Logo Folha de Pernambuco
televisão

Retrospectiva 2024: confira as melhores produções da teledramaturgia brasileira

A teledramaturgia quis olhar para trás e tentou repetir êxitos para garantir a continuidade e estabilidade da audiência

''Senna' da Netflix foi eleita a melhor série do ano''Senna' da Netflix foi eleita a melhor série do ano - Foto: Divulgação/TV Press

A televisão vive de fórmulas e formatos. Por isso, é fato que se algum produto faz sucesso, algumas variações do mesmo tema certamente serão encomendadas e exibidas na ânsia de explorar ainda mais o potencial popular da ideia. Em 2024, a teledramaturgia quis olhar para trás e tentou repetir êxitos para garantir a continuidade e estabilidade da audiência. Tendo como referência o remake de ''Pantanal'', que recolocou os números da faixa das nove nos trilhos, em 2022, o ano começou com a Globo revisitando o clássico ''Renascer''.

Apesar da repercussão mediana, foi nítido o capricho da produção, garantido sequências e atuações no tempo da delicadeza. De olho nos destaques do elenco, a lista anual de ''Melhores de TV Press'' consagrou Juan Paiva, Duda Santos e Enrique Díaz nas categorias ''Melhor Ator'', ''Melhor Atriz em papel Coadjuvante'' e ''Melhor Ator em Papel Coadjuvante'', respectivamente.

Seguindo pelas encomendas, uma novela como ''Volta por Cima'' não existiria sem o êxito de ''Vai na Fé'', de 2023. É nítido o objetivo da Globo de ter um sucesso às sete e acarinhar o público saudoso da trama de Rosane Svartman. Para sorte da emissora, a atual novela do horário consegue soar original e se diferenciar por conta da assinatura ousada de Claudia Souto, destaque na categoria ''Melhor Autora''. Na teoria, ''Garota do Momento'' poderia ser mais uma trama de época feita sob medida para o horário das 18h. Mas a verdade é que o atual título da faixa vai além ao ressignificar a luta do movimento negro em um Brasil que tentava se modernizar, um retrato importante e emocional criado pela mente criativa de Alessandra Poggi e que garantiu o posto de ''Melhor Novela'' da lista.

A força do streaming brindou o público com produções que evidenciam a força do audiovisual brasileiro. ''Melhor Série'' do ano, ''Senna'' celebra um dos grandes nomes do esporte brasileiro com visual robusto e na medida para, além de reavivar na memória do público os feitos do piloto (com alguma glamourização, é claro), propor uma nova onda de amor e admiração de sua memória.

Melhor Novela
''Garota do Momento'', da Globo


Tempo próprio
Apaixonada e entusiasta das novelas de época, o texto de Alessandra Poggi já tinha chamado a atenção por conta da alta carga dramática de tramas como “Os Dias Eram Assim”, que ela escreveu com Ângela Chagas, e “Além da Ilusão”. No ar com sua segunda novela solo e das seis, Poggi surpreende pela linguagem e escrita inspirada em “Garota do Momento”. Seguindo pela linha revisionista de séries estrangeiras como “Bridgerton”, “A Cor do Poder” e “Lupin”, a trama protagonizada pela decidida Beatriz, de Duda Santos, ressignifica a posição de pessoas pretas no Brasil dos anos 1950. Sem esconder ou amenizar as tensões raciais, a novela toca com fluidez em feridas que seguem abertas até hoje. Sem esquecer que folhetins também são para entreter, a produção ainda entrega atuações luminosas de nomes como Paloma Duarte, Lília Cabral e Fábio Assunção, entre outros.

Melhor Série
''Senna'', da Netflix 

Legado preservado

Perfilar personalidades em produções audiovisuais é sempre um risco. Além de um roteiro bem amarrado, que contemple as tantas fases e facetas de que está recebendo a homenagem, é preciso competência para manter a coerência estética e apelo popular. Superprodução da Netflix, “Senna” não se propõe a ser uma biografia fiel. Por isso, dribla polêmicas e investe em capricho técnico e estética elaborada. Ao passear pelos 34 anos de vida do piloto, a série emociona ao relembrar as vitórias, algumas histórias de bastidores famosas e a convivência com os principais nomes das pistas à época, casos de Niki Lauda, Gerard Berger e Alain Prost. Produzida pela Gullane e dirigida pelos ótimos cineastas Vicente Amorim e Julia Rezende, a minissérie faz valer seu investimento em sequências de velocidade muito bem realizadas, belíssima reconstituição de época e ótima edição ao longo de seis episódios.

Melhor Atriz
Andrea Beltrão, a Zefa de ''No Rancho Fundo'', da Globo

Tiro certo

Premiadíssima no cinema, no teatro e na tevê, Andrea Beltrão conquistou autonomia invejável ao longo de mais de quatro décadas de carreira. Tal independência, entretanto, acabou a afastando de produções de longa duração. O retorno às novelas em “Um Lugar Ao Sol”, de 2021, foi ofuscado pelas limitações da pandemia e problemas de audiência da trama de Lícia Manzo. Admiradora da autora, Andrea deu uma nova chance aos folhetins ao ser convidada para “O País de Alice”, que Manzo estava escrevendo para a Globo. Porém, a novela acabou cancelada e o elenco foi parcialmente realocado para “No Rancho Fundo”. Para sorte da própria atriz e do público, Andrea permaneceu no projeto e, ao viver a destemida Zefa Leonel, entregou uma atuação diferente de tudo o que ela já havia feito no audiovisual. Sempre ligada a papéis de humor ou de mulheres contemporâneas, a intérprete despiu-se de eventuais vaidades para compor os dramas e aventuras de uma matriarca do sertão.

Melhor Ator
Juan Paiva, o João Pedro de ''Renascer'', da Globo

Jeito próprio

Com a carreira em ascensão, faltava a Juan Paiva um personagem com o tamanho de seu talento e vontade de trabalhar. Esse papel chegou, enfim, com o carente João Pedro do remake de “Renascer”. Rejeitado pelo pai e sempre responsabilizado pela morte da mãe, o personagem ficou marcado pelo desempenho de Marcos Palmeira na versão original. Na atualização da novela, João Pedro ganhou mais camadas e nuances, o que deu a Juan a possibilidade de driblar possíveis comparações e seguir por uma atuação com mais autonomia e propriedade. Ao final do folhetim, Juan ainda foi um dos destaques do elenco de “Justiça 2”, onde vive o motoboy Balthazar. Sempre pronto para surpreender e entregar desempenhos além do óbvio, 2024 foi um ano importante para a consolidação de um novo galã da tevê.

Melhor Atriz coadjuvante
Duda Santos, a Maria Santa de ''Renascer'', da Globo

A hora da estrela

O ano de 2024 foi especial para Duda Santos. Apesar da pouca experiência em papéis de destaque, a atriz conseguiu dar conta de toda a expectativa em torno da mítica Maria Santa do remake de “Renascer”, da Globo. Assim como na primeira versão, a história de amor da mocinha com José Inocêncio, de Humberto Carrão, se mostrou poderosa e uma grande oportunidade para os atores mostrarem serviço. Com uma pegada mais forte e independente da personagem em mãos, Duda impressionou tanto pela entrega dramática quanto pela suavidade de seu desempenho. Como resultado, é justo o atual sucesso da atriz como a Beatriz, protagonista de “Garota do Momento”.

Melhor Ator coadjuvante
Enrique Díaz, o Firmino de ''Renascer'', da Globo

Pelas beiradas

Figura conhecida do público de tevê, o talento de Enrique Díaz por muito tempo esteve à disposição de personagens bem pequenos. Com talento para roubar a cena, a relação do ator com a televisão deu uma guinada a partir da minissérie “Felizes Para Sempre”, de 2015. Ao longo da última década, o ator viu os convites e oportunidades no vídeo crescerem, com direito a uma série de personagens de destaque, como o ambicioso Coronel Firmino do remake de “Renascer”. Contraditório, violento e divertido como todo bom vilão, o papel inédito na história foi um dos grandes momentos da primeira fase da novela e deu mais coerência à saga de José Inocêncio, de Humberto Carrão. Movimentado, o ano de 2024 ainda reserva outras surpresas para Díaz, que reviveu o esperto Timbó de “Mar do Sertão” nos capítulos finais de “No Rancho Fundo”, e agora está em cena como o contraventor Gerson de “Volta Por Cima”.

Melhor Autora
Claudia Souto, de ''Volta Por Cima'', da Globo 

Espelho popular

É notável o esforço de Claudia Souto para sair do lugar-comum a cada nova novela. Com resultados oscilantes, a novelista ambientou toda a trama do sucesso “Pega-Pega” em um hotel de luxo que foi alvo de um grande assalto. Quatro anos depois, apostou no aventureiro cotidiano dos dublês de ação para centralizar a trama da controversa “Cara e Coragem”. Agora, no mesmíssimo horário das sete, a autora deu um jeito de ir além da encomenda com “Volta Por Cima”. Clara tentativa da Globo de reviver o sucesso de “Vai na Fé”, de 2023, a assinatura de Souto consegue entregar uma visão menos óbvia do subúrbio e dos contrastes cariocas fugindo da fantasia das regiões mais nobres ou da violência extrema das zonas em conflito, a novelista se vale do tom mais leve da faixa e propõe ao público um passeio de ônibus por paisagens e situações cotidianas, tendo o próprio veículo como personagem e um dos principais cenários da trama. Conectada com o público e cheia de repertório, Souto se sobressai sem apelar para malabarismos.

Melhor Diretora
Natalia Grimberg, de ''Garota do Momento'', da Globo

Para valorizar

A história de Natalia Grimberg na Globo é de superação. Em um ambiente liderado em sua grande maioria por homens, ela conseguiu se sobressair e, aos poucos, vem criando sua marca como diretora artística de novelas. Ao longo de mais de duas décadas como contratada da emissora, começou com assistente de direção e passou pelas equipes de diretores como Carlos Manga, Amora Mautner e Denise Saraceni. Foi Saraceni, inclusive, que a incentivou a enfrentar os perrengues de um ambiente competitivo como a tevê e mostrar seu poder de realização. Depois de projetos de repercussão mediana, como “Cara e Coragem”, Grimberg experimenta o sabor do sucesso ao mostrar sua visão das décadas 1950 e 1960 em “Garota do Momento”. Atenta aos detalhes e disposta a emocionar, ela valoriza ainda mais o texto já inspirado de Alessandra Poggi e faz da atual novela das seis a carta de intenções de sua carreira.
       
Destaque Negativo
''Mania de Você'', da Globo

Porção de desinteresse

Depois de projetos mais pretensiosos que realmente interessantes, o nome de João Emanuel Carneiro seguia sem grande prestígio dentro da Globo, até que as viradas e o clima eletrizante de “Todas as Flores”, novela que saiu da fila do horário das nove e foi exibida pelo Globoplay, o reposicionou dentro da emissora. De volta à tevê aberta e ao horário mais nobre da programação, Carneiro apostou tudo em “Mania de Você”, trama carregada de todas as idiossincrasias de sua assinatura. O celebrado autor só não contava com a total apatia do público. Com repercussão aquém do esperado desde a primeira semana de exibição, a Globo já tentou de tudo para salvar a trama do fiasco, apelando para os clichês mais absurdos e promovendo viradas sem qualquer sentido. Cada vez mais distante de qualquer identificação com o público, “Mania de Você” segue pelo lento calvário do insucesso a caminho do fim.

Veja também

Newsletter