Oscar 2025: atrizes brasileiras vão às redes sociais questionar resultado de 'Melhor Atriz'
Cláudia Raia e Ingrid Guimarães compararam tempo de carreira e idade da ganhadora Mikey Madison em relação à Fernanda Torres e Demi Moore. Especialista em cinema comenta a escolha da Academia
No último domingo (2), o Oscar 2025 gerou surpresa e indignação em boa parte dos brasileiros que esperavam a consagração de Fernanda Torres na categoria de ‘Melhor Atriz’, por sua atuação em “Ainda Estou Aqui”.
A frustração veio com o anúncio de Mikey Madison por seu papel em “Anora” - também eleito ‘Melhor Filme’.
Desde então, as reações não pararam de surgir pelas redes sociais. Em seu perfil no Instagram, Cláudia Raia soltou: “Achei muito injusto”. A atriz destacou ainda a pouca idade de Madison, que tem 25 anos.
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“Não dá. A gente tá falando de paridade de trabalho. A gente tá falando de maturidade cênica. A gente tá falando de talento. E a gente tá falando de um resultado absolutamente etarista. Por que que a Demi Moore não ganhou? Porque ela tem 62 anos? Porque ela tem uma carreira de 42 anos com as maiores bilheterias de Hollywood?”, questionou.
Ela também criticou a representação das mulheres no cinema, que tende a valorizar a juventude e a objetificação. Tudo isso dentro do estereótipo levantado por “Anora”, que, segundo ela, apresenta a “prostituta romantizada”.
Claudia Raia desabafou sobre a derrota de Fernanda Torres e Demi Moore para Mikey Madison no Oscar:
— QG do POP (@QGdoPOP) March 5, 2025
"Achei muito injusto. Perder pra Mikey não dá! Resultado absolutamente etarista. Quem ganha é uma menina de 25 anos que tem um trabalho ok e está fazendo uma pr*sti*uta… pic.twitter.com/UD27Yx7RkC
Quem também reforçou o pouco tempo de mercado cinematográfico de Madison foi a atriz e comediante Ingrid Guimarães. Em seu Instagram, colocou:
“A garota tem 25 anos. 25 anos. É muito Oscar pela frente. Deixa a mulher madura ganhar. Até porque elas merecem. O trabalho da Fernanda é muito melhor”, endossou.
No ano em que Fernanda Montenegro concorreu ao Oscar de ‘Melhor Atriz’, por “Central do Brasil”, em 1999, a brasileira tinha 70 anos, e acabou perdendo para Gwyneth Paltrow, por sua atuação no filme "Shakespeare Apaixonado".
Na época, a atriz americana tinha 25 anos - a mesma idade de Mikey Madison hoje.
Ingrid Guimarães desabafa após Fernanda Torres perder o Oscar para Mickey Madison:
— QG do POP (@QGdoPOP) March 3, 2025
“Pera aí… 25 anos, garota! Não aceito! Tô com ranço. Eu estava preparada pra perder para Demi, não estava preparada para perder para “Anora”, que tem idade para ser minha filha”. pic.twitter.com/DN9ofpSOLH
A Academia foi mesmo etarista?
O crítico e professor de cinema filiado a Critics Choice Association e à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Marcio Sallem, reconhece que há um etarismo “estrutural” que permeia certos comportamentos reproduzidos na Academia.
“A indústria, ou melhor, a sociedade, ela é etarista. E a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que premia com o Oscar, por estar à sombra desta indústria e ser o reflexo dela, também reproduz comportamentos etaristas”, comenta Sallem.
Porém, ele não vê a vitória de Mikey Madison como traço ou reprodução desse etarismo. A começar pela faixa etária média das premiadas nos últimos anos, destacando atrizes mais maduras.
“Não significa que a vitória da atriz Mike Madison, que é uma atriz com 25 anos de idade, é um comportamento etarista da indústria, ou uma evidência de etarismo da indústria, apenas porque nós estamos diante de um filme, ‘A Substância’, que fala exatamente desse tema. Na realidade, se nós formos nos últimos dez anos, e aqui, incluindo a vitória da Mike Madison, nós vamos perceber que a idade média da atriz vencedora do Oscar é de 45 anos. Aumenta um pouco se nós formos para a categoria de ‘Melhor Atriz Coadjuvante'”, lembra o crítico.
Para Sallem, a vitória de Madison também era algo provável, diante das premiações que veio conquistando recentemente, incluindo o BAFTA.
“Falar que a premiação da Mike é um exemplo de etarismo é ignorar a temporada de premiações na qual a atriz venceu mais de 50 prêmios e foi a atriz mais premiada, bem mais premiada, inclusive, do que a Demi Moore”, destaca.
“O que criou uma ideia de que a Demi Moore pudesse ser a favorita tenha sido o prêmio no Sindicato dos Atores [SAG Awards], que de fato é um termômetro muito importante, mas, a Mike venceu no BAFTA, venceu no Critics’ Choice, e venceu em tantas outras premiações anteriores. Não foi nenhuma surpresa, pode não ter sido tão previsível, mas, não chegou a ser surpreendente e tampouco é algo que corrobora a acusação de que a premiação foi etarista”, continua Sallem.
Para o crítico, a atuação de Mikey foi tão importante e à altura do Oscar como foram as de Demi Moore e de Fernanda Torres.
“A Mikey é a peça central de ‘Anora’, e ela que é responsável por reproduzir a empolgação inicial, o incômodo crescente e a decepção final, então, sim, o prêmio foi merecido, como também seria se a premiada fosse a Demi Moore ou Fernanda Torres. É bom reforçar que a avaliação da arte é muito subjetiva, e a Academia é composta por quase 11 mil votantes, e cada um destes deve ter um critério para avaliação da atuação”, conclui o crítico.

