uma década antes de sua morte, e publicada no jornal "O Ceará". O médico vivia no Crato e descreveu o cangaceiro como "um homem calmo e decidido, que falava sem se perturbar e pesando as palavras". Lampião, segundo Macedo, atirava moedas para as crianças pelas ruas onde passava, alimentando a mística a seu respeito.
O livro de Wagner G. Barreira consegue preencher algumas lacunas e ir além do lugar-comum em relação aos relatos sobre o cangaço. Ao mesmo tempo em que registra a saga histórica percorrida pelo grupo, ele se dedica à relação entre o casal e traz dois capítulos específicos sobre Maria Bonita, abordando sua personalidade e sua interação com os homens e mulheres que integravam o bando.
Maria Déa, ou Maria Bonita, é uma das personagens que se destacam no livro de Wagner G Barreira - Crédito: Divulgação
O livro traz muitas curiosidades e passagens inusitadas, e deve agradar ao público em geral, por sua linguagem fluida e pelo olhar diferenciado que o autor lançou sobre estes personagens riquíssimos e, quase um século depois, ainda vivos em nosso imaginário.
Serviço:
"Lampião & Maria Bonita: uma história de amor e balas"
Editora Planeta, 224 páginas
Preço médio: R$ 44,90


