Banco Central divulga ata do Copom que manteve Selic a 15% pela 3ª vez
Sem indicação de queda, BC tem sido alvo de críticas do governo
O Banco Central (BC) divulgou nesta terça-feira a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada, em que decidiu manter a taxa Selic em 15% ao ano pela terceira vez consecutiva.
A decisão do Copom aconteceu apesar dos apelos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para cortes na taxa básica de juros. O nível, que foi alcançado em junho, é o mais alto desde julho de 2006, no primeiro mandato de Lula, e a estabilidade na última quarta-feira já era esperada de forma unânime no mercado financeiro.
No comunicado divulgado após a reunião da última quarta-feira, o BC sinalizou que os juros devem permanecer neste patamar por "período bastante prolongado" para alcançar a meta de inflação de 3,0%.
Por outro lado, a autoridade monetária afirmou categoricamente pela primeira vez que considera que o nível atual é suficiente para atingir esse objetivo.
"O cenário atual, marcado por elevada incerteza, exige cautela na condução da política monetária. O Comitê avalia que a estratégia de manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta", diz o comunicado da última quarta.
A postura dura do BC, mesmo com alguns sinais de moderação da inflação, tem aumentado as cobranças de integrantes do governo por uma redução de juros, inclusive Lula, responsável pela escolha de Gabriel Galípolo para presidência da autoridade monetária.
A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, fez críticas públicas ao presidente do BC na semana passada. O chefe do Executivo, por sua vez, tem focado as cobranças nos juros altos e disse recentemente que o BC “vai precisar começar a baixar os juros”. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também cobrou por cortes na taxa de juros, mas defendeu o trabalho de Galípolo no BC.
— Eu tenho uma proximidade muito grande com o Gabriel, foi indicado por mim para diretor do BC, e acredito que está fazendo um bom trabalho no BC, do ponto de vista de uma série de procedimentos que estão sendo adotados pelo BC para coibir uma série de abusos do sistema financeiro, que na verdade, ele herdou. Eu falo especificamente da regulação de fintechs que está sendo feita pelo BC, a mudança de crédito imobiliário — disse em entrevista à CNN nesta segunda.
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Projeções longe da meta
Um dos motivos que justificam a estratégia de manutenção são as estimativas de inflação, que continuam acima da meta, como mostram as projeções atualizadas do BC no cenário que considera a taxa Selic do Boletim Focus, de 15% no fim de 2025 e de 12,25% no encerramento de 2026.
No prazo em que o colegiado trabalha para colocar a inflação na meta, que agora é o segundo trimestre de 2027, a estimativa é de 3,3%. No Copom anterior, o foco era o primeiro trimestre de 2027 e a projeção era de 3,4%. Para o fim de 2025, a estimativa caiu de 4,8% para 4,6%, ainda acima do teto da meta, que é de 4,5%. Para o término de 2026, a projeção foi mantida em 3,6%.
Além das projeções de inflação elevadas, o colegiado citou que o cenário atual segue marcado por expectativas desancoradas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho.
"Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado", destacou o colegiado.

