Raimundo Carrero lança tetralogia e protagoniza curta documental
Cineasta pernambucana Luci Alcântara dirigiu curta documental sobre Raimundo Carrero. Livro e filme serão lançados neste sábado (4), no Cinema do Museu, em Casa Forte
A primeira cena do curta-metragem "Carrero, o áspero amável" mostra Raimundo Carrero em seu escritório, falando sobre literatura e processos de criação, em 2008. Vemos em seguida o escritor pernambucano em 2018, no mesmo ambiente, seu gabinete de trabalho, cheio de livros, jornais, revistas, orações e peças de sua coleção, além de um computador, falando de forma apaixonada sobre seus caminhos na literatura.
"O escritório dele continua a mesma bagunça. Eu tinha que colocar ele no meio dos livros de novo. Como sabia que tinha aquela filmagem de 2008, tive a ideia de fazer do mesmo jeito, dez anos depois", explica Luci Alcântara, diretora do filme. "A greia é que tem coisinhas na estante que são iguaizinhas. Enquanto editava a gente se acabava de rir. E ai de você se quiser limpar aquela estante. Um dia eu o convenço. Mas eu queria essa porrada: de 2008 para 2018, bem visceral, como ele é", ressalta.
O documentário será exibido neste sábado (4), às 14h, no Cinema do Museu (Casa Forte), acompanhando o lançamento de "Condenados à vida", que reúne quatro livros de Carrero: "Maçã agreste" (1989), "Somos pedras que se consomem" (1995), "O amor não tem bons sentimentos" (2008) e "Tangolomango" (2013). A edição - publicada pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), já foi lançada durante a Flip, em Paraty, e no FIG, em Garanhuns - agora chega ao Recife.
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"Ano passado Carrero fez 70 anos. Em dezembro, o governo definiu que de 2018 seria um ano de homenagens a ele. Então, levei a ideia desse filme para a Cepe e [Ricardo] Leitão [presidente da Cepe] topou", explica a diretora. "Não é uma superprodução. Filmei durante três dias. Tive que ser econômica nas locações, já que ele não pode estar para cima e para baixo. Filmamos na casa dele, no Centro Cultural Raimundo Carrero e na APL [Academia Pernambucana de Letras]", detalha.
A relação de Carrero com o cinema de Luci começou em 2009, com a adaptação do romance "Minha alma é irmã de Deus". "Ele tinha acabado de lançar o livro e a Bienal de Pernambuco o convidou para ser homenageado. Então, Carrero me ligou dizendo para eu transformar em curta-metragem. O livro ainda estava no prelo. Chamei atores, a Ateliê Produções, todo mundo que queria participar. A gente fez com o mínimo de dinheiro", lembra Luci.
Para este novo trabalho, a diretora apresentou a ideia para Carrero, que disse que ela poderia "fazer o que quisesse". "Durante as filmagens, ele me esculhambava de manhã, de tarde e de noite. Depois dizia 'Eu te amo!'. É porque eu gravava muito. Sou muito vampira. Filmo muito. Não se pode ser pirangueiro durante a captação", opina Luci. "O filme é todo Carrero. É uma fala que dói, que entra nas entranhas", ressalta.
Autor/personagem
Com o novo documentário e o curta de 2009, Carrero virou um personagem para um outro criador. "Saí um pouco de mim e assumi um outro caráter. Um outro personagem", diz Raimundo. "É uma tarefa complexa. Principalmente quando o criador também está em cena. Mas não é uma grande novidade, considerando que o personagem tem uma ligação grande com o próprio autor. É complexo e difícil, mas é minha vida: é o que sei fazer desde muito jovem", ressalta.
"Condenados à vida" reúne obras lançadas em diferentes décadas, unidas pela força lírica do universo de Carrero - personagens que compartilham uma noção visceral da existência. "Quando me sentei para escrever 'Maçã do agreste', já planejava uma tetralogia, com quatro romances. Cada romance seria dedicado a um personagem. Por isso, que só ao final de 'Tangolomango' é que considero a obra concluída", diz.

