Banco Central mantém Selic em 15% e diz que tarifaço reforça postura de cautela com juros
Na reunião anterior, em junho, o colegiado já havia antecipado uma interrupção do ciclo de alta de juros
O Banco Central colocou um ponto final no ciclo de alta da taxa Selic e manteve os juros básicos em 15% ao ano no Comitê de Política Monetária (Copom) desta quarta-feira. O processo de aumento de juros, iniciado em setembro, elevou a Selic em 4,50 pontos percentuais, levando a taxa ao maior patamar desde julho de 2006.
No comunicado, o BC destacou que acompanha, com "particular atenção", os anúncios referentes à imposição pelos EUA de tarifas comerciais ao Brasil e que a medida reforça a "postura de cautela em cenário de maior incerteza".
A decisão do Copom já era amplamente esperada pelo mercado financeiro. Todas as 123 instituições consultadas pelo Valor Pro projetavam a estabilidade da Selic em 15%. Na reunião anterior, em junho, o colegiado já havia antecipado uma interrupção do ciclo de alta de juros.
"Em se confirmando o cenário esperado, o Comitê antecipa uma interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados, e então avaliar se o nível corrente da taxa de juros, considerando a sua manutenção por período bastante prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta", disse o Copom, em junho.
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De lá para cá, os dados de inflação e atividade deram sinais de alívio para o BC, mas com as projeções inflacionárias ainda longe da meta. A meta é de 3,0% com intervalo de tolerância de 1,5% a 4,5%.
Para além disso, a incerteza no cenário econômico aumentou, sobretudo após a adoção de um tarifaço dos Estados Unidos contra produtos brasileiros. Nesse contexto, o tom conservador da autoridade monetária se mantém adequado, dizem os economistas.
As expectativas de inflação para o fim de 2026, atual prazo que o BC trabalha para colocar o IPCA na meta, recuaram pela primeira vez, de 4,50% no último Copom para 4,44%. Para 2025, também houve nova queda, de 5,25% para 5,09%. A projeção oficial do BC era de 4,9% para 2025 e 3,6% para 2026 no último Copom.
Em carta endereçada ao Ministério da Fazenda para justificar o descumprimento da meta de inflação em junho, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, disse que espera que o IPCA volte aos limites da meta no primeiro trimestre de 2026. Mas, segundo as estimativas indicadas no Relatório de Política Monetária, o BC não consegue chegar a 3,0% até o fim de 2027, cuja projeção é de 3,2%.
Em declarações públicas, porém, Galípolo e os diretores do BC argumentaram que o Copom avalia outras trajetórias para a Selic diferentes da Focus e que levam a inflação à meta de 3,0%.
"O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho. Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado", disse, no comunicado de junho.
— Dentro da projeção (de inflação), estamos colocando uma curva de juros, que é a que está no Focus. Existem vários caminhos para a gente atingir o centro da meta, que é obviamente a meta, somos absolutamente comprometidos com ela. Nossas ações falam por si pela tamanho do ajuste restritivo feito na política monetária nos últimos meses.
Em relação ao cenário internacional, na última reunião, o colegiado havia manifestado que tinha mostrado uma leve melhora, com a reversão parcial das tarifas do Estados Unidos sobre a China. Na época, porém, o presidente Donald Trump não havia avisado sobre a taxação dos produtos brasileiros.
Nesta quarta-feira, o governo americano oficializou a adoção de uma tarifa de 50% sobre as compras do Brasil daqui a 7 dias, mas com centenas de exceções, que incluem suco de laranja, aviões, aço e combustíveis.

