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SHOWS NO BRASIL

Oasis: os irmãos brigões que unem gerações estão de volta ao Brasil; confira repertório dos shows

Shows neste fim de semana em São Paulo atraem fãs dos anos 1990, quando a banda surgiu, e jovens que começaram a amar Liam e Noel Gallagher depois de o grupo se separar

Oasis durante show na Espanha, em 2005Oasis durante show na Espanha, em 2005 - Foto: Jose Jordan/AFP

Viver eternamente — ou “Live forever”, título de uma das músicas mais conhecidas da banda inglesa — era o que o Oasis propunha em 1994, ano em que as esperanças do rock mundial desmoronavam com a morte da sua grande estrela, o americano Kurt Cobain, líder do Nirvana.

Pilotado pelos irmãos Noel e Liam Gallagher, o grupo estreava com o álbum “Definitely maybe”, milagrosa junção da fúria sônica dos Sex Pistols com a ourivesaria pop do mito The Beatles, com a qual pretendia reinar sobre o mundo.

Os Gallagher reinaram, enfrentaram o declínio, acabaram em 2009, e agora, num novo milagre, encerram em São Paulo, sábado e domingo, com ingressos esgotados, no Estádio MorumBIS, a sua turnê da volta, a Oasis Live ’25.

Em se tratando de um grupo que passou 15 anos em hiato porque o guitarrista e compositor principal Noel se fartou das constantes brigas com o vocalista Liam (a gota d’água foi em 28 de agosto de 2009, quando, pouco de subir no palco do festival Rock En Seine, na França, o cantor ficou brandindo uma guitarra no rosto do irmão), era de se esperar uma turnê tensa — mas Liam, de 53 anos; e Noel, de 58, seguiram a turnê sem atropelos desde a estreia, em 4 de julho, em Cardiff (País de Gales), às demais datas por Reino Unido, EUA, Canadá, México, Ásia e Austrália.

Com críticas elogiosas da imprensa à boa forma vocal de Liam e à interação dos irmãos e um repertório fixo de 23 canções, que privilegia os hits — dos álbuns “Definitely maybe”, “(What’s the story) morning Glory” (1995), “Be here now” (1997) e “The Masterplan” (compilação de músicas lados B de singles ) —, o Oasis provocou suspiros de alívio às 14 milhões de pessoas que correram para comprar ingressos tão logo a turnê foi anunciada (de surpresa, ainda sem as datas na América do Sul), em agosto de 2024.

No fim de semana passado, a banda abriu em Buenos Aires a última etapa da turnê. Ela marcou a volta do guitarrista-fundador Bonehead ao palco (em tratamento de câncer de próstata, teve de ser substituído em shows na Ásia e Oceania) e trouxe ainda uma homenagem ao craque Diego Maradona durante “Live forever”.

Dúvidas de Samuel Rosa
Grande fã, o cantor e compositor Samuel Rosa diz ter visto uns “quatro ou cinco shows do Oasis durante o seu período original”. Em dois deles, a sua então banda, o Skank, fez show de abertura: no Rio, em 2009, semanas antes de Noel pedir as contas, com os gaúchos da Cachorro Grande (“tive o prazer de estar com a Cachorro tocando Beatles e todos os Oasis, com exceção acho que do Noel, assistindo”), e em Portugal, no festival Sudoeste, em 2005, com o inglês Kasabian e o português Da Weasel. Para Samuel, essa volta do Oasis “deixa mais perguntas do que respostas”.

"(Da última vez no Brasil), eles tocaram para 8 mil, 10 mil pessoas, arredondando. E são esperadas 60 mil pessoas por noite no Morumbi nesse fim de semana. Onde estavam essas 110 mil pessoas na última vez? Quando o Oasis se separou, eles já não eram mais a banda daqueles concertos gigantescos na Inglaterra, como foi na segunda metade dos anos 1990 (em 1996, chegaram a reunir 250 mil pessoas em dois concertos ao ar livre). As retomadas acabam tendo uma abrangência maior do que a banda teve durante a sua própria existência.

Para Nadja Vladi, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), autora da tese “A música faz o seu gênero: uma análise sobre a importância das rotulações para a compreensão do indie rock como gênero”, o sucesso da volta do Oasis em 2025 se deve a muitos fatores.

"O álbum “(What 's the story) morning glory?” tornou-se um ícone do Britpop (chegou a um quarto lugar na parada americana de discos e passou 78 semanas na lista dos 200 mais vendidos). É mais uma variável que ajuda a explicar o impacto do retorno, inclusive nomeado pela imprensa como Britpop Summer (o “Verão do Britopop”)", diz Nadja. "Outro ponto interessante é a mítica dos irmãos Gallagher. Com suas brigas e bravatas, tornaram-se uma dupla carismática da mitologia do pop dos anos 1990. Há também um ponto sociopolítico importante: o Oasis simbolizava uma juventude operária no Reino Unido pós-Margaret Thatcher (primeira-ministra do Reino Unido entre 1979 e 1990)".

Turnê do Oasis começa em julho e marca retorno após 15 anos separadosTurnê de Oasis marca retorno da banda após 15 anos separados | Foto: Mike Clark/AFP

‘Como os Beatles’
Mais que tudo, para ela, está o fato de que o Oasis tem canções duradouras que atravessam gerações, “como ocorreu com os Beatles”:

"As pessoas continuam ouvindo e curtindo “Hello” (com que a banda tem iniciado seus shows) e “Champagne Supernova”. Pais que ouviram essas canções na época continuam ouvindo, e os filhos passaram a ouvir. Isso sempre aconteceu, mas o streaming tem papel decisivo na recirculação de catálogos de outras décadas".

O Oasis chega a um novo público: dados do Spotify apontam um aumento de streams da banda, com mais de 16 milhões novos ouvintes conquistados em 2025 (dos quais, 50% vieram da Geração Z, nascida entre 1995 e 2010). É o caso da cantora paulistana Bella Perozzi, 24 anos, que cresceu ouvindo Oasis em casa. Ela vai aos dois shows em São Paulo com três amigas — uma delas, Jasmine, de Manchester, cidade da banda, que veio ao Brasil para a ocasião (“já foi a sete shows deles, a gente se conheceu no Twitter do Oasis”).

"Ao mesmo tempo em que eu ouvia o Oasis (com os pais), não conhecia profundamente a banda. Em 2017, comecei a tocar violão e a primeira música que eu aprendi foi “Wonderwall”. Comecei a pesquisar sobre eles. No começo do ano passado, vi que o Liam postava muita coisa no Twitter e respondia aos fãs, hoje a gente se fala quase todo dia. Depois disso, comecei a ir atrás de álbuns solos e me apaixonei pelos do Noel Gallagher", conta Bella. "Eles dizem muito sobre juventude, sobre liberdade, sobre fazer o que a gente quer. Essa volta traz um pouco para os fãs da minha geração Z a nostalgia de um momento que a gente não viveu. Não conheço pessoas que viveram nos anos 1990 na Inglaterra, mas acho que era uma época libertadora em relação a estilos musicais".

O comportamento frequentemente grosseiro, considerado muitas vezes misógino e homofóbico dos integrantes do Oasis (“Odeio o Alex e o Damon, espero que eles peguem Aids e morram!”, disse Noel Gallagher, sobre seus rivais do Blur, em 1995) é, segundo Bella Perozzi, um tópico muito discutido entre os fãs no X.

"Nos anos 1990 não tinha internet, e você não era cancelado. O Liam traía, saía no jornal, mas depois passava. Hoje, tudo fica na internet, tem que ter mais de cuidado. Os fãs mais jovens, mais conectados, têm mais essa noção de que palavras podem machucar o próximo", lembra. "Liam foi cancelado recentemente no X porque soltou uma palavra bem desnecessária. Mas entendo que, na cabeça dele, é algo comum. Eles viveram essa época de falar e não ter consequências, um cenário totalmente diferente (chingchong, termo pejorativo para pessoas de origem asiática; o cantor pediu desculpas). Liam é assim, Noel é assim, eles vão morrer assim. É rock’n’roll".

Para Bella, o Oasis vem sanar entre a Geração Z uma “falta de autenticidade das bandas de rock”:

"Hoje não tem mais aquelas bandas que tocavam nas garagens, que começaram em shows pequenos. A gente sente falta dessa conexão com o rock’n’roll".

‘Birra de irmãos’
Nadja Vladi confirma que o Oasis incorpora a nostalgia por uma banda de rock autêntica.

"Eles encarnam a ideia do rock mais sujo, menos polido, mais orgânico, o tal do verdadeiro rock. As gerações mais novas costumam revisitar o passado em busca dessa autenticidade. As posturas “politicamente incorretas” acabam parecendo quase teatrais: uma birra de irmãos, uma estética dos anos 1990", assegura. "Oasis virou mito, e a memória afetiva exerce um papel central nesse sucesso atemporal".

Samuel Rosa diz que “ talvez o rock tenha uma certa incompatibilidade com a era moderna” do mundo digital, do TikTok, e não tenha mais o poder de encher estádios — a não ser por bandas mais antigas como o Oasis.

"Uma coisa que vi recentemente e me causou um certo espanto muito positivo foi a reação à perda do Lô Borges (cantor e compositor que morreu no dia 2, aos 73 anos), o maior parceiro que tive fora do Skank. Não sabia que tanta gente respeitava e gostava do Lô assim, me fez pensar: “É um reconhecimento um pouco tardio, né?” Aí eu volto para o Oasis. Eles são, de fato, uma das maiores bandas de rock’n’roll da história. Porque não me escutaram antes? Eu já sabia disso desde os anos 1990!"

Repertório
As apresentações, com ingressos esgotados, marcam o encerramento da turnê Oasis Live ’25, que trouxe o grupo de volta aos palcos depois de 15 anos de afastamento dos irmãos, por causa de uma briga.

O anúncio da turnê, de surpresa, em agosto do ano passado, levou cerca de 14 milhões de pessoas a correrem para comprar ingressos (ainda sem confirmação sobre as datas na América do Sul). Confira abaixo o repertório que o Oasis tem mostrado desde o primeiro show da turnê, que aconteceu dia 4 de julho, em Cardiff (País de Gales):

“Hello”

“Acquiesce”

”Morning glory”

“Some might say”

“Bring it on down”

“Cigarettes & alcohol”

“Fade away”

“Supersonic”

”Roll with it”

“Talk tonight”

“Half the world away”

“Little by little”

“D’you know what I mean?”

“Stand by me”

“Cast no shadow”

“Slide away”

“Whatever”

“Live forever”

“Rock’n’Roll star”

Bis:

“The Masterplan”

“Don't look back in anger”

“Wonderwall”

“Champagne Supernova”

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