Morre o sambista Arlindo Cruz, aos 66 anos
Velório do artista será aberto ao público e acontece neste sábado (9), na sede da escola de samba Império Serrano, no Rio de Janeiro (RJ)
Morreu, nesta sexta (8), aos 66 anos, o cantor e compositor Arlindo Cruz. O artista estava internado, no Rio de Janeiro (RJ), tratando de uma pneumonia.
Em 2017, Arlindo Cruz sofreu um AVC e vinha enfrentando as sequelas do derrame. Desde então, sua recuperação e estado de saúde vinham sendo acompanhados pelo País. Em julho, a família comunicou que o cantor havia parado de responder estímulos.
Arlindo Cruz deixa dois filhos, Arlindo Neto (o Arlindinho) e Flora, frutos do seu casamento com a porta-bandeira Bárbara Cruz, a Babi.
O velório será aberto ao público e acontece nesse sábado (9), na sede da Império Serrano, em Madureira, na Zona Norte do Rio de Janeiro. O artista era imperiano e foi homenageado no carnaval de 2023.
O artista
Um bamba, no sentido mais auspicioso da palavra. Arlindo Cruz foi desses bambas ao mesmo tempo imponente, dada a sua importância para a música brasileira, ao mesmo tempo querido, dada a simpatia e o carinho que despertava em seus amigos e colegas de ofício.
Arlindo Cruz tem uma história respeitada não apenas como cantor de samba – uma voz de timbre marcante, por sinal – mas, especialmente, como compositor. Tem mais de 500 músicas suas gravadas por muita gente, da nova e da velha guarda, mas, principalmente por nomes da envergadura de Beth Carvalho, Alcione e Zeca Pagodinho, um de seus mais queridos amigos.
Antes de se lançar como artista solo, fez parte de uma verdadeira “instituição” do samba, o grupo Fundo de Quintal. Pouca gente sabe, mas Arlindo também é um dos autores da música-tema do carnaval da TV Globo, aquela que a gente sempre canta: “Na tela da tevê no meio desse povo, a gente vai se ver na Globo”. Também na “Vênus Platinada”, foi autor, em parceria com Gilberto Gil, do tema do programa “Esquenta”, comandado por Regina Casé.
No Rio, despontou como um dos principais compositores de samba-enredo das escolas que desfilaram, seja no Grupo A ou no Grupo Especial, principalmente a Império Serrano, Grande Rio e Vila Isabel. Arlindo também foi autor do tema das Olímpiadas de 2016, “Os Grandes Deuses do Olimpo Visitam o Rio de Janeiro”.
Um erudito no samba
Nasceu Arlindo Domingos da Cruz Filho, em 14 de setembro de 1958, em Piedade, no estado do Rio de Janeiro. Desde pequeno, Arlindo demonstrava aptidão para a música. Por isso, aos sete anos de idade, ganhou de seu pai – conhecido como Arlindão, que era amigo e parceiro de Candeia – seu primeiro cavaquinho. Aos 12, conseguia tirar inúmeras músicas de ouvido. Junto ao irmão Acyr Marques fez aulas de violão e, posteriormente, na escola Flor do Méier, estudou teoria, solfejo e violão clássico por dois anos. O estudo técnico, formal, não ofuscou a vocação para ser um verdadeiro bamba carioca, afinal, cresceu entre eles, pois seu pai, que era músico amador, frequentava as rodas de samba de raiz da época.
Sua primeira gravação foi com Candeia, que considerava seu padrinho musical. Na gravação, tocou cavaquinho, antes de tornar o banjo sua cativa marca registrada. Aos 15 anos, Arlindo foi estudar em Barbacena (MG), na escola preparatória de Cadetes do Ar. A música não saía dele: fez parte do coral da escola e ganhou os festivais de música em Barbacena e Poços de Caldas.
Samba o traz de volta ao ninho
De volta ao Rio de Janeiro, após deixar a Aeronáutica, Arlindo passa a frequentar o Cacique de Ramos. Batia ponto por lá às quartas-feiras. E foi rapidamente identificado pela velha guarda do lugar como um jovem de futuro entre os sambistas. Foi lá que ele conheceu figuras como Beto Sem Braço e, também, Sombrinha e Zeca Pagodinho. A partir da convivência no Cacique de Ramos, suas músicas começaram a ser gravadas pelos grandes do samba brasileiro.
Com a saída de Jorge Aragão, foi convidado a integrar o Fundo de Quintal, onde permaneceu por 12 anos. Desse período, foram compostas músicas como “Só pra Contrariar” e “O show tem que continuar”, que lhe acompanhara durante toda a carreira. Em 1993, ele segue em carreira solo.
Arlindo gravou nove álbuns. Foram cinco indicações ao Grammy Latino e a conquista de um Prêmio da Música Brasileira como Melhor Cantor de Samba, em 2015.
No ambiente das escolas de samba do Rio, pelo qual transitava com autoridade e desenvoltura, também conquistou prêmios, em especial o Estandarte de Ouro: em 2006, com o Melhor Samba do Grupo Especial, pela Império Serrano (“O Império do Divino”); em 2012, com o Melhor Samba do Grupo A, também pela Império (“Dona Ivone Lara: O Enredo do Meu Samba”); e em 2013, com o Melhor Samba do Grupo Especial, dessa vez com a Vila Isabel ( “A Vila Canta o Brasil, Celeiro do Mundo – Água no Feijão que Chegou Mais Um”).

