Brasil vê chance de retomar espaço no mercado americano de café com alívio tarifário de Trump
Presidente americano não mencionou o país, mas exportações veem possibilidade com expectativa
Interlocutores do governo e do setor privado estão otimistas com a possibilidade de que a redução de tarifas mencionada por Donald Trump inclua também o café brasileiro, ainda que o país não tenha sido citado nominalmente.
Integrantes da gestão Lula e executivos pontuam que a medida seria parte do esforço da Casa Branca para conter a inflação nos Estados Unidos, reduzindo o custo de importações de produtos de consumo popular.
Em entrevista à Fox News, Trump afirmou que há “problemas pontuais” na economia americana e indicou a possibilidade de reduzir as taxas.
— Estamos indo fenomenalmente bem, esta é a melhor economia que já tivemos. A única coisa (único problema) é a carne. A carne está um pouco alta porque os pecuaristas (americanos) estão indo bem (com as restrições à importação). Café, nós vamos reduzir algumas tarifas e teremos algum café vindo (sendo importado) — afirmou Trump, acrescentando que fará mudanças "cirúrgicas" nas tarifas e que o curso dos preços nos EUA é de queda.
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O diretor executivo da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), Vinicius Estrela, avalia que o Brasil poderá se beneficiar caso os Estados Unidos confirmem a redução das tarifas sobre o café.
A possibilidade foi mencionada na terça-feira pelo presidente Donald Trump, e reforçada nesta quarta-feira pelo secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, que afirmou que devem ser reduzidas as tarifas de café e frutas, em referência à revisão de parte do pacote tarifário imposto pelo atual governo.
O tarifaço de Trump atingiu uma ampla gama de produtos e serviços brasileiros: além do café, suco de laranja, frutas, pescados, máquinas e equipamentos industriais. As sobretaxas, que chegam a 50%, reduziram a competitividade de exportadores brasileiros em um dos principais mercados do mundo.
Apesar disso, Estrela vê condições favoráveis para uma retomada. Segundo ele, “outras origens estão mais caras do que o Brasil”, o que abre margem para uma recuperação das exportações.
— Os preços internacionais estão em alta, os estoques americanos estão baixos e há indisponibilidade de café em outras origens no volume necessário. O Brasil está pronto para responder rapidamente caso o alívio tarifário se confirme. O café brasileiro tem qualidade e escala para atender o mercado americano, que falta é um ambiente comercial previsível — explica.
Estimativas do mercado mostram que o café brasileiro atendeu a um terço do total consumido nos EUA em 2024. Com o tarifaço, que entrou em vigor em agosto deste ano, as exportações do produto para os Estados Unidos caíram 53% em setembro de 2025 em comparação com o mesmo período de 2024, totalizando 333 mil sacas.
Maior consumidor mundial de café, os EUA compram em torno de 24 milhões de sacas por ano. O Brasil, enviou 8,1 milhões de sacas ao mercado americano em 2024, o que gerou uma receita próxima de US$ 2 bilhões.
Enquanto o setor tenta se reorganizar, o governo brasileiro busca um entendimento mais amplo com Washington. Além de negociar o fim da sobretaxa, o Brasil pressiona pela revogação de sanções impostas a cidadãos brasileiros, entre eles o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, e tenta evitar novas punições no âmbito da Seção 301 da Lei de Comércio dos Estados Unidos.
A Seção 301 é um instrumento que permite ao governo americano retaliar países cujas práticas sejam consideradas “injustificáveis ou discriminatórias” contra empresas dos Estados Unidos. A investigação aberta contra o Brasil abrange temas como comércio digital, serviços financeiros, meios de pagamento, tarifas preferenciais e até o uso do Pix como meio de pagamento instantâneo. Se confirmadas as acusações, novas medidas punitivas podem ser adotadas, ampliando a tensão comercial.

