Brasil é o único taxado com déficit com os EUA. Americanos pagarão mais por carne, café e chocolate
Exportações brasileiras somaram US$ 1,4 bilhão em carne e US$ 2 bilhões em café. Rebanho bovino nos EUA está no menor nível desde 1950 e preços já estavam altos
O anúncio de que vai taxar o Brasil em 50% feito nesta quarta-feira pelo presidente americano Donald Trump, além de incomum por relacionar o comércio com questões políticas, é atípico por atingir um país que tem déficit no comércio com os Estados Unidos.
O Brasil está entre os 20 maiores parceiros comerciais dos EUA. Dos outros sete países citados nos anúncios de Trump na quarta-feira, apenas as Filipinas — que enviaram cerca de US$ 14,1 bilhões em mercadorias aos EUA no ano passado — figuram entre os 50 maiores.
Enquanto quase todos os outros apresentam grandes superávits, o Brasil mantém um déficit comercial com os EUA. Em 2024, o Brasil importou cerca de US$ 44 bilhões em produtos americanos, enquanto as importações dos EUA provenientes do Brasil somaram aproximadamente US$ 42 bilhões, segundo as estatísticas americanas.
As importações provenientes dos seis países restantes, somadas, totalizaram menos de US$ 15 bilhões no ano passado, sendo que o Iraque — exportador de petróleo bruto — respondeu por cerca da metade desse valor.
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Com o rebanho bovino americano no menor nível desde a década de 1950, os frigoríficos têm dependido mais do fornecimento de países como o Brasil e os preços das carnes têm subido. Em 2024, cerca de US$ 1,4 bilhão em carne bovina foi importado do Brasil pelos EUA, sendo que os embarques realizados nos primeiros cinco meses de 2025 também superaram o mesmo período de 2024.
E, embora Brasil e EUA sejam concorrentes em alguns mercados agrícolas, o país sul-americano também produz produtos tropicais como café e cacau, que não podem ser cultivados no território continental dos EUA.
Os EUA importaram quase US$ 2 bilhões em café do Brasil no ano passado, segundo o Departamento de Agricultura americano.
"Produtos siderúrgicos, equipamentos de transporte, principalmente aeronaves e peças de aeronaves, máquinas especializadas, como equipamentos de engenharia civil, e minerais não metálicos representam uma parte significativa das exportações brasileiras para os EUA" disse Felipe Arslan, CEO da Morada Capital.
Além das repercussões econômicas, analistas manifestaram preocupação com as implicações políticas das tarifas. Os Estados Unidos e o Brasil são parceiros históricos que, por muito tempo, mantiveram relações sólidas, mesmo quando liderados por presidentes com diferenças ideológicas — uma dinâmica que o anúncio de Trump ameaça colocar em risco.
"Não se trata apenas de comércio bilateral — disse Solange Srour, chefe de macroeconomia do Brasil no UBS Global Wealth Management." Essas tarifas demonstram que nossas relações entre os países como um todo, institucionalmente, estão degradadas e prejudicadas. Uma tarifa de 50% é algo que, em muitos casos, pode tornar as exportações inviáveis.

